Tito Trindade, da Universidade de Aveiro (Portugal), considera que nenhum setor industrial deixará de obter benefícios com a nanotecnologia. Foto: Filipe Scotti

Estado já tem mais de uma dezena de empresas do segmento. Assunto foi discutido em Workshop na FIESC

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O consumidor pode vestir uma roupa composta por cápsulas ou partículas invisíveis a olho nu e que contenham propriedades hidratante, analgésica, de retardante de chamas, anticorrosivas ou repelentes de água ou mosquito. Essas estruturas, que podem ter a dimensão correspondente a um milésimo da espessura do fio de cabelo, podem ser aplicadas a diferentes materiais, entre os quais tecidos, produtos cerâmicos ou argilas. Trata-se da nanotecnologia, um segmento que vem crescendo no mundo inteiro que já congrega mais de uma dezena de empresas em Santa Catarina.

O assunto foi debatido no dia 5 de maio, no Workshop Soluções Inovadoras em Nanotecnologia para a Indústria Catarinense, promovido pela Federação das Indústrias de Santa Catarina (FIESC), por meio do Instituto Euvaldo Lodi (IEL), e pelo Laboratório Interdisciplinar para o Desenvolvimento de Nanoestruturas (Linden), da Universidade Federal de Santa Catarina. “Nenhum setor industrial deixará de obter benefícios da nanotecnologia”, afirmou Tito Trindade, professor e pesquisador da Universidade de Aveiro, de Portugal, na palestra de abertura.

Segundo Trindade, a nanotecnologia beneficia a indústria ao agregar valor, gerar novas oportunidades de negócios, reduzir custos e oferecer tecnologias mais eficazes e mais amigáveis ao meio ambiente. “Já o consumidor poderá ter acesso a novos produtos, que podem ser mais eficientes e mais baratos”, afirmou.

“A nanotecnologia representa um mercado em crescimento, de bilhões de dólares”, afirmou o coordenador do Linden, Dachamir Hotza. Ele destaca que o segmento vem crescendo Santa Catarina. “Temos, inclusive, uma que surgiu em Florianópolis e, apesar de ainda ser de pequeno porte, já tem escritórios em diversos países”, afirmou. São de pequeno porte, em sua maior parte startups (empresas iniciantes) e spin offs da UFSC (criadas por pessoas estudantes ou pesquisadores da instituição). Contudo, ressalta, “elas fornecem a tecnologia e contribuem para que grandes indústrias agreguem valor a seus produtos”. Na opinião do pesquisador, o desafio é “unir diferentes materiais gerando novas propriedades e aplicações dos produtos”.

No Workshop desta quinta-feira foram apresentados quatro cases de aplicação de nanotecnologia, por empresas catarinenses, com o apoio dos laboratórios associados ao Linden. O primeiro case foi o da aplicação de nanopartículas antimicrobianas, pela TNS, de Florianópolis. A empresa produz elementos à base de prata ou zinco que são incorporados a tecidos e tintas por outras indústrias destes segmentos.

O segundo caso, de funcionalização de nanoargilas, foi apresentado pela T-Cota, de Tijucas. Trata-se da aplicação de partículas de argila que podem ser adicionadas a outros materiais, como plásticos, agindo, por exemplo, no retardamento de chamas.

A Nanovetores, de Florianópolis, que atua nos segmentos de cosméticos, têxtil, veterinários, alimentar e odontológico, apresentou o case de nanoencapsulados. A empresa produz nano e microcápsulas que são adicionadas, por exemplo, a produtos têxteis, na produção de roupas que contenham funcionalidade hidratante, de repelente de mosquitos ou analgésica. A Nanovetores tem escritório nos Estados Unidos e outro em instalação na Suíça. Além disso, possui uma rede de 14 distribuidores internacionais, que promovem a venda do produto em 22 países. A empresa desenvolve projetos em parceria com o SENAI.

A Cetarch, de Criciúma, apresentou o case de materiais e superfícies nanoestruturados. Pode ser, por exemplo, a aplicação de nanopartículas sobre superfícies de fornos, azulejos ou mesmo vidros, com funções de melhorar aspectos como atrito e desgaste. É o caso de para-brisas de automóveis que, no contato com a luz solar, acionam um sistema de depuração do interior dos veículos.

No evento também foi lançado o livro “Nanossegurança: guia das boas práticas em nanotecnologia para fabricação e laboratórios”, de autoria de Leandro Berti e Luismar Porto. O objetivo da obra é desmitificar e aprofundar o debate sobre temas relacionados à segurança na produção e na aplicação de nanotecnologias. Ao término do evento, as empresas participantes realizaram uma rodada de negócios.