A Hyundai-Rotem Brasil, uma empresa do Grupo Hyundai Motors, com sede na Coreia do Sul, inaugurou no dia 30 de março a primeira unidade da multinacional sul–coreana instalada no Brasil. A fábrica de trens foi erguida em uma área total de 150 mil metros quadrados na Avenida Marginal de Acesso à Rodovia Antônio Machado Sant´Anna em Araraquara-SP, sendo 21 mil metros quadrados de área construída. Trata-se da primeira planta multinacional da empresa instalada no Brasil, sendo a segunda maior Hyundai-Rotem no mundo e possui o que há de melhor em tecnologia e inovação para produção de trens e composições ferroviárias, uma infraestrutura com uma linha de produção mecânica. O empreendimento, que recebeu investimento de R$ 100 milhões, vai gerar mais de 300 empregos.

O vice-presidente comercial mundial da empresa, Kevin Choi afirmou que o Grupo Hyundai vê um grande potencial no Brasil como mercado, por isso investiu aqui, embora o cenário de crise tenha afastado investidores. Segundo ele, a exemplo da Hyundai Motors, também pertencente ao grupo e que inaugurou sua primeira fábrica em terras brasileiras, em 2012, eles resolveram investir no país no ano passado, instalando a fábrica de trens em Araraquara-SP.

“O nosso investimento no Brasil não é voltado para oportunidades somente no país, pois pretendemos expandir nossas atividades comerciais por toda América do Sul. Países como Colômbia, Peru, Argentina, Chile e outros países da América do Sul estão procurando por novos negócios e novas soluções de mobilidade urbanas de trens”, disse ele ressaltando que o Brasil é o lugar perfeito para se investir atualmente.

Com capacidade de produção de 200 carros por ano, a fábrica já está com sua linha de montagem ativa produzindo 30 trens modernos, com oito carros cada, para a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), que devem começar a circular ainda em 2016. Segundo o CEO mundial da multinacional, Seung-tack Kim, a empresa já tem encomendas até 2018, com contratos para a produção de 112 vagões para as linhas 1 e 2 de Salvador (BA) e de 240 vagões de passageiros para a CPTM.

A nova planta da empresa sul-coreana também foi projetada para fabricar locomotivas à diesel para o transporte ferroviário de cargas, além de toda linha de veículos ferroviários produzida na matriz, localizada na Coreia, como VLTs, trens de levitação magnética, trens leves com sistemas automáticos, trens de alta velocidade que atingem até 430 quilômetros por hora, carros de passageiros com dois andares, entre outros.

Brasil e Coreia do Sul têm laços diplomáticos há 57 anos

A cerimônia de inauguração do empreendimento contou com a presença de empresários, lideranças e autoridades, como o presidente da Hyndai-Rotem Brasil, Sungha Jun, e o embaixador da Coreia do Sul no Brasil, Jeong-gwan Lee, que na ocasião falou dos laços diplomáticos do Brasil e Coreia do Sul, estabelecidos desde 1959, em vários setores.

“O Brasil é o maior parceiro comercial da América Latina para a Coreia do Sul e também o principal destino dos investimentos coreanos com o estabelecimento de inúmeras empresas coreanas no país”, destacou ele, ao afirmar que a inauguração da fábrica é mais um significativo marco da vigorosa relação entre os dois países. “Uma relação que demostra ao mesmo tempo a plena percepção de presente e a visão do futuro dessa empresa global, que vem crescendo e fornecendo vários modelos de vagões e trens”, afirmou.

Lee também ressaltou que os vagões e trens fabricados na unidade de Araraquara serão produtos made in Brazil e que, além de atender à demanda interna nacional, também serão exportados para outros locais.

“Em termos logísticos, Araraquara-SP nos oferece uma localização estratégica. Trouxemos para cá o que há de melhor em tecnologia e inovação”, afirmou Seung-tack Kim. De acordo com ele, o transporte ferroviário de passageiros é fundamental para o futuro da mobilidade urbana e o Brasil possui um grande potencial nesse sentido. “A Hyundai-Rotem chega com todo seu know how na produção de trens modernos, confortáveis e eficientes, em benefício da qualidade de vida das pessoas”, afirmou. A multinacional exporta para mais de 35 países e, além de fabricar os trens, desenvolve pesquisas e tecnologia própria para sua linha de produção.

Kim também agradeceu a presença de todos e disse que cumpriu a promessa feita no dia 2 de abril de 2015 – ocasião do lançamento da pedra fundamental da fábrica – que já estariam produzindo 11 meses depois e reforçou o elo comercial existente entre Brasil e Coreia. “Ouvi que no Brasil há um provérbio que diz “Uma mão lava a outra”, esperamos que ambos os países construam laços mais fortes e possam contribuir com o crescimento um do outro através da cerimônia de inauguração da Hyundai-Rotem Brasil. Queremos conquistar o coração do brasileiro através de alto padrão de qualidade, como também fazer o nosso papel como empresa cidadã, apoiando escolas profissionalizantes de Araraquara”, disse o executivo, ressaltando que seu desejo é que a cidade se torne o centro da indústria ferroviária.

O CEO entregou ainda uma placa de agradecimento, que marcou o momento do encontro entre os dois países, ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e ao prefeito de Araraquara-SP, Marcelo Barbieri, presentes na solenidade de inauguração.

