Uma aposta por um jantar, quase trinta anos atrás, foi o passo inicial para uma parceria duradoura da Petrobrás com a PUC-Rio. Quem conta essa história é o professor Jean Pierre Von Der Weid, do  Centro de Estudos em Telecomunicações (CETUC) da universidade carioca e pesquisador do Centro de Pesquisa em Tecnologia de Inspeção (CPTI). No início dos anos 2000, a Petrobrás fechou uma parceria com este centro de pesquisa e foi a partir desse convênio que Von Der Weid começou seu projeto “Sistema autônomo de limpeza e inspeção de risers (AURI)”. O pesquisador desenvolveu junto a sua equipe três robôs para limpeza e inspeção de dutos verticais, com o objetivo de baratear e automatizar esse tipo de tarefa. Um desses robôs é completamente autônomo, podendo ir até 3 mil metros de profundidade, com movimentação a partir da flutuação positiva e negativa. Os resultados alcançados gabaritaram o projeto para a final do Prêmio da Agência Nacional do Petróleo (ANP) de Inovação Tecnológica 2015. A disputa pelo título, no entanto, será acirrada, concorrendo, inclusive, com outro pesquisador da PUC-Rio, o professor Sergio Fontoura, responsável pelo projeto “Efeitos geomecânicos em reservatórios e rochas adjacentes causados pela produção – Fase II”.

Há quanto tempo vem sendo desenvolvido esse projeto?

Esse projeto já vem sendo desenvolvido há alguns anos. Nós começamos a desenvolvê-lo em parceria com o Centro de Pesquisas Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes) da Petrobrás há quatro anos atrás, mas entre dois e três anos atrás foi fechado um convênio específico com o centro para este projeto.  A assinatura deste acordo só aconteceu porque os primeiros experimentos, realizados ainda com um contrato prévio, tiveram resultados bem satisfatórios.

Como foi o processo para esse acordo com a Petrobrás?

Esse tipo de convênio vai além da instituição científica e da concessionária, havendo a participação da Agência Nacional do Petróleo (ANP) intermediando. Tivemos que nos reunir com a ANP para mostrar que não se trata apenas de um brinquedo complicado, mas de uma realidade que pode trazer resultados bastante satisfatórios. A PUC-Rio e o Centro Técnico Científico da instituição (CTC/PUC-Rio) têm tradição em transferência de tecnologia e isso foi exposto para agência autorizar a liberação da verba prevista na cláusula de PD&I.

Quais as vantagens de se utilizar o equipamento desenvolvido?

O equipamento serve para limpeza e inspeção de dutos verticais, mas, principalmente, para limpeza. Ao todo, três robôs foram projetados: um que inspeciona dutos em até 300m de profundidade, subindo e descendo com cabos umbilicais e trusters para autopropulsão; um robô autônomo que pode ir até 3 mil metros de profundidade, com movimentação a partir da flutuabilidade positiva e negativa; e um limpador de potência hidráulica com escovas rotativas para uso nos primeiros 50 metros dos dutos. A dificuldade para realizar inspeções com o equipamento é por conta da necessidade de utilização de câmeras de vídeos levadas por ROVs (Remotely Operated Vehicles, Veículos operados remotamente, em português) ou mergulhadores autônomos, o que acaba por encarecer muito o procedimento. Nossa ideia é baratear a automatizar, sem necessidade de mergulhador nenhum para lançamento ou operação da ferramenta.

Como é a relação com a Petrobrás no projeto?

A Petrobrás e a PUC-Rio já são parceiros há praticamente 30 anos. Começamos com alguns projetos pequenos, bastante específicos, até que um pesquisador do Cenpes lançou um desafio para nós. Um projeto bastante grande nos foi repassado e apostamos um jantar que seríamos capazes de entregar os resultados dentro do calendário proposto. Com o sucesso, passaram a surgir mais projetos e outros contratos. Especificamente com o Centro de Pesquisa em Tecnologia de Inspeção (CPTI), um convênio foi fechado no início dos anos 2000. Nessa época, foi feito um investimento em melhorias no laboratório, que acabou por consolidar um salto de volume de resultados. Acho que nessa parceria a Petrobrás já conseguiu receber retorno por todo o dinheiro que foi investido. Com as ferramentas que foram desenvolvidas, e não foram comercializadas, a estatal já economizou fortunas, com toda certeza. Este projeto mesmo, já gerou bastante economia, tendo sido testado com sucesso em plataformas de petróleo no Brasil desde o ano passado. Os resultados confirmaram que ela é até dez vezes mais produtiva quando comparada com os procedimentos normais de limpeza com mergulhadores.

Qual dos três robôs desenvolvidos foi mais desafiador?

O projeto como um todo ainda não está acabado. O mais desafiador foi o robô completamente autônomo, já que é mais complicado disponibilizar energia para operação, recuperação e propulsão. Para isso, temos que usar ao máximo o empuxo e a gravidade sobre o equipamento. Na realidade, ele acaba atuando como um submarino, que regula seu peso morto.

No edição do ano passado do Prêmio ANP a PUC-Rio saiu vencedora. Como é estar na final deste ano?

A Petrobrás está investindo pesado em projetos de técnicas de inspeção, como foi o caso do último ano. Esse tipo de projeto foi desenvolvido por outro grupo dentro da universidade e é muito importante, porque caso um riser venha a se romper é uma catástrofe ecológica enorme para se lidar. 

Como é competir contra um colega também da PUC-Rio?

Na realidade, eu acho ótimo. Qualquer um dos dois, se vier a se sagrar campeão, terá tido seus méritos para isso. Fico muito feliz pela instituição e não vejo de maneira alguma como uma competição entre nós dois. (Petronotícias)