O primeiro ano de vida da empresa EnP, comemorado neste mês, não será apenas lembrado como o início de uma nova etapa na carreira de seu fundador Marcio Felix. O engenheiro certamente também guardará na memória as conquistas em meio aos desdobramentos da pandemia de Covid-19. Ainda que diante dos desafios, a jovem empresa soube driblar as dificuldades e já consolidou bons negócios. A EnP adquiriu 50% do Polo Lagoa Parda, comprou participação em blocos exploratórios na Bacia do Espírito Santo e fechou parcerias para desenvolver projetos de infraestrutura e refino. “Mesmo diante desse cenário desafiador, vimos que depois de algum tempo começaram a surgir oportunidades que nem imaginávamos“, relembrou Felix. Em entrevista ao Petronotícias, o CEO da companhia falou das expectativas para os próximos anos.

Em relação aos blocos exploratórios adquiridos na Oferta Permanente, em dezembro, a ideia é avançar com a campanha exploratória em 2022. Já para este ano, uma das metas é reativar a operação da Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN) de Lagoa Parda. “Estamos trabalhando para que essa planta entre, até o final do ano ou início do ano que vem, para processar o gás e atrair negócios nessa região“, afirmou. Felix também trouxe novidades sobre o projeto da Refinaria do Espírito Santo (RefinES) e também falou do interesse da EnP em trabalhar com jovens profissionais do setor. “A EnP procura interagir com os jovens do país. Há muitas oportunidades para eles empreenderem e desenvolverem negócios a partir da cadeia produtiva de petróleo e gás. A empresa está em busca de talentos jovens, não só para trabalhar conosco, mas para ajudá-los a desenvolver o empreendedorismo“, concluiu.

O senhor poderia nos fazer um balanço sobre o primeiro ano de operação da empresa?

O ano de 2020 foi bastante desafiador. Lançamos a empresa no dia 10 de março de 2020. Na semana seguinte, o país estava entrando em lockdown. Assim, nos digitalizamos na relação entre as pessoas, na contratação do nosso time e na relação com outras empresas. Mesmo diante desse cenário, vimos que depois de algum tempo começaram a surgir oportunidades que nem imaginávamos.

Conseguimos adquirir ativos: os 50% do Polo Lagoa Parda, com três campos produtores; infraestrutura de gás; cinco blocos exploratórios na Bacia do Espírito Santo [ES-T-354, 373, 441, 477 e 487]; e mais sete blocos exploratórios na Oferta Permanente da ANP, também  na Bacia do Espírito Santo [ES-T-305, 409, 429, 466, 486A, 517 e 527]. Dessa forma formamos um conjunto regional de ativos nessa bacia. Começamos também a olhar para outros projetos de refino e de infraestrutura de gás.

Gostaria de ouvi-lo também sobre o desafio de começar um negócio em pleno ano de pandemia. Como foi empreender diante de um ano tão desafiador?

Não existe um manual que nos ensine como atravessar um período desses. Foi uma experiência única para a maioria da população mundial. Coisa similar aconteceu há 100 anos, em outra época. Nós não ficamos paralisados, porque estávamos começando e precisávamos montar nosso portfólio. Então, começamos a pensar em meios alternativos e estudar mais oportunidades do que estávamos enxergando inicialmente. Nosso objetivo inicial era tão somente participar da Oferta Permanente da ANP e adquirir alguns blocos. Mas fomos além e concebemos outros projetos.

A digitalização das reuniões permitiu que fôssemos muito mais ativos e possibilitou mais conexões. Também adotamos a estratégia de montar nossos projetos e nosso ecossistema no estado do Espírito Santo. Se tivéssemos ativos em diferentes estados, a empresa ia ficar muito fragmentada. Por isso, resolvemos nos concentrar no Espírito Santo. Hoje, temos um portfólio com ativos de exploração, campos maduros e projetos para aproveitamento de óleo para refinarias de nicho.

Aproveitando o gancho, já que o senhor falou dos projetos da EnP, peço que nos conte um pouco sobre os avanços em cada um desses empreendimentos. Por exemplo, quais são as novidades e o cronograma para os blocos adquiridos na Oferta Permanente, em parceria com a Imetame Energia?

Felix durante o Segundo Ciclo da Oferta Permanente, em dezembro passado

Estamos olhando para esses blocos. Eles têm algumas dezenas de poços já perfurados, além de existir sísmica 3D em boa parte das áreas. Então, estamos fazendo um estudo em função dessas informações. Estamos lançando um novo olhar para descobrir os melhores pontos e as melhores oportunidades. A partir do ano que vem, vamos perfurar novos poços. Se possível, podemos até aproveitar poços já perfurados no passado. A viabilidade de um poço perfurado nos anos 70 era totalmente diferente. Mas hoje, os preços relativos mudaram. No passado, o óleo pesado era pouco valorizado, mas atualmente o óleo pesado de baixo teor de enxofre é quase igual ao Brent. Às vezes até mais valorizado.

Outro projeto interessante anunciado recentemente pela EnP foi o hub offshore para escoamento do gás natural produzido no offshore da região Sudeste. Quais são as novidades?

