Primeiras tiras de liga didímio-ferro-boro obtidas a partir da técnica de strip casting. Espessura e composição química das tiras têm efeito direto no bom desempenho de superímãs

O Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) firmou, no final de 2016, uma parceria junto a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM) para a produção da liga didímio-ferro-boro, elemento essencial para a produção dos chamados superímãs – imãs permanentes com aplicações em eletroeletrônicos, carros elétricos, turbinas eólicas, entre outros produtos de alto valor agregado. As primeiras amostras de tiras ou flakes da liga produzidas com matéria-prima nacional foram obtidas recentemente em escala laboratorial, passo fundamental para o estabelecimento de uma cadeia de produção brasileira de superímãs.

O resultado se deu graças à aquisição de um equipamento único no Brasil, cujo funcionamento objetiva não somente a produção das tiras, como também o estudo de parâmetros de processo para que se obtenha a microestrutura ideal da liga. Contando com um aporte adicional de R$ 500 mil da CBMM, em um projeto de R$ 2,7 milhões desenvolvido no âmbito da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), o equipamento opera a partir da técnica de strip casting, que consiste no resfriamento da liga líquida (NdFeBr) desde aproximadamente 1.450°C para rápida solidificação e obtenção de tiras metálicas, cuja espessura e composição química têm efeito direto no bom desempenho do imã a ser produzido.

“Em uma posterior fase de produção, essas tiras serão moídas para a fabricação dos superímãs. Para chegar a um imã de qualidade, os grãos devem possuir parâmetros adequados de tamanho da fase magnética e distribuição de didímio em seu contorno”, explica João Batista Ferreira Neto, diretor de Centro de Tecnologia de Metalurgia e Materiais do IPT e coordenador do projeto. “Essas características, relacionadas à microestrutura das tiras, dependem de diversos fatores, como a velocidade de resfriamento, composição química da liga, temperatura e fluxo de escoamento do metal, variáveis que podem ser modificadas e estudadas através do equipamento”.

Segundo o pesquisador, o objetivo do projeto, que termina em outubro de 2018, é o domínio do processo de obtenção de ligas otimizadas, que possam ser comparadas em termos de qualidade às importadas, atualmente únicas disponíveis para produção de superímãs. “O que estamos fazendo, na verdade, é o desenvolvimento de know-how de uma etapa importante da cadeia. Conhecendo os parâmetros, poderemos fazer a transferência de tecnologia para empresas que desejem produzir em escala industrial, com matéria-prima nacional, e assim poder concorrer com o quase monopólio chinês deste mercado”, aponta Ferreira Neto.

O IPT mantém, atualmente, além da CBMM, parcerias com a Weg, empresa especializada na fabricação e comercialização de motores elétricos, transformadores e geradores eólicos, e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), capacitada para a produção de superímãs. Outra parceria importante está estabelecida com a Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig), que tem projeto de construção de um laboratório-fábrica de superímãs no estado mineiro, contando com transferência de tecnologia do IPT na obtenção do metal didímio e na produção das ligas.