A reciclagem dos plásticos é uma tendência que, no caso do acrílico, ajuda a evitar não apenas que peças antigas do material sejam descartadas sem aproveitamento, mas que permite ao consumidor final economizar; no entanto, empresas alertam para as diferenças entre os produtos e dizem que a melhor escolha está relacionada à aplicação

A demanda por chapas acrílicas feitas a partir de acrílico reciclado ainda é pequena, comparada com a demanda por chapas originais ou virgens, mas esse é um mercado que promete crescer, acreditam produtores do produto no país. Na Bold, empresa fornecedora de chapas acrílicas com sede em Santa Catarina, que lançou sua versão de chapas feitas a partir de material reciclado – a EcoBold – em março deste ano, as vendas do produto verde já representam 5% do volume de suas vendas. O que, para o diretor da empresa Ralf Sebold, é uma proporção significativa e que representa um aumento relativamente grande desse mercado – “A expectativa é de que esse segmento continue crescendo, já que existe um aumento também da preocupação do consumidor em relação ao meio ambiente”. Sebold explica que é justamente essa preocupação que tem direcionado empresas a incluir materiais mais sustentáveis em seus portfólios, além de fazer com que invistam na profissionalização e em tecnologias capazes de proporcionar produtos reciclados com características, inclusive estéticas, cada vez mais semelhantes às oferecidas pelo produto feito a partir de material original.

Há mais tempo neste mercado, a Castcril oferece aos seus clientes as chapas Green Cast. Segundo William Oliveira, diretor da empresa, o reaproveitamento de materiais, principalmente do plástico, é uma tendência mundial, que vem sendo liderada principalmente pelos países europeus. Por aqui, apesar de esse ainda ser um comportamento menos incorporado ao mercado, essa é uma tendência que veio para ficar. No entanto, alerta ele, sua incorporação seria mais fácil e rápida, tivesse o Brasil políticas de incentivo à reciclagem e reaproveitamento de materiais: “O que retarda o desenvolvimento deste mercado no país é a falta de políticas públicas de incentivo, inclusive para a produção e comercialização desses produtos”. Outro fato que tende a limitar o desenvolvimento desse mercado, conta Oliveira, está diretamente atrelado a falta de qualidade de alguns produtos oferecidos no mercado: “Alguns produtores não investem em qualidade e isso faz com que parte do mercado ainda tenha a imagem de que o produto reciclado não tem qualidade, o que bloqueia sua maior inserção no mercado”, explica o executivo.

O preço mais baixo que o da chapa feita com material virgem é um dos fatores que, segundo Ralf Sebold, contribuem para a venda das chapas acrílicas ecológicas. No entanto, diz ele, elas ainda não oferecem a mesma qualidade técnica ou durabilidade das chapas originais e é preciso que as empresas deixem isso claro ao consumidor. “Tivemos muito cuidado no lançamento do nosso acrílico EcoBold e sempre deixamos o cliente consciente das diferenças deles e das aplicações mais indicadas para cada tipo”, explica o executivo. Ainda segundo ele, conscientizar o cliente dessas diferentes aplicabilidades não tem sido tarefa fácil, o que faz com que o material sustentável seja usado de forma generalista e, não atendendo as expectativas do cliente, acaba por comprometer também a imagem do acrílico como um produto de excelência. “Nosso maior foco é no acrílico virgem, porque entendemos que é um material que traz sofisticação, alta qualidade e agrega valor a marcas e produtos. Já o material reciclado, tem uma vida útil menor, o que o torna suscetível ao amarelamento quando exposto ao sol, por exemplo, por isso o indicamos apenas para aplicações internas e em produtos de menor valor agregado”.

Também na Castcril, as chapas ecológicas são oferecidas como opções viáveis apenas para projetos de interiores. No entanto, em parte porque foi difícil segurar os preços desses produtos, já que os valores das sucatas subiram demasiadamente neste ano, esse mercado experimentou, em 2022, uma queda nas vendas: “O mercado de chapas acrílicas ecológicas de 2022 foi menor do que o do ano anterior”, diz Oliveira. No entanto, o diretor da empresa se diz otimista ante a 2023: “Os custos da sucata estão retornando aos patamares normais e os problemas de abastecimento serão resolvidos muito em breve. Assim, logo, devemos retomar o mercado perdido”, acredita.

Além da Bold e da Castcril, ressalta João Orlando Vian, consultor executivo do ILAC (Instituto Latino-Americano do Acrílico) há em toda a América-Latina outras empresas produtoras e/ou fornecedoras de chapas feitas a partir de material reciclado, o que confirma a potencialidade do produto. A brasileira SheetCril é uma delas. Vian destaca ainda que, um quilo de chapa acrílica ecológica representa cerca de dois quilos a menos de sucata acrílica nos processadores.

 

A reciclagem como via única

Para Ralf Sebold, a reciclagem é um caminho sem volta e uma tendência mundial. Ele esteve presente na Feira K 2022, realizada na Alemanha em outubro deste ano, e conta que o que antes era apenas uma postura institucional, que se fazia presente nas paredes dos estandes das empresas, hoje é uma realidade incorporada aos produtos, maquinários e processos apresentados. A reciclagem é ponto chave para o setor de plástico. Interessante, diz ele, é que nem mesmo fatores como a guerra entre Rússia e Ucrânia, pandemia ou custo da energia sendo pressionada mundialmente, têm feito com que esse movimento seja interrompido: “Reciclar utiliza muito mais energia do que extrair e aplicar o material virgem. E, mesmo com essas nuances, há um retrocesso desse movimento. Mostrando que a reciclagem veio para ficar”, diz Sebold. Para o executivo, tal movimento oxigena todo o setor de plásticos e coloca o plástico no posto que merece, de um produto “fundamental para a industrial e para o dia das pessoas, em suas mais variadas aplicações”, inclusive no que diz respeito ao acrílico.

Em 2020, aponta levantamento da Abiplast (Associação Brasileira da Indústria do Plástico), foram produzidos no Brasil 884 mil toneladas de produtos com plástico reciclado pós-consumo.

Mais sobre o ILAC

O ILAC – Instituto Latino-Americano do Acrílico é fruto do trabalho de integração das empresas do setor de acrílico na América Latina e tem como objetivo inicial a troca de informações e conhecimento sobre aplicações finais e processamento do acrílico em cada um dos países que participam do grupo. O Instituto segue as premissas do seu antecessor INDAC, que há mais de 20 anos atua para gerar negócios e difundir o acrílico como matéria-prima diferenciada.

Atualmente, 35 empresas são associadas ao ILAC, que deve crescer ainda mais em 2022. Entre elas: Acrilaria, Acriresinas, Acrílico Design, Acrilmarco, Acrimax, Acrinox, Acriplanos, Acryflon, Actos, Art Cryl, Bold, Brascril, Campion, Castcril, Cobertura Telescópica, Cristal e Cores, CutLite, Emporium, Day Brasil, Inkcryl, JR Laser, Menaf, Mitsubishi Chemical, Osvaldo Cruz, Proneon, Sheet Cril, Tronord, Tudo em Acrílico, Unigel, Viella Design e Work Special, juntam-se ao quadro as empresas Paolini e Lamanna, da Argentina, Formaplax, da Colômbia e Induacril do Chile.

Para saber mais sobre o ILAC, acesse: www.ilac-acrilico.org ou ligue para (55) 11-3171.0423.