Energia limpa em expansão: a infraestrutura do país está à altura do desafio que vem por aí?

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*Por João Paulo Ragone, gerente de operações da Evolua Energia

O Brasil demonstra um avanço promissor na adoção de fontes renováveis, mas esse crescimento evidencia um grande descompasso: a infraestrutura nacional ainda não acompanha o ritmo acelerado dessa transformação energética. É fato que a mudança para uma matriz mais limpa, com mais energia eólica, solar e de biomassa, não é mais uma opção, mas uma necessidade global, impulsionada pelo clima e pela economia. Dessa forma, o país precisa encarar de forma prática os obstáculos estruturais que ainda impedem a transformação do nosso enorme potencial renovável em segurança no fornecimento de energia, desenvolvimento econômico firme e liderança ambiental real. 

É verdade que o Brasil está entre os líderes mundiais em capacidade instalada de fontes alternativas, demonstrando um enorme potencial de geração limpa. E as previsões mostram um crescimento forte na geração dessas tecnologias, o que reforça a descentralização e a diversidade do setor. No entanto, transformar esse potencial instalado em energia efetivamente entregue e utilizável revela um desafio crítico: estamos aumentando a oferta sem resolver, no mesmo passo, os conhecidos problemas de transmissão, distribuição, e, principalmente, de armazenamento de energia. Simplificando, produzimos mais energia limpa, muitas vezes longe dos centros de consumo, e com uma rede com limitações sérias para levá-la ao consumidor com eficiência e constância.

Fontes renováveis pedem redes modernas e flexíveis

A variação natural de fontes como a solar e a eólica traz um desafio novo para a gestão da rede, exigindo repensar as soluções de tecnologia e operação. Não basta apenas gerar energia limpa; é fundamental garantir que a eletricidade chegue de forma estável e contínua, equilibrando produção e consumo a todo momento. Isso pede grandes investimentos direcionados em sistemas para guardar energia (como bancos de baterias de porte residencial ou industrial ou mesmo hidrogênio verde), tecnologias que ajustam o consumo conforme a necessidade (resposta da demanda) e uma digitalização ampla do setor. A instalação de redes elétricas inteligentes (smart grids), que permitem controle à distância, automação e melhor gerenciamento do fluxo de energia, ainda engatinha no Brasil, limitando nossa capacidade de lidar com um sistema energético mais variado, espalhado e seguro.

Por outro lado, enfrentar essa mudança na infraestrutura abre chances únicas. A modernização e expansão da base energética pode ser um forte motor para o desenvolvimento das regiões, estimulando negócios locais (fabricação de peças e serviços) e atraindo dinheiro de empresas nacionais e de fora para projetos de longo prazo. Nesse cenário, a geração local de energia, bem conectada à rede, pode levar eletricidade a mais comunidades e diminuir perdas, além de aliviar a carga nos grandes sistemas de transmissão. O ponto principal é transformar essa possibilidade em algo real e que cresça.

Coordenação e visão são fundamentais

A solução exige um trabalho conjunto e alinhado entre governo, agências reguladoras, companhias de energia, indústria e centros de pesquisa. As regras do setor, muitas vezes vistas como lentas, confusas e que só reagem aos problemas, precisam mudar para facilitar ativamente a inovação e o investimento. Atualizar as normas para armazenamento, simplificar a conexão de novas fontes à rede, promover melhorias nos sistemas de gestão de crédito de energia junto às concessionárias, dar segurança jurídica e clareza nos contratos, além de oferecer incentivos fiscais corretos, são passos cruciais para liberar os investimentos precisos e acelerar a atualização da rede elétrica. Também é vital incentivar novos modelos de negócio que unam lucro com ganhos para a sociedade e o ambiente, tornando a energia sustentável também viável economicamente em grande volume.

A estratégia precisa ser baseada em uma visão de futuro, com um planejamento de energia sólido e completo, que vá além de governos passageiros ou interesses do momento. Construir uma base energética forte, capaz de aguentar não só a mudança para fontes limpas, mas também os desafios do clima, exige políticas de governo duradouras, com metas definidas, formas de financiamento certas e acompanhamento sério. É aqui que o Brasil pode – e deve – buscar ser um líder mundial, unindo tecnologia nova, cuidado com o ambiente e benefício para todos em sua política energética.

Resumindo, apenas aumentar e descentralizar a geração de energia limpa não garante o sucesso da transição energética brasileira. O desafio maior e mais complicado está em adaptar e modernizar todo o sistema elétrico – transmissão, distribuição, armazenamento e gerenciamento – para receber, conectar e usar da melhor forma essa nova realidade energética. Isso pede um compromisso de todo o país que vai muito além da quantidade de energia gerada. Exige olhar para o futuro, colaboração real entre governo, concessionárias, agências reguladoras e empresas, a coragem para investir o que é preciso agora e o entendimento de que a infraestrutura é a base essencial para um futuro energético mais limpo, seguro, eficiente e melhor para todos os brasileiros.

Sobre a Evolua Energia

A Evolua Energia é uma referência em energia solar no Brasil, destacando-se no mercado de geração distribuída compartilhada com soluções de energia limpa, renovável e econômica. Fundada em 2020, a empresa administra mais de R$ 1 bilhão em ativos de energia e visa democratizar o acesso à energia solar para empresas e pessoas físicas, promovendo economia nas contas mensais. Presente em estados como Minas Gerais, Ceará, Pernambuco, Goiás, Mato Grosso, Bahia, Rio Grande do Norte e Piauí, a Evolua também está no Mercado Livre de Energia (ML), oferecendo ainda mais flexibilidade e opções aos consumidores.