São Paulo, 28/08/2015 – De acordo com dados preliminares do Relatório de Acompanhamento Conjuntural (RAC), divulgados pela Abiquim, o índice de quantum das vendas internas dos produtos químicos de uso industrial cresceu 17,62% em julho de 2015, em relação ao mês anterior. Essa alta, no entanto, é atribuída à base de comparação deprimida do período de abril a junho, ocasião em que as vendas acumulam queda superior a 20%. Todavia, de janeiro a julho de 2015, sobre igual período do ano anterior, o índice de vendas internas apresentou retração de 3,70%. No mesmo período, o consumo aparente nacional, que mede a demanda e a atividade final, também teve declínio em relação a igual período de 2014, com resultado negativo de 4,1%.

Por outro lado, a produção apresentou leve alta de 1,61% no acumulado de janeiro a julho de 2015. Esse resultado foi possível pela elevação das exportações, e, principalmente, pela base deprimida de comparação dos primeiros sete meses do ano passado, por conta de paradas para manutenção. A desvalorização do real, em relação ao dólar, também ajudou no resultado das exportações de produtos químicos, que cresceram, em volume, 15,3% sobre igual período do ano passado. Apesar da alta expressiva, as exportações representam uma fatia pequena de tudo o que se produz localmente, em torno de 10 a 15%. Já o volume de produtos químicos importados acompanhados nesta análise apresentou recuo de 16,9% nos primeiros sete meses de 2015.

No que se refere à utilização da capacidade instalada, importante parâmetro de competitividade para o setor, a taxa dos primeiros sete meses do ano ficou em 79%, um ponto acima do patamar registrado em igual período do ano passado. Mesmo com leve aumento, a ociosidade é considerada elevada para os padrões de produção da indústria química mundial e acaba forçando as empresas a realizarem mais paradas para manutenção, gerando custos adicionais aos processos. Vale lembrar que o nível de operação tem permanecido ao redor de 80% desde 2009. Essas plantas deveriam estar operando entre 87-90%, o que seria um nível mais dentro do padrão de normalidade para o segmento. No que se refere ao índice de preços, houve elevação nominal de 3,15% no acumulado de janeiro a julho de 2015, sobre o mesmo período do ano anterior.

Na comparação dos últimos 12 meses, de agosto de 2014 a julho de 2015, sobre os 12 meses imediatamente anteriores, os índices de produção e de vendas internas exibem as seguintes variações: produção +0,26% e vendas internas -3,05%. O índice de preços registrou recuo nos dois primeiros meses do ano, especialmente pela queda no mercado internacional, com resultados de -0,83% em janeiro e de -8,93% em fevereiro. Porém, os preços voltaram a apresentar elevações nos últimos cinco meses, puxando a média geral para cima. Com isso, a variação nominal de preços acumulada de 12 meses é de +11,0%. Descontados os efeitos da inflação (levando-se em consideração o IPA-Indústria de Transformação, da FGV), os preços médios reais do segmento de produtos químicos de uso industrial subiram 3,9% no acumulado dos últimos 12 meses encerrados em julho. Se for utilizado o dólar como deflator, os preços reais estão 25,8% abaixo do que foram nos últimos 12 meses anteriores (e já haviam ficado 5,4% abaixo em 2014, especialmente pela desvalorização do real frente ao dólar). A ocupação das plantas foi de 80% na média dos últimos 12 meses, percentual que vem se mantendo estável nesse patamar nos últimos meses.

A diretora de Economia e Estatística da Abiquim, Fátima Giovanna Coviello Ferreira, alerta que, embora no início deste ano as importações estivessem mais contidas, há, no setor, preocupação com a desaceleração da economia mundial, especialmente China e alguns países europeus, em razão da redução que esse ritmo menor trará à demanda de produtos químicos: “Como a indústria química opera em regime de processo contínuo e não pode fazer reduções abruptas na produção para se adequar à demanda sem trazer prejuízos às operações, devem se elevar os excedentes de produtos no mercado internacional”. A executiva também destaca a indústria química americana, que passa por uma fase de ganhos de competitividade em relação ao Brasil. A tarifa de energia elétrica nos EUA, por exemplo, representa metade da brasileira e o preço do gás natural por lá é quatro vezes mais baixo.

O Governo tem dado sinais de que está preocupado com a retomada da competitividade da indústria e vem adotando importantes medidas nos últimos meses, a fim de elevar as exportações, garantir a manutenção do emprego e estimular investimentos em P&D. Todavia, ainda faltam ações de caráter mais estrutural e que estimulem a indústria brasileira a ocupar a capacidade ociosa e a investir em novas plantas industriais.  Há inúmeras oportunidades que se apresentam para o Brasil e para as quais a química pode ser excelente parceira (aumento das reservas de óleo e gás, investimentos em infraestrutura, entre outros). Apesar de algumas medidas pleiteadas significarem, no curto prazo, possíveis renúncias fiscais, a melhora esperada com o aumento na produção, no ambiente de negócios e na atração por novos investimentos, significará mais empregos, mais negócios, mais investimentos e, consequentemente, mais riqueza. Não há País desenvolvido sem uma indústria química também expressiva. O Brasil não pode e não deve abrir mão dessas oportunidades.