Mauricio Ferraz de Paiva

No momento da compra de um colchão de molas, a maioria dos consumidores leva em consideração, muitas vezes, apenas um quesito: o preço. Já os fatores como fabricação de acordo com as normas técnicas, qualidade, durabilidade e as determinações de adaptação para cada tipo de pessoa ficam em segundo plano. Em consequência, as pessoas começam a reclamar de dores associadas à escolha errada do colchão. Apesar de não ser o principal desencadeador desses problemas, o colchão de molas possui um papel fundamental para a qualidade de vida do usuário.

O colchão de molas é um bem de consumo durável, destinado ao repouso humano, constituído por uma estrutura de molas (molejo), sobre o qual é colocado um material isolante, um estofamento constituído de espuma de poliuretano ou de outros materiais, devidamente revestido. Para cada tipo de molejo, são especificados a bitola do arame e o número de molas por m². Há dois tipos de colchões de molas, o de duas faces, com estofamento em ambas faces, e o de uma face, com estofamento em uma única face.

Assim, no caso do colchão de molas, deve-se dedicar uma atenção toda especial ao tipo de molejo do modelo a ser escolhido. Os sistemas de molas bicônicas (ou de Bonell) e de molas independentes (ensacadas) permitem definir zonas ergonômicas, fazendo variar a rigidez do aço com que são fabricados.

Com as molas sem-fim (sistema formado por pequenas molas cilíndricas torcidas para a direita e para a esquerda, entrelaçadas continuamente, numa sequência infinita), isso não é possível. Nos modelos de molas ensacadas não há transmissão de movimento entre molas. Isso os torna muito confortáveis, sobretudo se o seu companheiro mexe-se muito enquanto dorme.

Quanto as normas técnicas que os fabricantes precisam cumprir obrigatoriamente e os consumidores necessitam ficar atentos aos requisitos dos produtos comprados são duas: a NBR 15413-1 de 08/2013 – Colchão de molas e bases – Parte 1: Requisitos e métodos de ensaio que estabelece os requisitos e os métodos de ensaio para colchões de molas e bases e a NBR 15413-2 de 03/2011 – Colchão de molas e bases – Parte 2: Revestimento que estabelece os requisitos e os métodos de ensaio para os materiais utilizados como revestimento de colchões de molas e bases.

A normalização visa estabelecer os requisitos obrigatórios de desempenho para a comercialização de colchões de molas no mercado nacional, com objetivo de preservar a saúde dos usuários, além de prover a harmonização das relações de consumo e a concorrência justa no setor colchoeiro. Assim, todo colchão de molas deverá ser fabricado, importado, distribuído e comercializado com as informações corretas sobre características e composição bem como o desempenho adequado do produto. No caso de ser identificados colchões de molas em não conformidade e que gerem risco potencial à saúde ou à segurança do consumidor ou ao meio ambiente, os órgãos fiscalizadores deverão cientificar o fornecedor, detentor do registro, a retirada do produto do mercado.

Os colchões de molas devem evidenciar e atender aos requisitos mínimos de desempenho e estar permanentemente marcados com informações fidedignas sobre suas características e composição, de forma a fornecer ao consumidor os subsídios necessários no ato da compra. Todo os colchões de molas devem estar permanentemente marcados com informações que permitam sua rastreabilidade, além de ser obrigatório conter, em português, apresentadas de forma clara para o usuário, as instruções sobre uso e manutenção do produto.

Segundo a parte 1 da norma, o procedimento para determinação das dimensões deve ser realizado conforme a figura A.1. Nas dimensões com relação à largura, comprimento e espessura, deve ser tolerada a variação de + – 1,5 cm. O molejo estrutural do colchão deve atender à Tabela 1 disponível nessa parte da norma.

Outros tipos de molejos com diferentes construções ou tecnologias podem ser utilizados, desde que atendam ao item 4.2.4. O produto final após o ensaio de rolagem em 7.3 deve atender a Tabela 3 e ao ensaio descrito em na figura A.2.O molejo não pode apresentar quebras de molas e de outros elementos e a medição da deformação plástica na altura da mola pode ser realizada com uma parte do molejo afetada pelo ensaio e outra não, do mesmo molejo.

