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Sem acordo com a Petrobras, mais um consórcio paralisa obra no Comperj, com mil demissões

Devo não nego, pago quando puder. O ditado é velho, mas a Petrobrás está estreando nas obras  do Comperj uma nova roupagem para ele: devo não pago, nego enquanto puder. A decisão de não pagar os aditivos das obras de construção da Tubovia ao consórcio de empresas responsável pelo contrato, liderado pela Andrade Gutierrez, obrigou a desmobilização da operação e a consequente demissão de quase mil operários. Com isso, o Parque industrial todo do Comperj estará praticamente abandonado, sem nenhuma obra. O que já era ruim, piorou. Parece ficção, mas é a realidade.

Para alguns especialistas, embora absurda, já era uma decisão esperada. Depois da paralisação do contrato de construção da Unidade de Processamento de Gás Natural – UPGN – não fazia sentido mais prosseguir com as obras da tubovia. No dia 30 de setembro, o consórcio formado pela Queiroz Galvão, Tecna e Iesa, decidiu parar as obras e entregar o contrato por não conseguir suprir as necessidades financeiras da operação. Mas, neste caso, a Petrobrás precisa ser inocentada. A construção da UPGN era uma das obras que tinha maior conteúdo nacional na execução do Comperj. Quando assinou o contrato, o consórcio apostou num trabalho eficiente, já que o preço estava quase no limite da real capacidade de realização.

Durante a obra, foi decidido pelas empresas contratarem vários equipamentos no exterior, principalmente na Índia, já que era atrativo o preço no mercado internacional, mesmo com a possibilidade do pagamento de multas para a ANP pelo descumprimento das exigências de conteúdo local. Ainda assim, seria vantajoso, pelo que concluiu a gestão do consórcio. Com a recente disparada do dólar e a incerteza do mercado de câmbio, agravada pelas crises econômica e política, ficou inviável fazer o pagamento das encomendas no exterior. O consórcio buscou a Petrobrás para fazer novos ajustes no preço. Acertadamente, o seu diretor de engenharia, Roberto Moro, negou um novo aporte.

A estatal já havia decidido que apenas a UPGN iria operar no Comperj nesta fase difícil. Mas para isso outras unidades precisariam ser completadas. Para que ela funcionasse, seria preciso concluir a Unidade de Centrais de Utilidade, que está sob a responsabilidade do consórcio TUC, formado pela Toyo, UTC e Odebrecht; o Pipe Rack, sob a responsabilidade do consórcio CPPR, formado pela Odebrecht, UTC e Mendes Junior; e a Tubovia, obra liderada pela Andrade Gutierrez. A previsão para os primeiros testes e entrada em operação do Comperj seria outubro de 2017. Mas isso não vai acontecer.

Na prática, parece que o Brasil é um país tão rico que é capaz de se dar ao luxo de, depois de quase pronto, deixar o Comperj passar de joia da coroa para um futuro parque de sucatas, se não houver um trabalho rápido e eficiente de manutenção de todos os equipamentos já instalados, sem uso, sem operação. Como se diz na engenharia, obra cara é obra parada. Neste caso, são bilhões de reais que podem ter ido para a lata do lixo caso não haja uma decisão rápida de se retomar os trabalhos.

A espada da precipitação agora está apontada para o pescoço da Petrobrás. Ao punir preventivamente as 26 maiores empresas de engenharia brasileira, a estatal, na época dirigida por Graça Foster, acabou por jogar a economia do país num estado de letargia. A decisão foi tão precipitada quanto confusa. Ao mesmo tempo em que punia as empresas, mantinha com elas outros contratos de construção, numa relação de amor e ódio. As consequências ficaram para o presidente Aldemir Bendine, que embora esteja trabalhado muito, ainda não conseguiu soluções que possam fazer a empresa ter dias melhores. A dúvida é se ele, homem da área financeira, será capaz de solucionar problemas da área de petróleo e salvar a empresa que está namorando com o fundo do poço. De um poço com a profundidade do pré-sal. (Petronotícias)



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