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Estaleiro Mauá foca em reparos navais e serviços portuários para crescer
O Estaleiro Mauá teve alguns percalços no passado recente – principalmente por conta de uma de suas empresas, a Eisa Petro 1, que construía navios para a Transpetro, mas acabou tendo as obras paralisadas após questões judiciais e desentendimentos com a estatal –, mas nos últimos meses o grupo vêm redefinindo algumas de suas prioridades e dando uma ênfase maior a dois focos: reparos navais e serviços portuários. Neste último, o gerente de terminal portuário, Heitor Ciuffo, conta que o projeto do estaleiro é se estabelecer como uma plataforma portuária industrial, atendendo a diversas demandas dos clientes, desde a logística até a parte de serviços ambientais, destacando a localização, na Baía de Guanabara, como um fator atrativo ao mercado. “E nós temos 680 metros de cais dentro dessa baía, com todas as legalizações ambientais, outorgas e condições. Então isso vale muito. É um grande facilitador em termos de custo”, diz.
O gerente geral de reparos navais do Mauá, William Lima, também destaca os planos para o atendimento ao setor portuário, mas reconhece que atualmente as atividades de reparos ainda são o principal gerador de receita para o grupo, que pretende usar esse serviço já consolidado para conquistar novos negócios. “[O cliente] pode vir com uma necessidade de reparo e também terá as facilidades de atendimento portuário”, afirma.
Como está o momento para o Estaleiro Mauá?
William Lima – Hoje o estaleiro Mauá tem três segmentos. Estamos desenvolvendo a plataforma portuária, englobando tanto a parte de terminal portuário quanto a de reparos navais, que hoje vem sendo uma das nossas principais atividades. E trabalhamos em 2016 muito focados nessa parte de reparos, de apoio offshore, marinha mercante etc. É o que tem gerado os principais recursos para a empresa.
Além disso, temos esse complemento que é a parte de terminal portuário, que traz um outro serviço para os clientes. Ele pode vir com uma necessidade de reparo e também terá as facilidades de atendimento portuário. Temos equipes voltadas a estrutura de caldeiraria, tubulação, pintura etc.
O Estaleiro um tempo atrás estava muito mais focado na construção de grandes unidades offshore, como navios petroleiros, mas, com a mudança no mercado isso acabou ficando um pouco parado. Neste novo cenário, vocês esperam voltar a essa atividade ou a estratégia é focar mais em reparos e no atendimento portuário?
William Lima – Na realidade, a tendência é a gente voltar com a construção sim. Isso continua em evidencia para o estaleiro. Estamos em negociação com nossos clientes. O principal deles é a Transpetro, que está em contato com o estaleiro. Teve, de fato, uma parada. Vamos chamar de suspensão. Não houve rescisão nem nada, mas suspendeu-se até que essa negociação seja concluída. E hoje temos dois navios atracados lá, em fase avançada de acabamento, com praticamente 93% de conclusão em um e 88% no outro, que são os cascos 512 e 513. Mas esses navios são do estaleiro Eisa Petro 1, e não do estaleiro Mauá. As pessoas confundem, porque estão no mesmo local, mas é outra empresa do grupo. Chegaram a falar que o estaleiro Mauá foi fechado, mas não teve isso. E são empresas diferentes.
Heitor Ciuffo – Os contratos com a Transpetro necessitavam de criação de Sociedades de Propósitos Específicos para cada contrato, então foi criada uma empresa que tinha o único proposito de fazer navios para serem entregues para a Transpetro. Então ela não é a razão social do Mauá, mas ela utiliza o site, parte das instalações do estaleiro Mauá, que é de construção naval, reparos e terminal portuário. A empresa EP1 usa só a parte de construção naval.
No caso desses dois projetos do Eisa Petro 1, eles atualmente estão parados?
Heitor Ciuffo – Aguardando decisões judiciais.
Como está essa conversa?
Heitor Ciuffo – Teve vários momentos, porque a Transpetro não se definia…
Mas e depois que mudou a presidência?
Heitor Ciuffo – Agora começamos a perceber uma mudança de comportamento positiva. Ela já fez algumas vistorias nos navios, já elogiou a forma como estamos preservando os cascos, porque não foram abandonados. Gastamos homens-hora de trabalho para isso. Então a conversa é positiva, mas demanda um entendimento das partes.
E deram algum prazo?
Heitor Ciuffo – Não. Não temos prazo. Não temos essa informação. Mas o que a gente acredita é que ali há um patrimônio, um ativo de que a empresa precisa, então em algum momento breve isso deve ser resolvido.
No contrato, quantos navios estavam previstos?