As características mecânicas e a composição do arame da mola devem atender à ASTM A 487. A borda perimetral deve manter o seu paralelismo e perpendicularidade antes e após o ensaio de rolagem. Caso a borda perimetral seja de espuma de poliuretano, ela deve ter largura máxima de 180 mm de cada lado e densidade nominal mínima D 28, além de atender aos requisitos de deformação permanente, densidade e teor de cinzas da parte 1 da norma.

Caso a borda perimetral seja de qualquer outro material que não seja de espuma de poliuretano, ela deve ter no máximo 180 mm de largura. Caso a borda perimetral seja de aço, as características mecânicas e a composição química devem atender a ASTM A 417 e a sua área da seção deve ser equivalente ao arame com diâmetro mínimo de 4 mm.

O material utilizado como isolante deve evitar que o estofamento seja danificado e penetre no molejo, após o ensaio de rolagem, bem como deve atender ao ensaio de flexibilidade descrito no item 7.8. Em colchões de dois lados ou um lado, o matelasse, quando aplicado ao estofamento, deve atender à Tabela 2 da norma.

Nos requisitos de densidade mínima, resiliência e teor de cinza, caso o material utilizado seja espuma. O colchão pode apresentar acomodação na área de utilização ou na área de impressão do corpo em relação às alturas das laterais, conforme a Tabela 3 e A.2, após uso contínuo ou ao ensaio de rolagem.

Quando for utilizado não tecido de fibras sintéticas, naturais e/ou artificiais, ele deve ter gramatura mínima de 100 g/m². Quanto aos ensaios, antes de serem efetuadas as inspeções e medições iniciais, deve ser realizada uma pré-rolagem com o rolo nas duas faces do colchão por um período de 50 ciclos (cada face). O ensaio de esgarçamento da NBR 9925 deve ser adequado à aplicação do tecido em revestimento de colchão e bases e deve ser adequado conforme a Tabela 1 da parte 2 da norma. o material utilizado como revestimento, após o ensaio de desempenho do colchão e bases, não pode estar esgarçado ou rasgado, conforme Tabela 2. A amostragem para materiais têxteis é definida por acordo entre as partes envolvidas.

Enfim, o colchão de molas é um instrumento determinante na qualidade do sono, ao se levar em consideração que se dorme em média sete horas por noite. Se a pessoa ficar acordada por todo esse período sobre uma superfície desconfortável, o que acontece quando se dorme em um colchão de molas excessivamente firme, o que pode causar cãibras, formigamento e constante mudança de posição, ou excessivamente macio que causa cansaço e constante mudança de posição. Assim, é importante saber que a carência de sono pode desencadear: a redução da eficiência do sistema imunológico, alteração do equilíbrio hormonal, obesidade, maior probabilidade de estado pré-diabético, distúrbios como depressão e ansiedade, dificuldade de cognição e de concentração, e irritação. Dormir bem é tão importante para se ter um estilo de vida saudável quanto fazer exercícios físicos e ter uma alimentação adequada, pois é este período que o corpo se utiliza para restabelecer o seu equilíbrio.

Não se deve esquecer de -que o ideal é que o colchão acompanhe a curvatura natural da coluna e suporte todas as partes do corpo. Normalmente, as lojas têm uma tabela que indica a densidade ideal para cada corpo. Além disso, deixe a vergonha de lado e teste o colchão na loja. Passe alguns minutos sobre ele, deitada de lado, e veja se é realmente confortável. Colchões baixos não são indicados para pessoas com mais idade, pois, na hora de levantar, o peso do corpo é apoiado nas pernas.

Os critérios de firmeza e maciez são individuais. Então, se o gosto é de colchões mais macios ou mais firmes, avise ao vendedor para que ele te ajude a escolher o modelo ideal para você. O importante é que o colchão sustente corretamente o corpo, garantindo conforto durante o sono. Os colchões mais firmes são indicados para pessoas com problemas de coluna e má circulação.

Mauricio Ferraz de Paiva é engenheiro eletricista, especialista em desenvolvimento em sistemas, presidente do Instituto Tecnológico de Estudos para a Normalização e Avaliação de Conformidade (Itenac) e presidente da Target Engenharia e Consultoria – mauricio.paiva@target.com.br