Ainda que diante de um cenário econômico desafiador no país, a 2W Energia movimentará o mercado neste ano de 2021 com dois importantes empreendimentos eólicos. A companhia irá começar em até 90 dias as obras do Complexo Anemus, no Rio Grande do Norte, de 138 MW de capacidade, que deve gerar no pico da construção até 2.079 empregos diretos e indiretos. O investimento no parque somará R$ 650 milhões e faz parte da estratégia da 2W em ofertar valor para seus consumidores. Enquanto isso, a empresa também se prepara para começar a obra no projeto Kairós 1, de 42 MW de capacidade. O pontapé inicial na construção está previsto para o último trimestre do ano. Esse parque receberá investimentos totais de cerca de R$ 200 milhões, gerando 3.900 empregos diretos e indiretos (fases 1 e 2). “Do ponto de vista de capital, esse investimento é bastante vistoso, sem dúvida. Mas a principal estratégia da companhia é ser uma plataforma de relacionamento com o consumidor do setor elétrico”, disse o CEO da 2W Energia, Claudio Ribeiro. “Para nossa empresa ser essa plataforma de relacionamento, precisamos ter eficiência, competitividade, produto e inovação”, acrescentou. E por falar em inovação, o entrevistado também revelou o interesse da companhia em investir em novas fronteiras tecnológicas, como mobilidade elétrica, ciência de dados e armazenamento de energia. Ribeiro comentou ainda sobre suas perspectivas com o mercado livre de energia no Brasil e o resultado da divisão de varejo da 2W Energia – que fechou o primeiro trimestre com lucro bruto de R$ 23 milhões, um aumento de 215% frente ao trimestre passado.

Para começar a nossa entrevista, gostaria que comentasse um pouco sobre os resultados da recém criada divisão de varejo da empresa. Ao que atribui o crescimento considerável registrado no primeiro trimestre?

Eu atribuo esse crescimento a uma estratégia de posicionamento de mercado. A 2W vem inovando e se antecipando, seja através de relacionamento digital ou através da grande rede de agentes autônomos que estamos formando no Brasil inteiro para tentar levar informação às pessoas. Informação é poder e estamos democratizando isso. Ainda tem muita gente com poucas informações e com pouco acesso ao entendimento do que é o mercado livre e suas oportunidades.

O crescimento da geração distribuída nada mais é que o consumidor expressando o desejo de gerir seu consumo e ter um pouco mais de autonomia. Então, um dos nossos pilares é tentar aproximar-se desses consumidores do setor elétrico, principalmente os de média e alta tensão. Eu tenho uma crença de que o Brasil terá um processo de liberalização do setor. Por isso, estamos entrando naquilo que chamamos de varejo, que ainda não é um varejo de baixa tensão. Algum dia, em breve, ainda será.

De fato, esse grande crescimento [da divisão de varejo] mostra nada mais além que esse consumidor está procurando alguém que lhe ofereça uma outra alternativa. Obviamente que, nesse primeiro trimestre, a nossa base de comparação era muito pequena, porque começamos esse movimento no último trimestre do ano passado.

Eu vejo que, efetivamente, temos um oceano azul para informar esses pequenos e médios consumidores de energia que estão procurando alguém que possa explicar o que acontece no setor elétrico. Até então, a única interação dele [com o setor] era pagar uma fatura na distribuidora no final do mês.

Tendo em vista essa demanda dos consumidores por uma energia mais barata, o segmento de varejo pode se tornar um foco da estratégia de crescimento da 2W?

O foco da companhia é ser uma plataforma integrada de relacionamento com o consumidor do setor elétrico. Hoje, ele pode eventualmente consumir só energia, mas no futuro ele pode consumir a energia e algo a mais, como serviços, crédito ou  consórcio, por exemplo. Para nossa empresa ser essa plataforma de relacionamento, precisamos ter eficiência, competitividade, produto e inovação. Por isso, estamos posicionando a companhia nesse sentido.

Um dos movimentos mais vistosos, do ponto de vista de capital, é o fato de a 2W estar investindo em geração. Nos próximos dois anos, vamos investir aproximadamente R$ 1 bilhão em dois projetos eólicos: um no Rio Grande do Norte e outro no Ceará. Vamos começar a obra agora no Rio Grande do Norte, enquanto a do Ceará será iniciada no segundo semestre. Isso é um meio para ofertar valor para o consumidor. Ter geração própria nos possibilita oferecer produtos de longo prazo para o consumidor de energia.

Do ponto de vista de capital, esse investimento é bastante vistoso, sem dúvida. Mas a principal estratégia da companhia é ser uma plataforma de relacionamento com o consumidor do setor elétrico.

Aproveitando que mencionou os projetos de geração da 2W, poderia nos atualizar sobre o cronograma da obra da usina no Rio Grande do Norte?

Esse projeto, que se chama Anemus, ficará localizado em Currais Novos (RN). Terá 138 MW de capacidade instalada e um investimento de R$ 650 milhões. O empreendimento está sendo financiado por recursos da 2W Energia, do Darby International Capital, além de recursos de uma debênture de 18 anos que está sendo intermediada pelo BTG Pactual. O projeto está totalmente financiado.

