Não será possível nadar ou pescar no rio Tietê tão cedo, mas, de acordo com Natália Resende, secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo, o esgoto vai parar de chegar ao maior curso d’água paulista até 2029, antes da meta de universalização do saneamento, marcada para 2033. Investimentos de R$ 233 milhões recebidos pelo projeto Integra Tietê permitiram antecipar a data. “Trata-se de um rio urbano, então não esperamos poder beber a água até lá, mas certamente estará mais límpido e com menos odor”, diz a secretária.

As obras incluem cinco estações de tratamento, aumentando a capacidade produtiva de 24 m3 por segundo para 40 m3 /s.

Outra frente de trabalho é no controle de cheias, com desassoreamento do leito do rio. Resende informa que foram retirados 1,4 milhão de m3 de sedimentos dos rios no último ano, sendo cerca de 1 milhão de m3 do Tietê, com previsão de retirada de mais 700 mil m3 do Pinheiros – que deságua no Tietê na zona sul da capital – até o fim de 2025.

Dados da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), coletados no monitoramento da qualidade da água em quatro pontos de amostragem e em mais 17 afluentes ao longo da Bacia do rio Pinheiros apontaram melhora no Índice de Qualidade das Águas (IQA) entre 2020 e 2023 e também no registro de Carbono Orgânico Total (COT), que mede a quantidade de efluentes sanitários ou industriais na água.

“Estamos seguindo, para o Tietê, o modelo de despoluição bem-sucedido praticado no Pinheiros”, diz a secretária. “Em um rio com 250 quilômetros de extensão [trecho do alto Tietê], que passa por 39 municípios, incluindo a região metropolitana de São Paulo, já temos notado melhoras.”

Para Paula Violante, diretora da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), o projeto de revitalização do Pinheiros, é um caso bem-sucedido. “Além de levar o ciclo completo de saneamento a cerca de 650 mil imóveis nessa bacia, trouxe uma expertise na gestão de contratos por resultados e em soluções inovadoras de engenharia que ampliam a perspectiva de atendimento a áreas vulneráveis e de ganho da qualidade de vida ocasionado pela transformação socioambiental”, afirma.

SP Esgoto Tietê

Atualmente, é possível notar a volta de peixes e aves em córregos da bacia e em trechos do Pinheiros. “A Sabesp investirá aproximadamente R$ 7 bilhões no período 2023/2026 em obras de ampliação da capacidade nas estações de tratamento de esgoto (ETEs). Mais de 4 milhões de pessoas serão beneficiadas”, diz.

Apesar do otimismo oficial, a Fundação SOS Mata Atlântica não enxerga melhorias tão significativas. “A qualidade das águas dos rios que atravessam São Paulo só está menos ruim”, afirma Gustavo Veronesi, coordenador da causa Água Limpa na organização.

Análise de Água

Segundo o relatório Observando os Rios 2024, no qual a ONG retrata a qualidade da água nas bacias hidrográficas da Mata Atlântica. 14 pontos (8%) estão com média de qualidade boa; 134 (77%) regular; 21 (12,1%), ruim e cinco (2,9%), péssima. O estudo analisou amostras de 129 rios e corpos d’água em 80 municípios de 16 Estados que estão no bioma da Mata Atlântica. O dado positivo é a queda na porcentagem de médias de qualidade de água ruim e péssima em relação ao período anterior, que passou de 18,2% para 15%.

“Os rios da Mata Atlântica ainda estão longe de uma situação aceitável, sem qualidade ótima em nenhum ponto. Isso demanda atenção dos gestores públicos e da sociedade para a condição frágil dos recursos hídricos, especialmente neste momento de emergência climática”, afirma Veronesi. “Precisamos urgentemente começar a aplicar as soluções baseadas na natureza, como a criação de parques lineares, que ajudam no equilíbrio térmico, trazem de volta flora e fauna, colaboram para evitar enchentes e ainda proporcionam áreas de lazer para a população.”

O engenheiro ambiental Caio Fontana, pesquisador da Fundação Vanzolini, aponta outro problema a ser resolvido no caminho da despoluição dos rios: a educação ambiental contínua. “É descomunal o volume de lixo retirado nas dragagens das águas pluviais. De uma infinidade de garrafas PET a geladeiras, televisores e até carcaças de carros”, diz.

Fontana cita o caso do rio Sena, cuja despoluição para a Olimpíada de Paris não foi satisfatória. E diz que zerar o esgoto lançado é uma meta importante, mas não basta. “O trabalho dos governos, com atenção especial dos municípios, precisa ser constante. Não adianta ter um trilhão de dólares. Se as pessoas continuarem a jogar lixo na rua, o problema voltará.” (Valor)