Heitor Ciuffo – Nesse contrato eram quatro. Um foi entregue, dois estão em acabamento e outro está na carreira.
Já houve alguma renegociação em relação a este quarto navio?
Heitor Ciuffo – Não tenho essa informação. Acreditamos que tudo esteja parado na justiça.
O conteúdo local gerou muitos investimentos, acredito que inclusive no Estaleiro Mauá, mas agora a política está sendo revista. Como veem esse momento de rediscussão do conteúdo local e qual a importância dele para o Mauá e os estaleiros nacionais como um todo?
Heitor Ciuffo – Essa questão é muito abrangente. É difícil responder em nome da indústria. Podemos falar do trabalho do nosso estaleiro. Quando ele constrói embarcações do porte que se pretende fazer, ele emprega muitas famílias, numa ordem de grandeza de 3,5 mil a 4 mil famílias. Só para um estaleiro fazer esse navio. Tem que ser feito um equilíbrio de valores que suporte esse custo, essa equação. Para ele se manter firme, precisa de continuidade nas obras, o que não percebemos. Então talvez o estaleiro chegue a um momento em que prefira ser menor, atuando em reparos, logística e atendimento ambiental, que são serviços perenes, talvez empregando 10% desse quantitativo que falei, mas que tenha trabalho o ano inteiro e garanta a ele conseguir pagar sua folha de pagamentos. Ao invés de ter grandes obras, que não são contínuas, por questões de política, desenvolvimento nacional, para não ficar passando por situações de desemprego dessa classe de trabalhadores. É essa equação que o governo tem que entender e ajudar a fechar. Essa é uma opinião particular, até porque não sou da área industrial do estaleiro, mas assisto isso como qualquer cidadão.
William Lima – Acaba alavancando. Esse percentual que o governo colocou de conteúdo local acabou forçando um pouco o desenvolvimento interno. Para os estaleiros, com certeza foi positivo. Mas no momento em que vai abrindo esse leque, não sabemos até onde vai refletir.
E como estão as atividades portuárias?
Heitor Ciuffo – O nosso projeto atual se trata de uma plataforma portuária industrial. O nosso cliente, que é o armador, tem várias demandas – desde um pequeno defeito na embarcação, um conserto, um plano de certificação ou uma necessidade de modernização –, e temos essa expertise de engenharia naval dentro do Estaleiro Mauá. O primeiro pé é esse, enquanto outro é a logística. O nosso cliente tem navios para prestar serviços, muitas vezes a plataformas de petróleo; movimentando pessoas, bens e insumos, por exemplo. Então temos um terminal portuário que oferece serviços numa qualidade superior inclusive aos portos públicos, que têm várias limitações, principalmente de mão de obra. Nós oferecemos soluções baseadas na qualidade, no baixo custo e na produtividade.
Há ainda um terceiro pé dessa plataforma, que é a área ambiental. Ou seja, os clientes têm demandas como retirada de resíduos, limpeza de tanques etc, e todos os serviços são feitos de acordo com normas certificadores, inclusive da Antaq, que nos fiscaliza e regula a atividade portuária. Então através dessa atividade abrimos dois braços, para atender ao mercado, seja na movimentação de cargas ou em demandas ambientais. E no braço de engenharia, temos as atividades normais do estaleiro.
Quais as perspectivas desse mercado?
Heitor Ciuffo – A primeira coisa que a gente coloca é que estamos na Baía de Guanabara, o que significa que estamos num cluster de fornecimento de diversos tipos de mão de obra, de expertises diversas, próximo a um aeroporto internacional, um porto alfandegado, a um grupo de possibilidades de desenvolvimento industrial, a universidades e com facilidade logística e de deslocamento. E nós temos 680 metros de cais dentro dessa baía, com todas as legalizações ambientais, outorgas e condições. Então isso vale muito. É um grande facilitador em termos de custo.
Temos o projeto todo definido por parte do nosso cliente hoje, mas nossa intenção, assim que consolidarmos a nossa plataforma portuária, é dar outro passo, em que nos aproximaremos do cliente não no momento em que ele está buscando uma solução junto à área comercial, mas sim na discussão do projeto dele. Porque nós temos parcerias com recintos alfandegados, temos um departamento de comércio exterior e despachantes aduaneiros, então temos todos os recursos para baixar os custos de logística dos nossos clientes.
Além disso, fizemos obras para melhorar nossas instalações, inauguramos novas salas, para atender os clientes da melhor forma possível.
William Lima – Temos pesquisas de satisfação com nossos clientes que mostram excelentes avaliações, com uma aprovação média de 95% a 96%. (Petronotícias)
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