OLED desenvolvido pelo pesquisador Hernane Barud, no Laboratório de Materiais Fotônicos da Unesp

Celulose e óleo de mamona são a base do substrato desenvolvido em laboratório da Unesp

Pesquisadores do Laboratório de Materiais Fotônicos da Unesp, localizado no campus de Araraquara, desenvolveram um biomaterial a base de óleo de mamona e celulose bacteriana que pode substituir o uso do vidro em diversas aplicações, como em telas de celulares e televisores de alta definição, reduzindo, por exemplo, o impacto ambiental que acarreta o uso e descarte deste material.

A pesquisa figurou na capa da última edição da Journal of Materials Chemistry C, da prestigiada Royal Society of Chemistry, do Reino Unido. A revista científica publica semanalmente pesquisas de impacto na área de novos materiais com foco em tecnologia de display, materiais ópticos, eletrônicos, magnéticos e armazenamento.

Existe hoje uma tendência no desenvolvimento de tecnologias para substituir as telas LED (diodo emissor de luz), por materiais orgânicos capazes de desempenhar a mesma função, os chamados OLED (diodo emissor de luz orgânico). Os OLEDs tem a vantagem de apresentarem camadas mais finas, reduzindo o consumo de energia e permitindo flexibilidade ao material. Além disso, o material pode ser sintetizado em laboratório, diminuindo o uso de recursos naturais.

O OLED é formado, em geral, por uma série de camadas orgânicas responsáveis, por exemplo, pela condutividade e luminescência do material. Essas camadas são amparadas por um substrato, na maioria das vezes o vidro. O substrato desenvolvido pela equipe do Laboratório de Materiais Fotônicos utiliza uma celulose bacteriana que é produzida a partir da bactéria Gluconacetobacter xylinus. O biomaterial, além de flexível, apresentou uma transparência que o torna capaz de substituir o vidro.

“A maior parte dos compósitos desenvolvidos a partir da celulose bacteriana possuem uma característica opaca. O uso de um poliuretano, o óleo da mamona, deu a transparência necessária ao material para substituir o vidro”, explica o pesquisador Hernane Barud, que trabalha no Laboratório de Materiais Fotônicos, do Instituto de Química (IQ) da Unesp.

Todo o trabalho foi desenvolvido no Brasil envolvendo centros importantes, como o Instituto de Química da Unesp, na colaboração dos professores Sidney Ribeiro e Younes Messaddeq, do doutorando Robson Silva, do doutor Maurício Palmieri e da doutora Elaine Rusgus, a PUC-RJ, na colaboração dos doutores Marco Cremona e Vanessa Calil, e o Inmetro do Rio de Janeiro, na colaboração do doutor Wagner Polito, docente da USP de São Carlos.

Outro aspecto positivo da pesquisa foi conseguir criar um material plano. De acordo com o artigo, a rugosidade é inferior a um nanômetro. O pesquisador de Araraquara destaca que esta baixa medida de rugosidade nunca havia sido registrada na literatura científica para este tipo de substrato. “Se eu tiver uma matriz muito rugosa, as camadas do OLED podem se romper, afetando a continuidade do filme”, explica o cientista.

O pesquisador, que concluiu mestrado, doutorado e pós-doutorado na Unesp, acredita que o perfil multidisciplinar da pesquisa colaborou para figurar na capa da revista da Royal Society of Chemistry. “Esta é uma revista importante em materiais aplicados e com uma repercussão muito grande. Acredito que o nosso trabalho foi escolhido porque envolve uma série de etapas multidisciplinares como a síntese do polímero, a obtenção de um substrato de origem biotecnológica, a tecnologia aplicada ou o foco em um produto verde”, avalia o pesquisador e professor do Centro Universitário Araraquara.

Clique aqui para ler o artigo Transparent composites prepared from bacterial cellulose and castor oil based polyurethane as substrates for flexible OLEDs, publicado no Journal of Materials Chemistry C, da Royal Society of Chemistry.

Leia reportagem na Revista Pesquisa Fapesp
http://revistapesquisa.fapesp.br/2015/11/12/quimicos-criam-dispositivo-flexivel-que-emite-luz/