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Afetada pela crise da Petrobrás, Tomé vai fechar as portas antes do meio do ano



A guerra dos aditivos com a Petrobrás derrubou mais uma empreiteira brasileira. A Tomé Engenharia, cujos maiores contratos tinham sido assinados com a estatal, não está mais suportando a crise e pretende encerrar suas atividades até o meio do ano. A empresa apostou no mercado de óleo e gás nos últimos anos e conquistou uma série de projetos, como a fabricação de módulos para FPSOs e o fornecimento de materiais e serviços de engenharia para unidades de refino, mas a discussão em relação a valores extracontratuais com a Petrobrás levou a situação financeira da empreiteira para além de seu limite.

O presidente da Tomé, Carlos Alberto de Oliveira e Silva, afirmou, em entrevista ao jornal Valor Econômico, que tem um valor significativo a receber da estatal por obras já executadas (devido a aditivos ainda não aprovados), mas não consegue mais acessar crédito no mercado, então terá que fechar as portas da empresa. Ele diz ainda que aceitou falar, porque “quem não deve não teme”, e espera conseguir retomar as atividades após um período de “hibernação”.

Um dos principais contratos da Tomé atualmente é a fabricação de módulos para os FPSOs replicantes da Petrobrás, que serão utilizados no pré-sal. As obras estão sendo feitas em Maceió (AL), onde a empresa fez grandes investimentos em infraestrutura para poder montar as unidades. A Tomé possui 55% do contrato, que é realizado em parceria com a alemã Ferrostaal, detentora dos 45% restantes. Assim como em todos os outros projetos em que atua para a Petrobrás, a empresa vem pleiteando o pagamento de custos extras não previstos inicialmente no contrato. A Petrobrás não reconhece a dívida, e continua o eterno jogo do “não devo, não pago”.

Além dos módulos, a Tomé também estava atuando em um contrato na Refinaria Presidente Bernardes, em Cubatão (SP), mas teve que vender sua parte à parceira Technip, que ampliou sua participação de 49% para 100% do projeto. “O valor da transação foi irrisório, tenho vergonha até de falar”, afirmou o presidente da Tomé ao jornal, reconhecendo que a falta de caixa levou a empresa a uma situação sem saída.

Um terceiro contrato em que a Tomé passa pela mesma questão é um referente ao fornecimento de materiais, equipamentos e outros serviços na unidade de gasolina da Refinaria Landulpho Alves de Mataripe (RLAM), na Bahia, onde há outros milhões em aditivos ainda não aprovados pela Petrobrás. Neste caso, as parceiras são a Alumini (ex-Alusa) e a Galvão Engenharia, com o contrato concluído há mais de um ano e o ativo operando desde então.

Aliás, a Alumini e a Galvão passam pelo mesmo momento crítico que a Tomé. A primeira delas está envolvida em um processo judicial contra a Petrobrás, relativo a obras realizadas na Rnest, em que cobra aditivos somados em R$ 1,2 bilhão. O problema já se estendeu ao Comperj, onde a empresa também faz obras e vem demitindo muitos trabalhadores por falta de recursos. Na quinta-feira (15), cerca de 300 operários dispensados por ela fizeram uma paralisação no complexo petroquímico e chegaram a entrar em choque com a Polícia.

A Galvão tem um problema também muito grande, em relação às obras da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados de Três Lagoas (UFN 3), no Mato Grosso do Sul, onde cerca de 3,5 mil pessoas foram demitidas nos últimos meses e a Petrobrás rescindiu o contrato da Galvão em parceria com a chinesa Sinopec. Agora a obra está totalmente parada. Em todas as obras feitas pela Galvão para a Petrobrás no País, a soma de aditivos que ela cobra da estatal já chega a cerca de R$ 900 milhões.

A Operação Lava Jato veio para botar uma pá de cal na situação já complicada da Tomé. Quando a Petrobrás anunciou a lista de 23 empreiteiras cortadas de seu cadastro, incluindo ali a Tomé, a empresa passou a receber mais cobranças de fornecedores e ainda menos respostas dos bancos, que já vinham dificultando o acesso ao crédito.

Na entrevista ao jornal, o executivo, que teve sua empresa citada em depoimentos de Julio Camargo (do grupo Toyo), Augusto Mendonça (grupo Setal), Paulo Roberto Costa (ex-diretor da Petrobrás) e Alberto Yousseff (doleiro) às autoridades como parte do cartel, negou que tenha participado de combinações para conquistar os contratos, citando um caso de uma outra empresa da lista que contestou na justiça uma licitação vencida pela Tomé. “Se agíamos em cartel, por que ela contestaria o resultado?”, questionou.

Oliveira também tocou num ponto que muitos da indústria vêm citando: os projetos básicos falhos. Ele contou casos de problemas encontrados ao longo das obras por conta de problemas não apontados pelos projetos, o que levou a mudanças e custos extras. É uma situação apontada por todas as empreiteiras que vêm tendo problemas com a Petrobrás, muitas das quais, sem o fôlego das gigantes, quebraram ou entraram em recuperação judicial nos últimos anos, principalmente após a mudança na forma de avaliar os aditivos dentro da estatal realizada por Graça Foster em 2012. Ao citar a demora na análise dos pleitos, o executivo disse ao jornal: ”Isso dura até oito meses. Enquanto isso, eu tenho de continuar investindo. Odebrecht e Camargo Corrêa, por exemplo, têm dinheiro para isso. Eu não. Por isso, tem um monte de gente quebrando”. (Petronotícias)



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