Investimentos no setor ferroviário

“Essa é uma das mais modernas fábricas de trens do mundo. Mostra a recuperação da indústria ferroviária, especialmente em São Paulo. Aqui estão sendo fabricados 30 trens da CPTM.

São carros modernos, vagão contínuo, mais confortável, mais seguro, transporte de alta capacidade e não poluente”, disse na ocasião, Alckmin, citando que, atualmente, estão com cinco obras simultâneas no Metrô e duas novas importantes da CPTM. “Uma delas é a Linha 13, que abrirá em maio licitação para compra de mais oito trens com oito carros cada um. Serão 64 carros novos.

Nós vamos ter os dois aeroportos integrados com o sistema metroferroviário. Cumbica com a 13 da CPTM e Congonhas com a Linha 17”, explicou.

O governador ainda falou de novos investimentos em Araraquara no setor ferroviário. “Nós temos um grande entroncamento ferroviário e uma recuperação da história da cidade e com foco no futuro”, comentou. “Estamos empenhados junto com o Governo Federal para a criação dos chamados trens intercidades. Para poder aproveitar as áreas lindeiras das antigas Estradas de Ferro. Com isso, o custo da implantação cai muito, pois não tem desapropriação”, contou ele, dizendo que na primeira etapa prevista, o projeto vai de São Paulo a Campinas, depois até Americana e seguindo mais para outras cidades do interior. “Não é trem bala, é um trem de média velocidade, com custo factível para que o setor privado possa implementá-lo”, ponderou.

Alckmin ressaltou também a necessidade de expansão do setor ferroviário e sua importância para o país, citando a recente reinauguração da hidroviária Tiete Paraná e sua integração com o modal ferroviário. “Toda a carga do Centro-Oeste brasileiro sai de São Simão-GO vem até Pederneiras-SP sem usar o caminhão. Cada comboio da hidrovia tira 200 caminhões da estrada e já estamos com 17 comboios, então são 3.400 caminhões a menos. Em Pederneiras, a carga passa para o trem automaticamente e vai até o Porto de Santos-SP sem um caminhão.

Essa integração de modais é o caminho para reduzir custos e melhorar a competitividade, por isso eu quero saudar e agradecer a Hyundai Rotem, que mesmo em um momento difícil, demonstra confiança no Brasil com um investimento deste significado, acreditando neste país. É tudo o que nós precisamos: investimentos, empregos, pesquisa e desenvolvimento”, disse o governador.

Ao discursar na cerimônia de inauguração da nova fábrica, Marcelo Barbieri, prefeito de Araraquara-SP, destacou o compromisso da multinacional em entregar a planta no prazo previsto, gerando emprego e impacto na economia local.

Também reforçou o espírito cidadão da empresa, contando que desde que chegou, a Hyndai-Rotem Brasil vem contribuindo com o município através de iniciativas sociais, citando a parceria feita com o Fundo Social e Senai local para treinar pessoas para trabalhar no segmento ferroviário, como também a doação recente de 600 livros para escolas e creches municipais, entre outras ações.

Destacou que a nova fábrica é mais um marco para a história de Araraquara, que é ligada ao setor ferroviário, desde 1895, quando foi instituída a Companhia Estrada de Ferro Araraquarense, tendo sua obra se iniciado em 1896 e inaugurada em dezembro de 1901.

Barbieri afirmou que “o sentimento é de dever cumprido por ter conseguido trazer esta fábrica para nós” e contou que tem agendado viagem oficial para a Coreia para buscar junto ao governo sul-coreano uma parceria de investimentos na área de educação. “A FATEC de Araraquara é uma universidade que se propõe a abrigar o primeiro curso de engenharia ferroviária do Brasil e nós estamos empenhados nesta direção e por isso iremos à Coreia para firmarmos este convênio”, disse.

O prefeito comentou ainda que Araraquara vem recebendo investimentos na melhoria do transporte ferroviário de cargas, que atravessava a cidade e, desde meados do ano passado, vem gradativamente sendo feito pelo contorno ferroviário. “Cerca de 80% da carga já vem sendo transportada pelo contorno ferroviário, o que falta ainda é fazer a oficina de manutenção das locomotivas e o poço de combustível, que é de responsabilidade da concessionária que atua na região, a Rumo ALL. O município já destinou a área e está negociado com a empresa ferroviária, que está fazendo o projeto. Temos uma boa perspectiva que até o final do ano que vem isso já esteja resolvido”, concluiu.

Para Vicente Abate, presidente da ABIFER (Associação Brasileira da Indústria Ferroviária) a vinda da Hyndai-Rotem Brasil é muito relevante para a indústria ferroviária brasileira. “É extremamente importante, não só a vinda desta multinacional, como a de qualquer empresa que produza os bens ferroviários aqui no Brasil”, ressaltou ele, comentando que foram feitos outros investimentos no segmento nos últimos tempos, citando a inauguração, no ano passado, da fábrica da francesa.

Alstom para a produção de VLTs, em Taubaté-SP, e da fábrica de monotrilhos da empresa Scomi, da Malásia, também na mesma cidade, sendo que a pedra fundamental da planta foi lançada no começo deste mês. “Em que pese toda a crise e do atual cenário brasileiro, temos boas oportunidades no Brasil, tanto no setor ferroviário de passageiro, que é o caso presente, como no setor ferroviário de carga, de forma que a indústria brasileira está bem posicionada e a vinda de empresas estrangeiras com tecnologia avançada é bastante saudável para todos”, constatou. (Abifer/Revista Canavieiros)