Os encantos do Rio de Janeiro, tão cantados ou recitados por gênios da nossa literatura, são parte da natureza e da história do estado. Contudo, a fartura da beleza natural fluminense não coincide com o momento de sua economia, que há anos anda capengando. A indústria naval e a cadeia de fornecedores de máquinas e equipamentos que o digam. Setores pujantes no passado, hoje estão com o pires na mão. Mas há ainda chances de reverter esse quadro. Para a Associação de Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Rio Indústria), a retomada da economia fluminense passa, necessariamente, pelo estímulo aos setores de óleo, gás e naval. “O Rio deixou de ser o segundo estado em termos de indústria. Hoje, estamos em sexto lugar, em vias de cair para a sétima posição. Não podemos perder a vocação do povo fluminense, que é a vocação para o mar”, alertou o vice-presidente conselheiro da Rio Indústria, Marcius Ferrari. O entrevistado avalia que o estado tem estaleiros preparados para construir plataformas, gerando muitos empregos e reanimando a economia local. “Hoje, se falássemos em construir FPSOs no Brasil, seriam gerados 100 mil empregos de imediato, em curto espaço de tempo”, projetou. Ferrari sustenta que o Brasil deveria fazer uma revisão de sua política de conteúdo local, de forma a garantir competitividade para as empresas do Rio e do resto do país. “Queremos desenvolver a indústria nacional, mas sem reserva de mercado. Precisamos de condições competitivas para que a indústria fluminense possa competir com os estaleiros estrangeiros”, finalizou.

Qual tem sido o foco de atuação da Rio Indústria para estimular o desenvolvimento do nosso estado?

A Rio Indústria foi fundada por um grupo de empresários com o intuito de harmonizar o interesse da indústria juntamente ao poder público. Nosso propósito é fazer essa ponte de ligação. Nosso intuito é fomentar o desenvolvimento da indústria já existente no estado, bem como criar caminhos para que novas indústrias se instalem no Rio. Fazemos isso fomentando ações com as câmaras setoriais da Alerj, o governo do estado e outras entidades. Eu sou presidente do RJ Metal [sindicato das indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico no Estado do Rio de Janeiro], conselheiro da Firjan e pertenço ao conselho de óleo e gás da Firjan.

Queremos um estado mais competitivo, de forma a dar fim ao que está acontecendo nos últimos anos, que é a desindustrialização do nosso estado. O Rio deixou de ser o segundo estado em termos de indústria. Hoje, estamos em sexto lugar, em vias de cair para a sétima posição. Não podemos perder a vocação do povo fluminense, que é a vocação para o mar.

O primeiro estaleiro fundado no Brasil foi no Rio de Janeiro (antigo estaleiro Mauá). O Rio de Janeiro foi abençoado com sua costa. Em meados dos anos 70, o Brasil era o segundo maior produtor de navios no mundo, atrás somente do Japão. Isso propiciou ao nosso estado, naquela época, abrigar várias indústrias. Chegamos a ter duas grandes empresas fabricantes de hélices de navios e indústrias de mobiliários para embarcações. Contudo, essas empresas foram fechando as portas com o passar dos anos. Nós continuamos com essa vocação para o mar. A missão da Rio Indústria é fomentá-la.

E que forma vocês avaliam o potencial do setor de óleo e gás dentro da economia fluminense?

No final da década de 70, houve o boom da indústria do petróleo no Brasil. Na época, não importávamos nenhum equipamento, o que fez com que a indústria fluminense se associasse a empresas estrangeiras para trazer tecnologias ao país. Uma das maiores fabricantes de árvore de natal do mundo, por exemplo, está instalada no Rio de Janeiro. Atualmente, essa companhia tem boa parte de sua linha de produção fabricando equipamentos para o exterior. É um belo exemplo de que somos competitivos. O nosso país se tornou um hub para esse tipo de equipamento.

Isso fomentou muito a indústria nacional. Mas com o passar dos anos, fomos perdendo essa condição. Ainda assim, continuamos sendo muito competentes. O estado tem condições de, junto com a sociedade, criar condições para voltarmos a ser competitivos. Só com indústria é possível gerar crescimento desenvolvimento, emprego, impostos e dinheiro novo.

Quais são as propostas da Rio Indústria para o setor de óleo e gás no estado?

Todos sabem o que aconteceu com o setor de óleo e gás no Brasil de 2014 em diante. Isso é passado. Não adianta ficar batendo nessa tecla. Olhando para frente, eu acredito que o governo federal, que é o dono da Petrobrás, possa criar condições para que a indústria fluminense e a indústria nacional volte a ser competitiva e faça equipamentos no Brasil.

