Com mais de 100 postos de abastecimento para veículos movidos a hidrogênio ao redor do mundo, a Air Liquide tem olhado com muita atenção para este mercado. Esse interesse é justificado pela necessidade dos países readequarem suas frotas de automóveis às metas globais de redução de gases poluentes. No caso do Brasil, contudo, a empresa ainda enxerga um longo caminho para ampliação do uso desta tecnologia. “O Brasil vai ter que correr atrás, pois o desenvolvimento da economia de hidrogênio é resultante de um comprometimento de longo prazo da indústria com o Estado, em um plano de desenvolvimento”, afirmou o diretor de Desenvolvimento de Negócios da Air Liquide para a América do Sul, Caio Mogyca. O executivo defende que o país tenha uma política adequada que garanta perspectivas para a indústria em relação à expansão da frota de veículos movidos a hidrogênio. Enquanto aguarda o desenvolvimento deste setor no Brasil, a empresa tem focado na comercialização de gases e equipamentos para a indústria e para o setor de saúde. Uma das tecnologias que a Air Liquide tem disponibilizado, por exemplo, visa a purificação de biogás oriundo de aterros sanitários, tratamento de esgoto ou rejeitos agrícolas, gerando biometano ou Gás Natural Renovável. “Essa tecnologia transforma um passivo ambiental em um ativo energético, sem a necessidade de químicos ou água”, detalha Mogyca.

Como tem sido a atuação da empresa no Brasil? Qual tem sido o foco?

A Air Liquide participa do desenvolvimento brasileiro desde 1945, com uma longa história de crescimento e de investimentos. Desde então, a empresa tem trazido inovações para o mercado tanto na produção de gases como na utilização para melhoria de processos industriais, bem como das condições de vida e do meio ambiente. O foco tem sido a comercialização de gases e equipamentos para a indústria e para a saúde, com contínuos benefícios para a saúde e melhora na vida de pessoas com saúde vulnerável.

Quais são as novidades mais recentes da companhia para o Brasil?

Além do hidrogênio para veículos, a Air Liquide está sempre trazendo ao mercado alternativas tecnológicas para maior eficiência de seus clientes e parceiros. Entre elas, está a purificação de biogás proveniente de aterros sanitários, tratamento de esgoto ou rejeitos agrícolas, gerando biometano ou Gás Natural Renovável e, dessa forma, reduzindo as emissões de metano e CO2 (e seus efeitos na camada de ozônio). Essa tecnologia transforma um passivo ambiental em um ativo energético, sem a necessidade de químicos ou água.

Outra tecnologia permite a remoção de CO2, líquidos e nitrogênio de poços de gás natural (onshore e offshore) para ajuste de especificação, antes da injeção na tubulação ou liquefação. Aliás, a Air Liquide desenvolveu um equipamento compacto para liquefação de gás natural com tecnologia Turbo-Brayton, para vazões de menor escala. Ideal para navios, plataformas e plantas de produção de biometano.

Poderia detalhar um pouco sobre a atuação da Air Liquide em relação ao uso do hidrogênio como combustível?

A Air Liquide é uma ativa liderança na propagação do hidrogênio como combustível há vários anos, como uma evolução natural dos usos tradicionais para a indústria (em processos como a remoção do enxofre da gasolina, atmosfera para produção de vidros, produção de margarinas, etc.), até chegar na criação da Hydrogen Company, empresa do Grupo totalmente dedicada ao desenvolvimento do hidrogênio combustível e 100% renovável a partir de 2030. Assim, combinamos o conhecimento de produção e logística com o desenvolvimento de sistemas específicos para compressão e abastecimento para os veículos, permitindo uma experiência similar aos dos veículos convencionais. Além disso, apoiamos o crescimento de empresas inovadoras na produção de células combustíveis e até mesmo de grupos de utilizadores, como ônibus no Canadá e Europa; e o Hype táxis de Paris, que começaram com 70 veículos em 2016 e devem chegar a 600 até o final de 2020. Redes de postos de abastecimento de Hidrogênio estão em construção na Califórnia, no Nordeste dos Estados Unidos, no Norte da Europa, Japão e Coréia do Sul. A Air Liquide está presente na venda de tecnologia e também na construção e operação de várias dessas estações.

Como a empresa enxerga as oportunidades dentro desse mercado no Brasil?

Como tudo em tecnologia, é uma questão de tempo. Os países de vanguarda tecnológica estão acelerando na direção de veículos não poluentes e adequados ao uso. É uma questão ambiental, mas também de saúde pública, já que a poluição nas cidades é uma causa significativa de doenças respiratórias com reflexos na economia e na vida das pessoas, sobretudo nas grandes cidades, onde cada vez mais pessoas estão morando. Tem sido cada vez mais comum o anúncio de autoridades de diversos locais (cidades, estados e países) para a proibição de veículos a combustão em um futuro não tão distante. Alguns, como a Noruega, já a partir de 2025. O veículo elétrico a bateria conseguirá atender apenas uma parte das necessidades de mobilidade e o veículo a hidrogênio (que também é elétrico, mas com uma célula combustível e os tanques de hidrogênio no lugar das baterias).

O Brasil vai ter que correr atrás, pois o desenvolvimento da economia de hidrogênio é resultante de um comprometimento de longo prazo da indústria com o Estado, em um plano de desenvolvimento (roadmap). Tem sido assim desde o anúncio do carro pelo então governador Schwarzenegger, na Califórnia, até a recente visita do presidente Sul-Coreano às nossas instalações de abastecimento, em Paris. Então, as oportunidades no Brasil são limitadas a iniciativas isoladas de desenvolvimento. Sem perspectivas de veículos, não é viável a construção de uma rede de abastecimento.

A Air Liquide vem conduzindo essa situação com um bom equilíbrio, por meio de iniciativas como, por exemplo, o acordo de 2014 com a Toyota, que está permitindo as vendas do Mirai ao mesmo tempo que ocorre a instalação de 12 unidades de abastecimento na região nordeste dos Estados Unidos. Hyundai, Honda e Mercedes Benz também seguem modelos parecidos, com lançamento de veículos comerciais desde 2016. Ao todo, só a Air Liquide já tem mais de 100 estações de abastecimento para veículos a hidrogênio abertas ao público em todo o mundo.

O que falta para esse combustível ter o seu consumo ainda mais ampliado?

Uma política adequada e que traga perspectiva e segurança para a indústria, a longo prazo. Hoje, os veículos a hidrogênio, assim como os elétricos a bateria, são mais caros que os convencionais porque ainda demandam escala de produção. E sem veículos, não há razão de investir em infraestrutura. Nesse ponto, o Brasil tem a vantagem de já ter a cultura de postos multicombustíveis, com gasolina, diesel, etanol e gás natural.

Quais são as perspectivas de crescimento para os próximos anos?

A Air Liquide tem apresentado um crescimento consistente, conforme relatórios do Grupo. (Petronoticias)