Em vista de relatos dos consumidores relacionados à dificuldade em conservar a temperatura do líquido por muito tempo; e registros de acidentes associados a queimaduras, foram analisadas, em laboratório, as amostras de modelos de nove marcas de garrafas térmicas de uso doméstico, com o objetivo de avaliar o desempenho e a segurança do produto. Os resultados revelaram uma tendência de conformidade do produto disponível no mercado nacional, contudo chegou-se à conclusão de que a NBR 13282 de 04/1998 – Garrafa térmica com ampola de vidro – Requisitos e métodos de ensaio necessita ser atualizada.
Mauricio Ferraz de Paiva

Uma garrafa térmica é um recipiente térmico, frasco, jarra, garrafa e outros, composto de um corpo externo e uma parte interna constituída por uma ampola de vidro ou metal, com a finalidade de se obter o máximo isolamento térmico para manutenção da temperatura dos líquidos ou alimentos contidos neste recipiente.

O físico-químico escocês James Dewar foi quem inventou, em 1892, o sistema de isolamento a vácuo, que é o princípio da garrafa térmica. A ideia é simples e trata-se de um vaso de vidro de paredes duplas com um espaço no meio, fechado a vácuo. As paredes recebem um revestimento metálico, formando superfícies espelhadas.

O vácuo tem a função de impedir a transferência de calor e as superfícies espelhadas servem para refletir o calor, impedindo assim que este seja transmitido por radiação. Desta forma, a garrafa térmica pode conservar líquidos com temperaturas diferentes no meio ambiente: quente e fria, mas é claro que as temperaturas se igualam com o tempo, pois não existe vácuo absoluto e nem espelhos 100% refletores.

As garrafas térmicas de uso doméstico são classificadas, basicamente, em dois tipos, automática ou com bomba: garrafa térmica automática – popularmente denominada de garrafa térmica de rosca, é a garrafa dotada de tampa, que permite servir o líquido sem necessidade da retirada completa da tampa; garrafa térmica com bomba – é a garrafa dotada de dispositivo de bombeamento, normalmente, incorporado à tampa, que permite servir o líquido sem que seja necessário incliná-la.

Além desta classificação, a garrafa térmica também pode ser classificada, de acordo com o seu tipo ou uso, como garrafa térmica de mesa (garrafa para uso em interiores, sendo que a posição de repouso da garrafa deve ser sempre na vertical) e garrafa térmica portátil (garrafa dotada exclusivamente de tampa de fechamento hermético).

O Inmetro identificou várias reclamações relacionadas ao desempenho da garrafa térmica, ou seja, à dificuldade em conservar a temperatura do líquido por muito tempo. Igualmente, foram registrados acidentes com garrafas térmicas, a maioria deles associadas às queimaduras nas mãos, rosto e outras partes do corpo.

A partir disso, foram analisadas, em laboratório, as amostras de modelos de nove marcas de garrafas térmicas de uso doméstico, com o objetivo de avaliar o desempenho e a segurança do produto. Destas, apenas uma foi considerada não conforme, pois possuía uma capacidade volumétrica abaixo do informado na embalagem, além de ter sido reprovada na avaliação de eficiência térmica.

Para a avaliação, realizada no Laboratório de Termometria e no Laboratório de Fluídos, ambos localizados no Campus do Inmetro em Xerém, foram verificados seis requisitos, como o de eficiência térmica, para verificar a capacidade de conservar a temperatura do líquido, e o de impacto, para avaliar a capacidade de não haver quebra no caso de queda.

A NBR 13282 de 04/1998 – Garrafa térmica com ampola de vidro – Requisitos e métodos de ensaio estabelece os requisitos e métodos de ensaios que devem ser atendidos pelas garrafas térmicas com ampolas de vidro. Segundo a norma, a classificação do produto, quanto ao tipo ou uso, inclui a garrafa térmica de mesa para uso em interiores com dispositivo de bombeamento ou qualquer outro tipo de tampa, não necessariamente hermética, dotada ou não de alça, sendo que a posição de repouso da garrafa deve ser sempre a vertical. A portátil é exclusivamente com tampa de fechamento hermético, dotada ou não de alça, inclusive a tiracolo.