Para tanto, nós acreditamos que o governo irá, daqui a pouco, ter um plano de voltar a construir plataformas no Brasil. Temos estaleiros preparados para construir plataformas na Baía de Guanabara, no Recife e no Rio Grande do Sul. Isso geraria milhões de empregos para o Brasil e, com certeza, fortaleceria a indústria, principalmente no Estado do Rio de Janeiro. Quando falo em indústria, não estou falando só de equipamentos, mas também da área de serviços, reparação de plataformas e equipamentos.

O Rio precisa aproveitar todas essas vocações que citei aqui para criar emprego, gerar impostos e desenvolver nosso estado. Estamos falando de uma atividade que é fundamental para o desenvolvimento de qualquer país.

Hoje, se falássemos em construir FPSOs no Brasil, seriam gerados 100 mil empregos de imediato, em curto espaço de tempo. Então, eu acredito que os nossos governantes estejam vendo isso com bastante cuidado e carinho. Esse é um dos pleitos que estamos fazendo. Queremos desenvolver a indústria nacional, mas sem reserva de mercado. Precisamos de condições competitivas para que a indústria fluminense possa competir com os estaleiros estrangeiros.

O Brasil teve por alguns anos uma política de conteúdo local mais robusta. Hoje, os percentuais exigidos são bem menores. Rever essa a política de conteúdo local é um dos caminhos para que Rio e o Brasil sejam competitivos nas indústrias naval e de óleo e gás?

Plataforma da Petrobrás na Baía de Guanabara

Eu acho que a política de conteúdo local tem que ser revista como um todo. Hoje estamos em um momento de revisar o que se entende de conteúdo local e sua obrigatoriedade.

O conteúdo local era muito focado em penalizar as empresas produtoras de óleo. Talvez tivéssemos que mudar a forma de encarar essa situação. É preciso entender o porquê de uma empresa querer comprar no exterior. Não é possível que um equipamento que venha da China seja tão mais barato do que um equipamento produzido no Brasil.

Temos que considerar que boa parte do minério necessário para produzir aço na China sai do Brasil. Hoje, com o dólar na casa de R$ 5,10, não é possível que os estrangeiros consigam produzir equipamentos mais baratos. Há algo de errado. O que estamos fazendo de errado? Será que os impostos que incidem sobre a indústria de óleo e gás não estão muito além em comparação com os do exterior?

Eu pergunto a você: como é possível construirmos árvores de natal no Brasil e vendê-las para o exterior? É porque nós temos competência. O que o Brasil precisa fazer não é penalizar, mas sim identificar porque o fabricante nacional de plataforma não consegue fazer mais barato do que o fabricante estrangeiro.

É óbvio que se hoje nós começarmos a construir uma plataforma aqui será mais cara. Estamos parados e precisaremos passar por uma curva de aprendizado. Será preciso certificar muita mão de obra que está parada. Teremos que pagar por isso. Mas passada essa fase, não é possível que outros consigam produzir mais baratos que nós. Temos tudo aqui: matéria-prima, mão de obra qualificada e usina para produzir aço.

Então, não é só estabelecer um percentual e aplicar uma multa em caso de descumprimento. É preciso entender porque a empresa produtora de óleo quer comprar no exterior. Essa política de conteúdo local tem que ser revista com bons olhos.

O estado do Rio de Janeiro vive uma situação econômica difícil já há vários anos. Ao seu rever, a retomada fluminense passa, necessariamente, pelo estímulo à indústria fornecedora de equipamentos para óleo e gás?

Não tenho dúvida. O Rio hoje tem três grandes vocações – turismo, cultura e óleo e gás. Se a indústria de óleo e gás estiver forte no Rio de Janeiro, será possível atrair todos os outros tipos de indústria para cá. Em 2013, a quantidade de pessoas que migraram para o nosso estado foi uma coisa absurda. Não só para Macaé, mas também para a cidade do Rio de Janeiro. Isso trouxe um boom para a construção civil.

Quais serão as próximas ações da Rio Indústria no sentido de colaborar com o estímulo da indústria de óleo e gás?

Eu, por exemplo, faço parte da Câmara Setorial de Energia da Alerj. Eu tenho procurado conversar dentro da nossa câmara para motivar os nossos deputados a rever e repensar o desenvolvimento da nossa indústria. Não só a indústria de óleo e gás, mas a naval também. Porque ao aumentar a produção de óleo do país, vamos precisar aumentar a produção de navios de apoio. Temos motivado alguns agentes para frisar que é fundamental voltar a construir plataformas no Brasil.

Não perdemos a expertise de fazer plataformas no Brasil. Temos grandes empresas de engenharia, grandes estaleiros capazes e grandes empresas fabricantes. Temos todas as condições necessárias para fazer isso aqui no Brasil. Voltar a construir plataformas no Brasil seria um marco muito grande para a sociedade. A Rio Indústria está entrando no debate para tentar harmonizar o interesse da indústria junto aos governantes. (Petronotícias)