O plano para 2021 é começá-lo a tirar do papel. Esse será um projeto de vários sócios. Estamos conversando com o mercado financeiro, com empresas EPCistas do offshore e do subsea, com produtores e consumidores de gás e com processadores. Esse projeto é estratégico para o país, por permitir a ida do gás do offshore para o mercado, pegando carona em plantas com capacidade ociosa e infraestrutura de gasodutos com espaço disponível. Assim, vamos criar uma competição, porque ao invés de um determinado campo produzir só para uma determinada planta de processamento, esse mesmo campo poderá produzir para quatro ou seis plantas diferentes.

Estamos em uma fase, avançada, de fechar entendimento com os grandes atores. Esperamos que até o meio do ano ou antes possamos anunciar alguns parceiros, seja da área financeira ou empresas de grande porte.

De qualquer maneira, não queremos que esse projeto tenha um dono só. Vamos trabalhar para que ele tenha vários donos, de maneira que o hub seja algo que sirva ao público; que seja de interesse público, mesmo sem ser público. A forma de fazer isso é ter uma certa diversidade de sócios.

Queremos colocar esse hub à disposição do mercado. Olhamos a história do Henry Hub [hub de distribuição no sistema de dutos de gás natural em Erath, Louisiana], que não foi concebido para isso. Hoje, é um grande hub com milhares de contratos, forma preços nos EUA e é referência mundial.

A EnP também anunciou um memorando de entendimento com a Oil Group e Porto Central para desenvolvimento do projeto da RefinES. Em que fase o projeto se encontra?

Há discussão grande no país sobre refino, preço e importação. Entendemos que o momento é bem propício. Temos dois projetos de refino. O primeiro, como você citou, é o RefinES, que ficará no Porto Central. Reservamos um terreno muito nobre, de 400 mil m². É um projeto bastante ambicioso, que vai trazer muitas oportunidades para gasodutos, planta de processamento, consumo, termelétrica e operação ship to ship. Já estamos na expectativa que as obras do Porto Central se iniciem neste ano para que, na sequência, comecemos as nossas obras –  que dependem da infraestrutura do porto.

 

Em paralelo, temos outro projeto, que chamamos de Relub, voltada a bunker, lubrificantes e asfalto. Ela ficaria localizada no Norte do Espírito Santo, próximo à produção terrestre, de maneira a aproveitar esses óleos de baixo teor de enxofre que são produzidos no estado. Estamos conversando com várias empresas e grandes grupos. Esperamos, ao longo desses próximos poucos meses, já ter alguma notícia do avanço dessa refinaria. Essa planta está associada ao movimento de entrada de novas atores na produção terrestre do Espírito Santo a partir dos desinvestimentos da Petrobrás.

A EnP também fez um movimento interessante de adquirir 50% de participação no Polo Lagoa Parda. Há muita expectativa na retomada da UPGN desse polo…

Esse é um grande ativo que está disponível para o país, pois tem o processamento de gás a um custo competitivo. A planta está bem localizada na região de Linhares, na área da Sudene [Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste]. É uma planta que está totalmente interligada à infraestrutura. Dentro da estação Lagoa Parda, há um gasoduto que se interconecta com o Gasene, que é operado pela TAG. E há outro gasoduto, o Lagoa Parda-Vitória, que é mais próximo ao litoral.

Ao colocar essa planta em operação, poderemos eventualmente processar gás natural do mar e também o gás terrestre dos novos atores que estão entrando. Estamos trabalhando para que essa planta entre, até o final do ano ou início do ano que vem, para processar o gás e atrair negócios nessa região.

Quais são as perspectivas da empresa para próximos leilões de óleo e gás?

Estamos conversando com nossos acionistas e com outros investidores que estão se interessando em trabalhar conosco em parceria. Acho muito importante fazer parcerias. Queremos trabalhar na fronteira exploratória das áreas maduras para agregar óleo e gás novos. Isto é, olhar não só os campos maduros, mas também outras áreas que ficaram para trás em termos de exploração.

Estamos olhando a terceira rodada da Oferta Permanente. Já tivemos reuniões com a própria agência reguladora para falar sobre isso. Também estamos olhando os movimentos decorrentes dos desinvestimentos da Petrobrás. A EnP está trabalhando para montar uma rede de negócios. Não seremos o dono dessa rede, mas um de seus atores. Com isso, vamos construir um onshore bem forte, com várias empresas de médio porte e até, no futuro, com algumas de porte maior.

A empresa está oferecendo oportunidades para novos talentos?

Gostaria de destacar uma característica da EnP, que é a conexão com os jovens do país e com as pessoas extremamente experientes. São os dois extremos que formam nosso time. Para dar um exemplo, nós contratamos a empresa júnior de engenharia petróleo da Universidade Federal do Ceará para fazer um estudo de simulação de reservatório de Lagoa Parda, algo extremamente especializado.

A EnP procura interagir com os jovens do país. Estamos com duas estagiárias à distância, uma de geologia e outra de engenharia do petróleo. Há muitas oportunidades para os jovens empreenderem e desenvolverem negócios a partir da cadeia produtiva de petróleo e gás. A empresa está em busca de talentos jovens, não só para trabalhar conosco, mas para ajudá-los a desenvolver o empreendedorismo. (Petronoticias)