Já contratamos a WEG como provedora dos equipamentos, em um contrato de R$ 470 milhões. Serão 33 aerogeradores que já começaram a ser mobilizados na fábrica de Jaraguá do Sul. Estamos fechando agora, com outro provedor, a parte do BoP [Balance of Plant Equipment] civil e eletromecânico. A expectativa é que o projeto comece a mobilização de obras nos próximos 60 a 90 dias, com início de geração em setembro de 2022. No pico da obra, teremos a geração de 2.079 empregos diretos e indiretos.

E quanto ao projeto do Ceará?

Esse projeto, chamado Kairós, no município de Icapuí (CE), terá 260 MW de potência no total. Dividimos o empreendimento em fases, sendo a fase 1, o projeto Kairós 1, com 42 MW de capacidade. Serão entre 10 e 12 torres eólicas. Nesse projeto ainda não fechamos o fornecedor do equipamento. Estamos em negociação. Mas a estruturação financeira já está fechada.

Tivemos a aprovação e o enquadramento do financiamento de 80% desse empreendimento com o Banco do Nordeste. E os outros 20% serão recursos da 2W Energia. Temos em caixa aproximadamente  R$ 100 milhões. Essa parte do equity, que são os 20% desse investimento, serão de recursos próprios. O investimento total está estimado entre R$ 200 milhões e R$ 205 milhões.

Esse projeto começará efetivamente as suas obras no último trimestre desse ano e a geração de energia será iniciada em janeiro de 2023. Em Kairós (fase 1 e fase 2), serão 3.900 empregos diretos e indiretos.

A empresa também tem anunciado o interesse em investir em novas tecnologias. Poderia detalhar mais esse aspecto?

Estamos olhando para algumas vertentes de tecnologia: mobilidade, armazenamento de energia e ciência de dados. Em mobilidade, acreditamos em uma mudança de perfil de consumo nessa vertente, com os carros elétricos. Queremos aproximar-nos disso. Vendemos energia de fonte renovável. Se pudermos instalar 2 mil, 5 mil eletropostos para abastecer os veículos com a nossa energia, melhor. Então, estamos olhando essa questão de mobilidade e toda a tecnologia inerente a isso.

A questão de ciência de dados é muito importante porque conseguimos traçar o perfil do consumidor ao longo do dia e do mês. E aí, poderemos vender advice e soluções para o consumidor, com o objetivo de melhorar o perfil de consumo.

Por fim, tem ainda a questão do armazenamento. Entendemos que essa é uma tecnologia que está chegando ao Brasil. Em algum momento, poderemos falar para um cliente sair da rede e usar a armazenagem no período [do dia] em que a energia estiver muito cara.

Quais são as suas perspectivas com o mercado livre de energia no Brasil?

As expectativas são grandes. Eu entendo que temos um setor elétrico muito atrasado vis-à-vis as economias desenvolvidas. Eu diria que, das 20 maiores economias do mundo, não tenho sombra de dúvida que o Brasil deve ser o país mais fechado do ponto de vista de escolha do consumidor do setor elétrico. O consumidor brasileiro tem poucas opções por conta deste regulatório engessado. Porém, ao longo dos anos, o setor está desengessando-se, permitindo essa migração para o mercado livre. Mas existem países que são muito mais liberalizados que o Brasil. São países que o consumidor residencial pode comprar energia de quem ele quiser.

Vou citar alguns dados de uma pesquisa feita pelo analista Vitor Ribeiro, da consultoria Thymus. Ele comparou a tarifa média no Brasil com a dos Estados Unidos, que liberalizou seu mercado. Passados 10 anos, a tarifa média residencial aumentou 10% em termos reais no Brasil, enquanto que a tarifa média nos Estados Unidos caiu 40%. Essa redução é resultado da competição que acontece no mercado americano.

O Brasil tem, na geração, uma das tarifas médias mais baratas do mundo. A nossa matriz energética é composta por 60% de fonte hídrica. Então, temos o insumo barato. Por outro lado, também temos a segunda tarifa mais cara do mundo entre 218 nações. Isso acontece porque, entre a geração na usina até a cobrança ao consumidor, existe uma ineficiência gigantesca. Temos um Estado criando alocações errôneas de custos. É inexorável uma liberalização do setor elétrico. Vão sobrar as empresas mais eficientes e, principalmente, as empresas que entenderem o consumidor.

É inconcebível que um país como Brasil, com tanta disparidade social, continue subsidiando determinados setores, chancelando ineficiências. Temos que encarar os problemas de frente e saber que só vamos conseguir, efetivamente, deixar as coisas mais claras no mercado livre, onde o consumidor tem mais informação. Se não tivermos competição, não haverá informação. Eu realmente entendo que já passou da hora [de abrir o mercado livre]. O setor vai liberalizar-se, porque a pressão do consumidor está muito grande. Não é uma torcida, mas sim uma realidade. Eu também acho que esse processo não se dará do dia para a noite. Mas o cronograma vai ser dado e o Brasil terminará essa década com o mercado liberalizado. (Petronotícias)