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Brasil desperdiça chance de ter seu carro elétrico, diz ex-ministro
Fundador da Embraer, uma das mais importantes empresas aeroespaciais do mundo, o engenheiro e ex-ministro da Infraestrutura Ozires Silva diz à Folha que seus planos iniciais eram criar uma montadora nacional de automóveis.
Prestes a completar 83 anos, ele ainda acredita nesta possibilidade. "Mas acho que o país já está perdendo mais essa janela de oportunidade", diz, criticando a falta de uma política de estímulo a carros elétricos.
Para ele, o veículo nacional poderia usar o próprio etanol como fonte de energia, seguindo o princípio dos elétricos a célula de hidrogênio, que não precisam ser recarregados na tomada.*
Pergunta - O Brasil tem uma das maiores empresas aeroespaciais do mundo, a Embraer, que foi fundada pelo sr. em 1969 e que hoje atua em um segmento altamente tecnológico. Por que o país não tem uma marca própria de automóveis sendo o quarto maior mercado consumidor?
Ozires Silva - O Conselho de Desenvolvimento Industrial [CDI], criado pelo então presidente Kubitschek, nos anos 1950, tinha regras que jamais permitiriam a criação de um automóvel nacional. Eu disse isso ao governo na época, mas fui voto vencido. Depois, quando caiu na minha mão a decisão de construir aviões, pude seguir uma rota diferente do CDI e criar uma aeronave de concepção e marca locais.
Então a sua ideia inicial era fomentar uma montadora de carros brasileira?
Claro. Mas o governo fixou que o interessado deveria ter experiência, capital, recursos humanos, propriedade intelectual e posição no mercado externo. Com todas essas exigências, quem quisesse montar uma marca nacional seria desencorajado.
Gabo Morales - 27.nov.12/Folhapress |
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Ozires Silva durante a entrega do prêmio em São Paulo |
Até países nanicos dentro do cenário automobilístico, como a Noruega, aproveitaram essa recente onda da eletrificação dos carros para criar montadoras. O sr. acredita que a tendência possa trazer uma nova chance para uma marca de carros nacionais?
Acho que sim. Mas o país já está perdendo mais essa janela de oportunidade, enquanto o mundo inteiro está se movimentando para desenvolver esse tipo de produto.
Sabemos que é muito mais difícil empreender por aqui. Temos desvantagens como a complicação burocrática e o custo Brasil.
Por isso ouvimos "vamos trazer a tecnologia de fora, vamos trazer automóvel de fora". Essa palavra "trazer" nos põe numa situação de segunda classe. Mas podemos gerar coisas novas.
Veja o exemplo dos nossos aviões.
Como seria o carro elétrico nacional?
Existem várias soluções. Uma delas é o carro com motor elétrico movido a célula de hidrogênio, que já foi apresentado no Japão [e não precisa ser recarregado na tomada].
O problema desse sistema é a autonomia reduzida aos padrões a que estamos acostumados a rodar. Isso se deve também ao fato de o combustível ser gasoso, menos concentrado.
O etanol líquido, por ter moléculas de hidrogênio em sua composição, poderia ser uma boa alternativa. Até porque já existe uma rede de distribuição desse combustível por todo o país. Com a tecnologia atual, seria possível isolar o hidrogênio do etanol.
Não seria muito caro?
Claro que um carro elétrico nacional com essa tecnologia será muito mais caro que os veículos que eu posso comprar ali na esquina. Mas automóvel convencional só é mais barato porque sua escala de produção é muito grande. Tente usinar um motor a combustão na garagem da sua casa para ver o quanto ele não custaria. Você não pode pegar um troço absolutamente novo e querer que ele comece a um preço inferior.
O sr. presidiu a Petrobras no final dos anos 1980, logo após a criação do Pró-Álcool. O que acha da atual política do biocombustível no Brasil?
É uma política errática, pois o preço do etanol não pode ser atrelado ao da gasolina. Enfrentei discussões sérias com o governo em 1985, mas fui voto vencido. Preguei que isso poderia trazer essa colisão no futuro.
Fonte: Folha/ Felipe Nóbrega
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