Método aproveita a planta na produção de placas laminadas com material pouco resistente

cada dia, aumenta a preocupação das pessoas em produzir e consumir materiais sustentáveis. Pensando nisso, pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) desenvolvem trabalhos sobre o uso comercial do bambu, planta amplamente encontrada no Brasil, e que pode gerar objetos inimagináveis. Leve, com elevada resistência mecânica e mais forte até mesmo que o aço, o bambu pode ser usado desde a produção de móveis até na construção civil.

Os estudos do Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento de Produtos Lignocelulósicos (Ligno) da Unesp, coordenados pela professora Juliana Cortez Barbosa, se baseiam em um projeto que busca criar um método que aproveita o bambu para fazer placas laminadas que reforçam madeiras pouco resistentes. O projeto, denominado “Desenvolvimento de produto de maior valor agregado”, fez com que Juliana recebesse recentemente uma patente por meio da Agência Unesp de Inovação (Auin) por suas pesquisas sobre o tema.

Os estudos foram realizados em conjunto com os pesquisadores Elen Morales, da Unesp, Fátima Nascimento e Francisco Rocco Lahr, da Universidade de São Paulo (USP), e o engenheiro industrial madeireiro Ulysses Zaia. A pesquisa do grupo originou um compósito, isto é, um material que combina diferentes elementos.

Nesse caso, a associação foi feita entre o bambu e o pinus. O pinus é uma madeira de reflorestamento de rápido crescimento, que não exige um solo rico em nutrientes para se desenvolver e é encontrada em abundância nos estados de Mato Grosso e São Paulo, sobretudo na região de Itapeva, local onde reside a maior plantação do estado. A conciliação dos dois materiais deu origem a um outro, muito mais resistente e com várias utilidades. Segundo a pesquisadora Juliana Barbosa, o Brasil oferece condições favoráveis a produção do bambu, mas é preciso reconhecer suas aplicabilidades: “O Brasil conta com uma facilidade para produzir superior à da China, país que mais utiliza e lucra com esse material. Nosso clima e solo são perfeitos para a planta. Porém, temos de saber valorizá-la, já que muitas pessoas a enxergam apenas como uma praga que não serve para nada e deve ser eliminada”, enfatiza a pesquisadora.

“Na China, são erguidos edifícios de vários andares usando o bambu na estrutura”, afirma Juliana. Sobre o custo/benefício do uso comercial, a pesquisadora diz ser um material economicamente viável porque cresce muito rápido. Sua produção é superior à de muitas madeiras, uma vez que com três anos já pode ser cortada, enquanto outras demoram cerca de oito anos. Diferentemente das árvores que morrem após o corte, o bambu resiste e volta a crescer.”

As aplicações do bambu aliado ao pinus são inúmeras. Por meio do compósito é possível construir pisos, portas, divisórias de paredes, forros, vigas, mezaninos, assoalhos, entre outros objetos. “O pinus, sozinho, não pode ser usado como piso, por exemplo, porque um salto de sapato poderia perfurar a superfície. Mas, ao ser aliado ao bambu, a madeira se torna muito mais forte e aplicável”, comenta a professora. A pesquisa vai além e também contribui na produção de madeiras de MDF (material fabricado com resinas sintéticas, muito utilizado pelas fábricas para fazer móveis, como as camas de madeira). Porém, assim como o pinus, o MDF apresenta baixa resistência mecânica, o que faz com que os móveis durem pouco. As pesquisas demostram que, quando reforçado com lâminas de bambu, o MDF triplica a sua resistência, se tornando muito mais firme e durável.

PRODUÇÃO DO COMPÓSITO
No primeiro momento, os pesquisadores associaram fibras laminadas de bambu com madeiras de baixo valor comercial e pouca resistência à tração e dureza superficial. Para se fazer os laminados, foram gerados muitos resíduos. E foram esses os resíduos utilizados para originar o compósito que associa o bambu ao pinus. O compósito reforça a madeira do pinus, servindo como uma espécie de capa e reforço. O processo de produção utiliza madeiras de baixa resistência mecânica e as reforçam acima e abaixo com lâminas de bambu que são coladas lateralmente. Esse método permite que a resistência da madeira aumente entre 100% e 200%. Outro projeto que visa beneficiar pequenos agricultores é desenvolvido por Juliana Barbosa em parceria com o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação. Principal objetivo do projeto é melhorar a condição do produtor rural, ensinando como plantar, cultivar e aproveitar as diversas aplicabilidades dos tabocais. “Esse plano visa melhorar a condição do produtor rural, que será incentivado a cultivar a planta e a usá-la como matéria-prima e até mesmo fonte de alimento”, explica a pesquisadora.

DELE NADA SE PERDE. TUDO SE USA.
De acordo com informações da Embrapa do Acre, que desenvolve pesquisas avançadas sobre o cultivo de bambu e troca experiências com outros países nessa área, no Brasil existem mais de 200 espécies de bambu e aproximadamente 18 milhões de hectares de florestas nativas da planta estão na Amazônia. Cerca de 40% desse recurso está localizado no Acre, mas a riqueza natural é pouco utilizada, e o manejo da espécie ainda é novidade para a maioria das famílias rurais. Na China, um dos maiores produtores mundiais e maior exportador de derivados do bambu, o produto pode ser encontrado em mais de 4 mil aplicações diferentes. Estima-se que ao menos 5 milhões de famílias chinesas vivem da cadeia produtiva da planta, que movimenta, anualmente, um total de US$6,5 bilhões. Ainda de acordo com a Embrapa, os EUA aparecem como o maior importador, seguidos da União Europeia e do Japão, sendo os painéis de bambu para piso o produto mais exportado.

Em países como Índia, Colômbia, Equador e Costa Rica, do bambu nada se perde. As folhas se transformam em forragem para animais, os brotos e sementes são comestíveis, a polpa é usada na produção de celulose, as hastes na construção civil e fabricação de móveis. No Brasil, o uso agroindustrial mais expressivo do bambu está na Região Nordeste, que concentra um cultivo de cerca de 40 mil hectares nos estados de Pernambuco, Paraíba e Maranhão, destinados à produção de papel e celulose. Além disso, vem despontando como matéria-prima na fabricação de móveis e na construção civil, onde está sua principal funcionalidade, podendo ser usado em substituição à madeira em aplicações como telhados, pisos e decorações internas. (Jornal O Estado de Minas)