Na contramão da crise, Mackenzie investe R$ 100 mi no maior Centro de Pesquisa em Grafeno da América Latina

Aconteceu no dia 2 de março, a inauguração do MackGraphe (Centro de Pesquisa Avançadas em Grafeno, Nanomateriais e Nanotecnologias) no campus Higienópolis, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo. O MackGraphe marca um momento histórico não só para a universidade, mas também para o país, pois apresenta ao Brasil, em um momento de crise e poucas perspectivas econômicas, uma oportunidade de se juntar às grandes potencias cientificas mundiais nesse mercado de grafeno que movimentará, em 10 anos até US$ 1 trilhão.

Além do evento inaugural, o MackGraphe ofereceu uma Mesa Redonda com Sir Andre Geim – honrado com o Prêmio Nobel em Física em 2010 – professores de grandes agências de fomento e especialistas do Instituto no dia 3 de março. O segundo dia de cerimônias teve como objetivo discutir tendências e explorar as perspectivas do avanço científico e estrutural proporcionados pela criação de um centro de pesquisa de tamanha importância no país.

De acordo com Antonio Hélio de Castro Neto, físico e atual diretor do Centre for Advanced 2D Materials da National University of Singapore a universidade toma um passo histórico em termos de ciência e tecnologia na América Latina com a chegada do MackGraphe, uma vez que existem apenas seis centros de pesquisa do grafeno e, nenhum deles, criados por uma universidade privada, com recursos próprios, visando desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil.

Castro Neto aponta, ainda, para a importância de adaptar a pesquisa aos moldes nacionais: “Para o MackGraphe ter efetividade, a tecnologia do grafeno deve ser aplicada no contexto da economia brasileira, como ocorre em nações que já exploram o material; Estados Unidos, Inglaterra, Coréia, e Cingapura”, completa.

Com investimento avaliado em R$ 100 milhões, o Mackenzie chega ao futuro com a inauguração do MackGraphe, que reafirma o Brasil no cenário mundial com “a matéria-prima do século 21”. Atualmente, a tecnologia é mais do que necessária à rotina do ser humano. Smartphones, tablets, motores híbridos, TVs de ultradefinição, miniprojetores e casas inteligentes são traços da modernidade já presentes em todos os aspectos do dia a dia. E sempre em constante mudança. Agora, imagine todas essas amplas possibilidades acrescidas de uma vantagem, como o uso de matéria-prima cuja resistência é 200 vezes superior à do aço, praticamente transparente, impermeável e flexível. Isso fará parte da rotina de todos no Planeta até a próxima década, graças ao grafeno. Este material – comparado ao silício – propiciará avanços científicos e tecnológicos sem precedentes.

Mesmo com a retração econômica no País, o Mackenzie já investiu R$ 100 milhões nesse promissor ramo de pesquisa, nos últimos dois anos. O empreendimento terá grande influência no campo da engenharia aplicada e da inovação tecnológica. O edifício conta com área superior a quatro mil metros quadrados, distribuídos em nove pavimentos (sete andares e dois subsolos).
Além dos laboratórios com equipamentos de ponta, os 15 pesquisadores envolvidos nos projetos de pesquisas de grafeno e materiais bidimensionais têm à disposição uma sala limpa “Classe 1.000”, com 200 metros quadrados (área com controle de partículas), que mantém o ambiente extremamente higienizado, para não prejudicar os experimentos.

Mackenzie chega ao futuro

De acordo com o presidente do IPM, Dr. Maurício Melo de Meneses, a inauguração do MackGraphe coloca o Brasil na corrida mundial na busca de desenvolvimento tecnológico. “Pesquisas e produtos em grafeno já são o foco de grandes universidades do mundo e, agora, com o apoio da Fapesp, nós colocamos a América Latina nesse patamar. A parceria com indústrias brasileiras tornará tangíveis as nossas descobertas e possibilitará melhor resultado na competitividade mundial. Com essa inauguração, o Mackenzie chega ao futuro”.

“Estudos científicos com grafeno e seu desejável progresso coadunam-se com a cosmovisão cristã e, finalmente, com os deveres dados aos seres humanos na criação e revelados nas Escrituras. Com efeito, a IPB apoia todo progresso humano que atenda ao dever primordial e bíblico de glorificar o nosso Criador”, destaca.

