Um encontro extremamente positivo entre o Presidente da Petrobrás, Ivan Monteiro, e os principais membros da Associação de Engenheiros da Petrobrás (AEPET), só agora divulgado, pode ter marcado o início de um diálogo extremamente positivo, que só segmento de petróleo e gás vai ganhar. Há muito tempo a associação tenta uma conversa franca com o presidente da estatal, sempre recusada. Tanto por Aldemir Bendine quanto por Pedro Parente. Na visita à sede da AEPET, Monteiro foi recebido pelo presidente da associação, Felipe Coutinho, pelo vice-diretor de comunicação da AEPET e o conselheiro da Petros, Fernando Siqueira, e pelo economista da Petrobrás aposentado e sócio honorário da AEPET Cláudio Oliveira. O encontro foi no dia 29 de junho. Ivan Monteiro declarou sua intenção de esclarecer aspectos da sua gestão que têm sido criticados pela AEPET, em busca da convergência de entendimentos e de opiniões. A iniciativa da visita do Presidente foi muito bem acolhida pela AEPET, mas não houve convergência nos pontos de vista.

 

A AEPET entende que a principal meta do Plano de Negócios 2018-2022 não é adequada à companhia. Para a associação, uma empresa integrada de petróleo e energia,  tanto o indicador Dívida Líquida/EBTIDA, quanto sua meta (2,5) e prazo (2018) são inadequados para uma companhia como a Petrobrás. A AEPET vê que tem potencial de crescer em termos de produção e geração de caixa. A dívida existente, para os líderes da associação, é perfeitamente administrável e, no entendimento deles, “adotar este indicador e prazo justificaria a privatização de ativos estratégicos e rentáveis, com prejuízo para a geração de caixa futura, assume riscos empresariais desnecessários, desintegrando a Petrobrás.”

 

Segundo o Presidente Ivan Monteiro, a venda de ativos colocou a Petrobrás no controle da sua dívida. Na visão da AEPET, esta venda representou prejuízo para geração de caixa, risco e desintegração absolutamente desnecessários: “Entendemos que é razoável qualquer empresa fazer gestão de seus ativos, vender, comprar e os priorizar. Com a descoberta do pré-sal, no final de 2006, é natural que a Petrobrás reoriente seu portfólio de ativos. No entanto, isso não significa alienar US$ 35 bilhões entre 2015 e 2018, abandonando setores estratégicos e ativos rentáveis, além de descaracterizar uma moderna empresa integrada de petróleo e energia.”

Felipe Coutinho (esquerda) e Fernando Siqueira

A AEPET listou alguns  pontos de vista e colocou à  disposição do Presidente Ivan Monteiro para detalhar os dados que desejasse:

Veja a lista apresentada pela AEPET

1) A venda da malha de gasoduto do Sudeste e a sua operadora NTS é, segundo a visão da AEPET, uma temeridade sob o ponto de vista estratégico e financeiro. Trata-se da malha que transporta o gás natural, inclusive do pré-sal, e que regula a produção de óleo uma vez que este é associado ao gás. Se houver qualquer problema na produção e transporte do gás, a produção de óleo fica comprometida. A equipe do presidente acha que possuir os gasodutos não é importante;

2) A venda do campo de Carcará que o presidente Ivan Monteiro e sua equipe consideram que foi bom negócio, para nós não foi. Carcará é um dos melhores campos do pré-sal pela pressão maior, melhor qualidade do óleo e facilidade de ser produzido. Segundo especialistas, Carcará tem uma reserva da ordem de três bilhões de barris, mas pode chegar a seis bilhões. Foram vendidos 66% de propriedade da Petrobrás por somente US$ 2,5 bilhões.

Além disto, a área norte de Carcará, que também foi comprada pela Statoil, tem potencial maior que o do próprio campo de Carcará. E a Petrobrás sequer concorreu no leilão em que ela foi posta à venda. No último leilão, a área de Uirapuru, próxima a Carcará, também promissora, a Petrobrás concorreu e perdeu;

3) Outra grave divergência é a questão da dívida da Petrobrás. Temos demonstrado que a dívida pode ser facilmente administrada sem as privatizações planejadas,

Claudio Oliveira

uma vez que a Petrobrás tem reservas em caixa acima dos US$ 22 bilhões, geração de caixa crescente, acima dos US$ 27 bilhões por ano e elevado índice de liquidez corrente (1,9 em 2017). Assim como possui no pré-sal acumulação com potencial superior a 40 bilhões de barris, tendo, portanto, facilidade de obter recursos de terceiros a menores custos em comparação com obter recursos com a venda das reservas e dos ativos rentáveis. Mas o presidente da Petrobrás diz que: “o petróleo no subsolo não vale nada”. Ora, como é do conhecimento de diversos profissionais e analistas do mundo do petróleo, muitas guerras, ocorridas a partir da primeira guerra mundial, foram causadas pela necessidade e cobiça pelo petróleo, exatamente aquele que está no subsolo. Os países ricos da Europa, da Ásia e os EUA são dependentes do petróleo estrangeiro. Assim, o pré-sal dá ao Brasil um poder geopolítico imenso. Inclusive créditos fartos no sistema financeiro;

4) Também discordamos com relação a qualidade dos investimentos entre 2009 e 2014 e sua influência no endividamento da Petrobrás. O presidente Ivan Monteiro afirmou que 90% do endividamento da Petrobrás foi consequência de investimentos improdutivos, aqueles que não geram valor para a companhia. Discordamos totalmente desta assertiva e argumentamos que até hoje a Petrobrás realizou a reavaliação do valor contábil dos ativos (impairments) de menos de 10% do montante investido entre 2009 a 2014 que superaram US$ 250 bilhões;

5) A privatização das refinarias é outro ponto de discórdia. Entendemos que são vitais para garantir a geração de caixa da Petrobrás diante da variação dos preços relativos do petróleo e dos combustíveis. Garante que a companhia acesse o mercado brasileiro que é grande e tem potencial de crescer, porque nosso consumo per capita de energia é ainda relativamente baixo. O mercado brasileiro do refino é aberto e competitivo, faz parte da bacia do Atlântico, como demonstra a recente invasão do mercado pelo diesel produzido nos EUA, resultado dos preços altos da Petrobrás no mercado interno.

É descabida a exigência de preços internacionais como condição para investimentos no refino. Ainda mais estranho é o desejo de impedir à ação do Estado Brasileiro no setor;

6) Quanto à Liquigás, outra divergência, a AEPET lembrou que ela é uma grande Geradora Operacional de Caixa visto que a margem de distribuição do GLP é de 50%, uma imoralidade, ainda mais pelo fato de que o GLP é um insumo social, pois mais de 90% dos brasileiros o usam para preparar seus alimentos. Sugerimos uma iniciativa da Petrobrás de reduzir essa margem absurda e a correspondente redução dos preços em até 40%. A assessoria do presidente considera esta margem adequada e que não poderia reduzir os preços porque os concorrentes processariam a Liquigás por dumping;

No encontro, a AEPET disse que não houve tempo para tratar da política de preços por isso ficou acordado a realização de uma próxima reunião, na Petrobrás, cuja pauta incluirá refino, biocombustíveis e política de preços. Apesar das divergências, esse encontro foi muito  positivo.  O diálogo leva a esclarecimentos mútuos e a possibilidades de correção de rumos. Por aceitar a reunião, o Presidente da Petrobrás andou três casas pra frente e merece elogios por isso. (Petronotícias)