Confira a entrevista com Joan Miquel Garcia Martinez,
gerente de projeto da Arfinio, Covestro Deutschland AG
Uma coisa só é impossível enquanto você não tenta. A Covestro tentou – e conseguiu. A empresa desenvolveu a nova tecnologia de manufatura Arfinio, a primeira aplicação que permite a moldagem por injeção e reação (RIM) de poliuretanos alifáticos. Isso representa um significativo avanço na fabricação de superfícies sólidas. Joan Miquel Garcia Martinez explicou por que isso era considerado impensável e por que agora funciona
– Por favor, explique brevemente qual foi o avanço desta pesquisa
Garcia Martinez: O Arfinio é um material novo e inovador, e também uma nova tecnologia de manufatura: um solid-surface (superfície sólida que se assemelha, artificialmente, à pedra), resultado da combinação de minerais diferenciados e poliuretano alifático (ALI PUR), fabricado com tecnologia RIM (moldagem por injeção e reação). É leve, mas altamente resistente (com todos os benefícios da química do poliuretano como solidez à luz), respirável e reciclável. O Arfinio é o primeiro material leve desse tipo, o primeiro material a ser fabricado com polímeros ALI PUR e a primeira experiência de processamento do ALI PUR através do RIM
– Por que o processo RIM foi considerado impossível com o ALI PUR até agora?
Garcia Martinez: o RIM tem sido usado por décadas com poliuretanos aromáticos (ARO PUR), que têm um tempo de reação muito maior do que o ALI PUR. A reatividade reduzida do ALI PUR leva a sérios defeitos de superfície, devido ao encolhimento do material durante a reação.
Por décadas, diferentes empresas – incluindo a Covestro – tentaram sem sucesso encontrar uma forma de processar o ALI PUR com RIM. Dessa forma, assumiu-se que era impossível. Graças a nossa parceria com a Arcesso Dynamics, agora conseguimos encontrar uma maneira de usar o RIM com um sistema ALI PUR que não gera defeitos. Trata-se de um processo modificado que também permite um ciclo de tempo mais rápido (de desmoldagem)
– Como você conseguiu superar esse desafio?
Garcia Martinez: Não podemos fornecer detalhes específicos do processo de fabricação, uma vez que são detalhes sensíveis da manufatura. Mas o maior desafio foi esquecer tudo o que já sabíamos sobre o RIM e redescobrir completamente essa tecnologia.
Tínhamos diversos desafios e um conjunto determinado de tecnologias, e desafiamos tudo o que acreditávamos para descobrir o que era relevante na tecnologia e o que precisava ser diferente.
Num determinado momento, entendemos o que acontecia no molde, de que forma e por quais motivos, e desenvolvemos o conceito. Em seguida, começamos a brincar com todos os elementos relevantes, não só com a fórmula, a fim de dominar e controlar ainda mais o processo.
Existia, ainda, um desafio adicional: a forma atual de se trabalhar com o ARO PUR leva em consideração que os defeitos da superfície podem ser masseados e escondidos durante a pintura. No nosso caso, para se produzir um monomaterial, precisávamos de peças perfeitas. Isso também despertou a nossa ambição de controlar o processo em um nível sem precedentes.
O que faz do Arfinio um material especial?
Garcia Martinez: Mencionei a leveza. Essa é uma característica bem relevante, uma vez que reduzir a quantidade de material usado para se produzir peças é a forma mais eficiente de reduzir a pegada de carbono. Isso não significa que o Arfinio é um material fraco – é justamente o oposto. Ele tem resistências química e mecânica muito altas, incluindo excelente resistências à abrasão e ao impacto, o que tem relação direta com sua durabilidade.
Além disso, o Arfinio pode ser reparado e reciclado por meio de moagem no final de sua vida útil, e ser adicionado em formulações como uma carga mineral. Existem propriedades que o tornam especial como, por exemplo, sua resistência ao deslizamento em banheiras e pisos de box, como também sua capacidade de isolamento que podemos alcançar graças a sua estrutura dupla. As peças em Arfinio têm duas densidades diferentes: consistem de um núcleo leve e uma pela não porosa de dois milímetros de espessura, ambas fabricadas em uma única etapa, do mesmo material.
Joan Miquel Garcia Martinez e Fernando Simón, gerente de desenvolvimento tecnológico do projeto Arfinio na Covestro, com os fundadores da Arcesso Dynamics, Ernest Montón (CEO) e Marisa Conte (CFO). Imagem: Covestro.
– O que o novo material torna possível e que não era possível antes?
Garcia Martinez: Acreditamos que o Arfinio permite possibilidades de se industrializar projetos que, até agora, eram extremamente complexos de serem produzidos em série. Um dos benefícios da tecnologia Arfinio é que qualquer detalhe adicionado ao projeto é simplesmente considerado no design do molde, de forma que a complexidade da peça não adiciona etapas no processo, nem se traduz em tempo de produção mais longo.
O material também pode ser usado em aplicações nas quais o baixo peso é muito importante. Também é adequado para aplicações nas quais é preciso uma peça sem emendas para se evitar fragilidades estruturais. Até o momento, a maior parte das peças possui juntas, que enfraquecem a estrutura, mesmo que não sejam visíveis.
– Qual o potencial futuro para superfícies sólidas com a utilização do Arfinio?
Garcia Martinez: No futuro, acredito que muitas aplicações, que hoje usam outros materiais, utlizarão solid surfaces. E sua participação aumentará bem em aplicações que já existem atualmente. O Arfinio permite que designers, arquitetos e marcas no geral revisitem aplicações que não eram possíveis.
Apenas para dar um exemplo, podemos citar a mobilidade. Existe uma tendência que os veículos sejam uma extensão de nossas salas, e este material será importante para minimizar o peso a fim de reduzir o consumo de energia. Acredito que o Arfinio e outros materiais sustentáveis e inteligentes serão parte dessas “salas com rodas”. E, num futuro próximo, tenho certeza de que você se surpreenderá com as novas aplicações das superfícies sólidas que estamos desenvolvendo com o Arfinio! (K-Mag)