Quanto à construção, existe a garrafa térmica com bomba, dotada de dispositivo de bombeamento, normalmente incorporado à tampa, manual ou automático, que permite servir o líquido sem que seja necessário incliná-la. A garrafa térmica com vidro exposto é aquela em que parte da superfície externa da ampola é aparente. A térmica com tampa automática é dotada de tampa que permite servir o líquido sem necessidade da retirada completa da tampa.

Já o acionamento e a remoção de qualquer parte da garrafa térmica, como copo, tampa, etc., necessários para enchê-la ou servir seu conteúdo, devem ser fáceis e não exigir grandes esforços. O dispositivo de bombeamento deve ser de fácil manuseio e não deve permitir que ocorra o autobombeamento.

As garrafas térmicas, em todas as suas partes, devem estar livres de rebarbas que representem perigo em potencial para o seu usuário. Em garrafas térmicas nas quais for prevista a desmontagem para reposição ou limpeza de componentes, tanto estas operações quanto a posterior montagem devem ser realizadas com facilidade.

A norma determina que as partes destinadas a entrar em contato com o líquido ou alimento contido na garrafa térmica devem atender ao previsto na resolução nº 045/77 da CNNPA ou qualquer outra que venha substituí-la. Toda garrafa térmica deve ser identificada no corpo externo, em local visível, com as seguintes informações: classificação quanto ao tipo; capacidade nominal, em litros (L); o número desta norma; e outras informações exigidas pela legislação em vigor.

A norma exige que toda garrafa térmica deve ser acompanhada de uma instrução de uso, em português, onde constem as seguintes informações: utilização; limpeza; cuidados, incluindo a informação de que a garrafa térmica não deve ser agitada e que a garrafa térmica com bomba não é estanque; precauções; condições de garantia; alerta de que a capacidade volumétrica real da garrafa térmica pode ser inferior em até 10% da capacidade nominal; e outras informações exigidas pela legislação em vigor.

A instrução de uso deve ser redigida com letras de tamanho mínimo de 1,5 mm. As garrafas térmicas devem ser transportadas de maneira cautelosa, evitando-se solavancos e batidas que possam vir a causar danos à ampola de vidro. No recebimento e armazenagem, deve-se evitar o empilhamento exagerado. Neste caso, devem-se respeitar os avisos contidos nas embalagens e separar todo o produto que demonstre claramente estar com a ampola de vidro quebrada.

Enfim, os resultados obtidos na análise do Inmetro revelaram uma tendência de conformidade em relação aos requisitos técnicos vigentes na norma NBR 13282, pois apenas uma das marcas analisadas não atendeu a dois requisitos técnicos previstos pela norma brasileira aplicável ao produto. Contudo, a partir dos resultados encontrados, o Inmetro considera que a norma técnica utilizada como base para a realização dos ensaios deva ser revisada, não só pelo fato dela ter sido publicada em 1998.

Ou seja, foi editada há 18 anos, sendo que as boas práticas internacionais de normalização recomendam que as normas sejam analisadas sobre a ótica da necessidade de revisão a cada cinco anos, mas principalmente pelo fato dela restringir o desenvolvimento tecnológico do produto, a partir da definição de requisitos dimensionais e do tipo de material a ser utilizado. Diante disso o Inmetro solicitou à Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), o fórum nacional de normalização, a revisão da norma NBR 13282:1998 para contemplar os modelos de garrafas térmicas com revestimento metálico.

Mauricio Ferraz de Paiva é engenheiro eletricista, especialista em desenvolvimento em sistemas, presidente do Instituto Tecnológico de Estudos para a Normalização e Avaliação de Conformidade (Itenac) e presidente da Target Engenharia e Consultoria – mauricio.paiva@target.com.br