Nova diretoria, novas ideias. O executivo Claudio Makarovsky, que lidera a área de óleo e gás da Siemens, foi recentemente escolhido como diretor-presidente da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Petróleo (ABESPetro). E uma de suas metas à frente da entidade é diminuir o tempo entre a assinatura de contrato de exploração de campos de petróleo e a produção do primeiro óleo. “No Brasil, isso demora 10 anos. Já no México, por exemplo, já estão perfurando poços que foram leiloados há dois anos atrás”, explica. A entidade apresentou um programa que prega as medidas necessárias para reduzir esse período de 10 anos para 4 anos. A meta é revelar ao mercado até o final de maio o detalhamento desta iniciativa. Em abril, a associação se mudará para uma nova sede e também lançará uma ferramenta de gestão de fornecedores. Sobre os objetivos gerais da ABESPetro a partir de agora, Makarovsky resume: “A nossa meta é transformar nossa indústria em exportadora. Os temas de competitividade, financiabilidade, P,D&I e facilidade na obtenção de licenças ambientais serão muito trabalhados”.

Quais são seus principais desafios à frente da Abespetro?

O primeiro desafio é resolver o veto ao Repetro no Rio de Janeiro. Tivemos representantes nossos em Rio das Ostras (RJ), em reunião com os prefeitos da Organização dos Municípios Produtores de Petróleo (Ompetro). Este veto realmente vai empurrar muita empresa do Rio de Janeiro para outros estados, principalmente São Paulo.

Outro grande desafio é trabalhar em recuperação de poços maduros, para reativar a Bacia de Campos. Existe uma publicação da Agência Nacional do Petróleo (ANP) dizendo que se aumentarmos o fator de recuperação em 1%, teremos US$ 8 bilhões em investimentos e US$ 5 bilhões em royalties a mais. Os poços maduros não estavam, anteriormente, tão atraentes. Mas a ANP fez uma movimentação no final do ano, alterando os royalties para tentar atrair o foco para esses campos. Mas este tema do Repetro afeta esse investimento. Ninguém vai trazer equipamentos se tiver de pagar ICMS.

Por fim, temos também o programa “10 anos em 4”, lançado no dia da nossa posse. Nele, queremos trabalhar na redução do hiato que existe entre a assinatura de contrato e o primeiro óleo. No Brasil, isso demora 10 anos. Já no México, por exemplo, já estão perfurando poços que foram leiloados há dois anos atrás. Em breve, estaremos lançando um documento onde detalharemos como alcançar esta redução de tempo.

Qual seria o impacto do veto ao Repetro no Rio de Janeiro?

Nós fizemos uma análise baseada na diretoria da Abespetro e na experiência do secretário executivo Gilson Coelho. Chegamos a um número bastante assustador: 20 mil empregos diretos. Como cada emprego direto impacta em quatro indiretos, acreditamos que cerca de 100 mil empregos poderão ser afetados diretamente e expatriados para outros estados.

Sobre o lançamento do documento detalhando o programa “10 anos em 4”, existe alguma data definida?

Não temos data fixa, mas acredito que até o final de maio já esteja pronto.

E pode citar alguma medida que estará neste documento?

Ele está baseado em quatro pilares. O primeiro é licença ambiental. Não queremos mudar metodologia, e sim trazer boas práticas ao País que possam ser aplicadas aqui sem mudança de regras. Por exemplo, uma prática comum no desenvolvimento de um campo no Brasil é que cada vez que é furado um poço novo deve-se iniciar um processo de licenciamento do zero. A mesma coisa acontece na área de sísmica. Sendo que poderíamos seguir as melhores práticas [existentes hoje], gerando um tipo de licença incremental. Por que não criar uma metodologia de autocertificação?

O segundo tema é sobre tarifação. Por exemplo, situações de fundo de mar inclinado que não foram previstas durante a sísmica, óleo de baixa qualidade, dificuldades nas completações de poços, entre outras dificuldades. Então, seria interessante que o processo de tributação de um processo mais difícil fosse menor do que um projeto de alto rendimento, como o pré-sal.