Com status de material mais resistente e fino do Planeta, além de um excelente condutor de eletricidade e calor, o grafeno é o futuro da tecnologia mundial, com potencial de movimentar um mercado de US$ 1 trilhão em vários setores: defesa, eletroeletrônicos, semicondutores, produtos como plástico ou látex, televisões e smartphones, com displays flexíveis e transparentes. Além disso, estudos recentes revelam que o material também pode ser utilizado na filtragem de água.

Para o reitor da UPM, prof. Dr. Benedito Guimarães Aguiar Neto, a pesquisa com o grafeno é estratégica e permite o uso de todo o potencial dos pesquisadores existentes na universidade. “Perdemos a corrida do silício, a principal matéria-prima na industrialização de chips e outros componentes eletrônicos. Temos o desafio de inserir o Brasil no mapa da inovação, com o desenvolvimento de pesquisas e patentes que tragam benefícios para a sociedade e contribuição à competividade nacional”.

Eunézio Antônio Thoroh de Souza, coordenador do MackGraphe, afirma que nos próximos 20 anos veremos o grafeno presente em diversas tecnologias em nosso dia a dia e outras que ainda nem imaginamos, pois um novo material permite criar novas tecnologias. “Estamos fazendo o dever de
casa: aproveitando oportunidades e nos tornando personagens atuantes no campo da inovação. Vivemos uma nova era; um novo Mackenzie”, ressalta.

Com isso, a interação com empresas mostra-se uma prioridade. O MackGraphe colaborará com a indústrias nacionais e multinacionais. Além disso, os estudantes terão a possibilidade de desenvolver projetos no centro de pesquisa, buscar financiamento e criar suas próprias empresas de tecnologia voltadas ao grafeno, ou seja, a universidade pretende criar um spin-off a partir das pesquisas. Além de gerar riquezas para o Brasil, os estudos criarão empregos sofisticados, em um processo nacional de autossuficiência científica e tecnológica.

Perspectivas do Grafeno

Diante da popularidade crescente, é fato que há interesse na utilização do material por parte das grandes potências mundiais. A China, por exemplo, já possui cerca de 2.204 patentes registradas em produtos com grafeno, seguida dos Estados Unidos, com 1.754, e a Coréia do Sul, com 1.160. “Existe uma verdadeira corrida por trás de tudo isso. Apenas a Samsung (gigante sul-coreana de tecnologia), tem mais de 500 patentes.
Há um potencial gigantesco no material”, explica Thoroh.

A produção mundial de grafita natural em 2013 foi de 1,1 milhão de toneladas, enquanto a China foi responsável por 70,4% da produção total, seguida pela Índia, Brasil, Coreia do Norte e Canadá, mantendo os números do ranking produtivo feito em 2012. Em escala menor, esse mineral foi produzido nos seguintes países: Rússia, Turquia, México, Noruega, Romênia, Ucrânia, Madagascar e Sri Lanka.

Nesse cenário, o Brasil manteve o terceiro lugar dentre os principais produtores mundiais de grafita. A América do Sul detém a principal ocorrência do material, com grandes reservas e infraestrutura para permitir o crescimento da produção. As reservas brasileiras estão primariamente nos estados de Minas Gerais, Ceará e Bahia.

Em 2013, a produção brasileira do mineral natural beneficiada foi de 91.908 t de minério (65 mil toneladas de contido), com acréscimo de 4,2% (3.808 t) em relação ao ano de 2012. A maior empresa produtora de grafita natural beneficiada no Brasil é a Nacional de Grafite Ltda., responsável por 96% do total, no ano de 2013, estabelecida no Estado de Minas Gerais, nos municípios de Itapecerica, Pedra Azul e Salto da Divisa, conforme o Informe Mineral 2015 do DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral.

Atualmente, 1 kg de grafite custa US$ 1 e dele pode-se extrair 150g de grafeno, avaliado em pelo menos US$ 15 mil, uma fantástica valorização.
Prevê-se que o mercado de grafeno terá potencial para atingir até US$ 1 trilhão em 10 anos. E o melhor: estima-se que o Brasil possua a maior reserva mundial, segundo relatório publicado em 2012 pelo DNPM.