Desde o lançamento do PNE 2030 (Plano Nacional de Energia), em meados da década passada, foram reforçadas no País as discussões sobre nossas necessidades relacionadas a geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. No Brasil, quando pensamos em energia, naturalmente, a fonte primária que nos vem à mente é a usina hidrelétrica. Não é para menos: o grande potencial hidráulico do País permite que o uso da força das águas seja o principal sistema de geração adotado, variando de 65% a mais de 70% da matriz elétrica nacional, dependendo do período do ano.
Mas, apesar de o potencial geracional destas fontes ser alto – com cerca de 95% de aproveitamento energético –, é grande também o impacto ambiental causado pela construção de hidrelétricas e pela implantação de redes de distribuição. Este é o impasse – de grande pertinência – que tem complicado o avanço das obras de grandes usinas no País, especialmente quando pensamos no aproveitamento do potencial hidráulico de rios da região amazônica.. Este fator inviabiliza pensarmos apenas nas hidrelétricas como recurso de ampliação do potencial elétrico em um País em constante crescimento.
Assim, para que o Brasil continue a ampliar seu potencial de geração de energia de acordo com as necessidades crescentes, é preciso pensar em alternativas ao tradicional modelo hidrelétrico. Hoje, percebemos bom potencial na instalação de parques de geração de energia eólica e de fontes fotovoltáicas, que transformam a luz do sol em eletricidade. No entanto, esses modelos de geração ainda têm custo elevado e potencial reduzido de produção energética.
Outras alternativas são a instalação das chamadas PCHs (pequenas centrais hidrelétricas) - que provocam menor impacto ambiental, mas têm reduzido poder de geração; a simples modernização de hidrelétricas e outras estruturas de geração, como termelétricas, já existentes, o que ampliaria a capacidade dessas instalações; e investimentos na aplicação de recursos de eficiência energética, ampliando a economia com a redução de perdas no sistema e com o estímulo ao uso consciente pelos consumidores.
Se pararmos para analisar algumas das alternativas de geração de energia, nos deparamos com opções que ainda necessitam de arremates. Por exemplo, para 2013, o País contará com cinquenta projetos de parques eólicos prontos para entrar em operação. O problema é que não disporão de linhas de transmissão dedicadas a levar sua energia para o Sistema Interligado Nacional (SIN). De acordo com a Abeeólica (Associação Brasileira de Energia Eólica), dos 2,1 mil MW de capacidade instalada de geração elétrica dos parques eólicos previstos para 2013, 1,4 mil MW devem ficar fora do sistema em razão de atrasos nas implantação de linhas de transmissão.
Já em relação à energia solar, o País não tem avanços consideráveis. Um dos exemplos disso é que há apenas uma empresa nacional fabricante de painéis fotovoltáicos. Desde o lançamento do Proinfa (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica), em 2004, muito pouco foi feito em relação à produção de eletricidade de origem solar. O painel que permite a produção de energia por esta fonte é considerado caro, apesar de o Brasil possuir enorme potencial de irradiação solar.
O que podemos perceber é que o Brasil dispõe de planos para ampliar a capacidade de geração energética. O problema é que boa parte do potencial pretendido deve vir de grandes projetos hidrelétricos que, sabidamente, devem enfrentar problemas para ser viabilizados, especialmente em razão de questionamentos ambientais. Um dos exemplos é a Usina de Tucuruí (no sudeste do Pará), que poderá ter sua capacidade ampliada em até 2.500 MW de potência instalada com a construção de uma terceira casa de força. A capacidade de produção seria elevada para 11.000 MW, ou seja, 200 MW menos do que é estimado para a Usina de Belo Monte, que tem enfrentado sérios problemas para garantir sua construção no rio Xingu.
Ao final, encaramos alguns dilemas naturais de um grande País que busca estimular seu desenvolvimento. Precisamos de energia, mas temos de avaliar os potenciais impactos ao meio ambiente na sua obtenção. Há de se pensar de modo sustentável e, ao mesmo tempo, privilegiar a diversificação da matriz energética. É preciso pensar na concessão de incentivos e garantir a viabilização de estruturas para o efetivo funcionamento das fontes renováveis. O cenário é de desenvolvimento, e não podemos negar que o País precisa repensar suas fontes de energia elétrica para dar conta da demanda no longo prazo.
Um País economicamente desenvolvido não pode abrir mão do equilíbrio ambiental para garantir sua própria sustentabilidade. Assim, o caminho será, certamente, na direção de valorizar a opção por alternativas limpas de geração de energia e a adoção de iniciativas voltadas à economia energética. O desafio agora é viabilizar as melhores soluções. Para isso, será preciso estimular a criatividade, a inovação e a pesquisa no setor.
* Vânia Andrade de Souza é sócia-líder do setor de Energia da KPMG no Brasil
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