O terceiro ponto, que já está praticamente regulamentado pela ANP, é usar as reservas provadas como recebíveis, para melhorar a financiabilidade. E o quarto ponto, que é extremamente crítico, é a cláusula de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (P,D&I). A associação gostaria que ela fosse menos burocrática, com um viés de desenvolver mais a engenharia local.

Qual será o principal benefício com a implantação destas medidas?

Em linhas gerais, a indústria local se tornará exportadora, com competitividade internacional. Este é o principal objetivo. Também almejamos que o primeiro óleo tenha seu tempo reduzido, com retorno de investimento em 4 anos e não em dez.

O senhor pode citar os principais pontos que diminuem a competitividade da nossa indústria no exterior?

Se você observar, a Petrobras não está mais comprando plataformas, e sim afretando. Então, este modelo de negócio vai migrar para a cadeia. Dessa forma, um consórcio que constrói a plataforma vai começar a ter esta mesma visão [de optar pelo afretamento] em relação aos seus fornecedores. Por isso, imaginamos uma mudança de cenário. Financiabilidade tributária é uma questão crítica, que o Repetro praticamente resolve. A financiabilidade também é crítica e imagino que bancos como o BNDES deveriam entrar mais fortemente neste sentido. E em terceiro, a indústria precisa de previsibilidade – que cria volume, derruba custos e ajuda a melhorar práticas. Já temos uma indústria competitiva. O que precisamos é externar isto para outros elos da cadeia.

E quais são os próximos passos da Abespetro em 2018?

Nós estamos nos transferindo para uma nova sede, no início de abril, muito maior e mais confortável. Isto vai permitir uma integração maior e mais facilidade para os comitês. A Abespetro trabalha com vários comitês, com quase 600 voluntários, e precisávamos de um espaço maior. Outra novidade é que esperamos anunciar em breve é uma nova ferramenta de gestão de fornecedores. Devemos lançar oficialmente dentro de um a dois meses. A ferramenta será chamada GestFor.

A nossa meta é transformar nossa indústria em exportadora. Os temas de competitividade, financiabilidade, P,D&I e facilidade na obtenção de licenças ambientais serão muito trabalhados.

Como o senhor avalia o momento atual de mercado?

A expectativa é que retomemos as atividades. Recentemente, a empresa Shandong Kerui, em parceria com a Método, assinou o contrato de retomada das obras da UPGN do Comperj. A Seadrill já começou a perfurar poços em Carcará. A Petrobrás contratou dois FPSOs com a Modec e esta, por sua vez, já começou a subcontratar (compressores, módulos elétricos, separação de água e assim por diante). Temos no mercado, atualmente, a Petrobrás consultando  varios FPSOs – Marlim I &II, além de Mero 2, Integração Parque das Baleias e Búzios V (que teve entrega de proposta adiada para 13 de abril). Ou seja, é a primeira vez nos últimos 7 anos que tivemos tantas encomendas e movimentação na área de exploração e produção e em no Gas. Outro movimento grande é o desinvestimento da Petrobrás, com uma disputa muito boa em relação ao ativos da TAG. Isto significa que nosso mercado está cada vez mais atraente.

Em relação as discussões sobre conteúdo local, como a Abespetro se posiciona?

Nós participamos de todas as discussões. Tivemos a felicidade de conseguir sentar, no ano passado, com todas as entidades representativas e chegar a um consenso. Quando achávamos que estava tudo encaminhado, duas entidades (Abimaq e Instituto Aço Brasil), por meio de um deputado do Rio Grande do Sul, apresentaram um projeto de lei, colocando um pouco de água na fervura, criando uma postergação da decisão.

Hoje, temos duas discussões: uma sugestão de resolução à ANP e um projeto de lei. Nós, particularmente, achamos que o projeto de lei engessa um pouco. É muito difícil mudar a lei. Já uma resolução da ANP seria melhor, em função da mudança do mercado num futuro próximo. Estamos aguardando a última publicação da ANP, que deve sair em uma ou duas semanas. Segundo a agência, esta sugestão vai agradar a todos.

Nesta semana, teremos a 15ª Rodada da ANP. Qual a sua expectativa?

A rodada será benéfica. Ela está trazendo novas empresas, como a Petronas, Murphy Oil e Cobra. Isto significa dinheiro novo e experiência nova. (Petronotícias