Nelson Romano, diretor-presidente da Abemi

O novo plano de negócios da Petrobrás mostrou ao mercado metas mais modestas de investimentos por parte da estatal, além da saída da empresa de outros segmentos, como produção de biocombustíveis e distribuição de GLP, por exemplo. A indústria reagiu bem às estratégias que serão colocadas em prática pela empresa a partir de agora, mas também demonstra preocupação em relação a alguns pontos. Um dos principais temores entre os empresários da cadeia nacional de fornecedores é o tempo ainda necessário para que o mercado de óleo e gás volte a crescer. O temor é que, durante a caminhada neste calvário, muitas empresas acabem sucumbindo diante dos tempos difíceis, com menos recursos jorrando da principal empresa do setor petrolífero do Brasil.

Uma porcentagem de negócios se origina na Petrobrás, que vai fazer investimentos muito mais modestos. Isso significa ociosidade para os fornecedores e um retardo para volta de empregos para os engenheiros. As empresas de engenharia, que tem mais tecnologia embutida, vão ter dificuldade de sobrevivência nesse período“, afirmou o diretor-presidente da Associação Brasileira de Engenharia Industrial (Abemi), Nelson Romano. Na opinião do executivo, com o sucesso dos leilões no médio e longo prazo, os níveis de negócios envolvendo engenharia devem aumentar. Mas, até lá, haverá um hiato até que isso aconteça. “Nesses próximos dois anos, em que a Petrobrás vai buscar a redução de dívida, as perspectivas são bastante difíceis“, acrescentou.

Alberto Machado
Alberto Machado, Diretor de Petróleo e Gás da Abimaq.

Essa preocupação é a mesma que paira na cabeça do diretor de Petróleo, Gás, Bionergia e Petroquímica da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Alberto Machado: “A gente está preocupado com a estratégia de sobrevivência. Tudo indica que passando essa fase [de crise], vai voltar tudo a um cenário de boas possibilidades. O horizonte é promissor, mas o problema é chegar até lá. O temor é que algumas empresas não aguentem esse período“, ponderou.

Ainda de acordo com Machado, um ponto negativo do novo plano da Petrobrás é a falta de perspectiva para a área de refino, que sofrerá cortes incisivos de investimentos a partir da nova direção estratégica a ser adotada pela petroleira. “Anteriormente, havia uma perspectiva de grandes investimentos, o que incentivou a abertura de empresas e aplicações de recursos para atender a demanda que era esperada”, lamentou, se referindo às companhias que acreditaram no “Eldorado” no setor de óleo e gás brasileiro e fizeram investimentos, mas que agora estão tendo que enfrentar um deserto.

Uma das dificuldades atuais pelas quais passam as empresas são as dívidas. Várias companhias ligadas à Abimaq alegam que possuem valores a receber de estaleiros e EPCistas contratadas pela Petrobrás. Machado explica que algumas destas pendências já foram solucionadas, mas ainda há questões a serem sanadas. “Alguns casos foram resolvidos. O que está sendo mais complicado são projetos que foram paralisados, como a UFN V e a UFN 3. No início do ano a dívida estava em R$ 500 milhões, não sei precisar em quanto está atualmente, mas já tivemos alguns casos críticos resolvidos“, comentou.

Romano considera que o novo plano representa um avanço relevante em relação aos anteriores, principalmente porque é focado no negócio principal da empresa, saindo de outras áreas fora do interesse central. “Desta vez foi feito um plano de metas realistas. É um plano mais modesto, mas acreditamos que é melhor ser assim do que muito ambicioso e levar empresas a realizarem investimentos que não terão retorno“, afirmou. “A gente praticamente voltou ao período antes do pré sal“, acrescentou Machado, enfatizando que os novos números são bem mais modestos do que os apresentados na época da euforia após a descoberta do pré-sal. (Petronotícias)