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Que não se perca o valor da engenharia


Romeu Chap Chap*

A engenharia está na vida de todos nós. Aliás, a cada dia, mais a vida depende da engenharia para ser vivida.

Ela está no alimento, no saneamento básico e na água que chegam (ou deveriam chegar) a cada brasileiro. O direito de ir e vir é engenharia. Pegar a estrada, chegar à estação, zarpar, decolar... carro, ônibus, trem, metrô, navio, avião...

Essa disciplina está na energia e nas telecomunicações; no uso racional e preservação dos recursos naturais e florestas; no tecido de nossas roupas; nos medicamentos que curam e previnem doenças. E poderíamos citar centenas de outros exemplos. Afinal, estamos falando de 34 engenharias, todas elas essenciais a distintas atividades econômicas e humanas.

Fica claro, portanto, que esse ramo profissional não é apenas obra pública. É muito, muito mais!

Hoje, mediante os lamentáveis esquemas de corrupção que envolvem organismos governamentais e empreiteiras de obras públicas, a generalização termina por atingir indevidamente a figura do engenheiro e a própria engenharia.

É preciso impedir tal injustiça. Os esquemas de corrupção que estão sendo efetivamente investigados representam uma vitória dos brasileiros. Graças a firme atuação da Polícia Federal (o nosso FBI), os verdadeiros culpados são e serão punidos.

Legitimamente, a sociedade exige e pressiona. Dá um basta à corrupção que tanto nos envergonha e coloca o Brasil em nítida desvantagem em relação aos investimentos (internos e externos). Agrava-se, assim, a crise de confiança instalada por conta das condições macroeconômicas e o cenário político-institucional.

Porém, é preciso enxergar que corrupção também é efeito de uma causa que deve ser imediata e corajosamente enfrentada: a mão do Estado, que não para de aumentar e pesar sobre todos nós

O governo, que ocupa espaço cada vez maior na economia, não costuma ser bom comprador. Burocracia e complicações de toda ordem são exemplos de uma situação perversa que não atende o País na velocidade exigida por suas crescentes necessidades de infraestrutura e outros serviços.

No campo da infraestrutura, a atual Lei de Licitações favorece a concorrência predatória (vale o menor preço) e não prioriza o projeto, sem o qual é impossível saber o que fazer, como, por quanto e quando. Muito do que assistimos Brasil afora, com obras custando o triplo ou mais do originalmente orçado, além daquelas paralisadas, é em boa parte consequência da legislação.

O projeto é o antídoto que o Brasil precisa par evitar desvios e malfeitos. Portanto, é preciso mudar a ordem dos fatores: antes, a licitação do projeto; depois, a licitação de sua execução. Além disso, grandes obras não precisam ser necessariamente feitas por grandes empresas. O que vale é a capacidade técnica.

No setor imobiliário, as inúmeras exigências e o cipoal de leis que regem a produção imobiliária (algumas excludentes, como se vê nas normas ambientais) oneram, atrasam, geram insegurança jurídica e prejudicam o comprador final. As aprovações são lentas e projetos regularmente aprovados são questionados.

Não podemos esquecer que a engenharia brasileira, em especial no campo da construção civil, é mundialmente reconhecida e valorizada. Os atuais episódios, que tanto entristecem a categoria e a Nação, uma vez adotadas medidas corretivas, jamais terão o poder de eclipsar nossa competência.

O País deve permanecer firme no combate à corrupção, arrancar suas raízes e adotar modelos resistentes a corruptos e a corruptores. É por aí que daremos continuidade à maior obra de todos os tempos: a construção de um país ético, onde a transparência e a confiança sejam permanentes.

Bem sabemos que onde há ética, há compromisso, há resultado, há direitos e deveres, há igualdade. Há ordem e progresso. Esse é o objetivo comum de todos nós, engenheiros e cidadãos. Finalmente caminhamos nessa direção. Um caminho sem volta. (Imprensa Secovi)

*Romeu Chap Chap, engenheiro, ex-presidente do Secovi-SP e coordenador do Núcleo de Altos Temas do Sindicato (NAT)
 



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