Segundo a imprensa, hoje a realidade da saúde no Brasil não é das melhores. Em se tratando de edificações hospitalares, jornais relatam todos os dias estabelecimentos com atendimento acima da capacidade permitida e a falta de estrutura adequada para o trabalho dos profissionais de saúde. Além disso, é comum não haver leitos disponíveis e muitas restrições de equipamentos para a realização de exames clínicos. Isso gera o aumento no número de pacientes e longa fila de espera. Quando se pensa nos grandes eventos esportivos que o País vai receber - Copa 2014 e Olimpíadas 2016 – a ABDEH - Associação Brasileira para o Desenvolvimento do Edifício Hospitalar questiona se teremos infraestrutura para atender situações de emergência.
Para Fábio Bitencourt, presidente da ABDEH é um erro pensar que a probabilidade de ocorrer desastres ou catástrofes, durante os eventos, seja pequena. “É preciso que todos envolvidos na área da saúde, inclusive engenheiros, arquitetos e administradores hospitalares pensem melhor no gerenciamento dos recursos e no planejamento das edificações hospitalares. Nesse contexto, a nossa responsabilidade é grande para fazermos tudo às pressas. Se no projeto ou na construção houver falhas ou até mesmo negligência, as consequências serão sentidas por um longo período, dificultando ou até inviabilizando melhorias a médio e longo prazos”, explica.
Segundo Bitencourt, a construção de um hospital leva em média quatro anos e o período de planejamento é de 12 meses. “Quando pensamos na construção dos estabelecimentos de saúde é preciso estudar as características do terreno, as necessidades epidemiológicas da região, a estrutura dos equipamentos e tecnologias disponíveis, além de analisar a gestão do espaço e de funcionamento, entre outros detalhes. Por isso que, nos tempos de calmaria, tem se a oportunidade de se pensar nas deficiências do setor para que, nas situações expressionais e em caso de eventuais tragédias, estejamos preparados”, completa.
Já Luiz Maurício Plotkowski, médico e especialista em Medicina de Desastre e Catástrofes, o atendimento a um acidente ou tragédia, com grande número de vítimas, necessita de uma organização especial e isso só será bem realizado, se houver um plano estratégico, previamente estabelecido e testado inúmeras vezes. Ele inclui três elementos: estrutura física, material adequado e pessoal treinado. “Nosso papel é analisar se o estabelecimento de saúde é capaz de modificar as funções de alguns espaços para permitir uma resposta imediata aos problemas emergenciais. Essa capacidade de alterar a utilização dos ambientes tem que ser pensada já na elaboração do projeto ou nas reformas arquitetônicas a serem empreendidas”, prevê.
Quando se imagina as edificações hospitalares sendo utilizadas em situações de desastre, é necessário pensar em: uma entrada independente para as vítimas do acidente; uma ampla recepção para emergências; uma circulação interna livre para os pacientes mais graves, seja para as salas de reanimação, radiologia, UTI ou bloco cirúrgico; um espaço que possa rapidamente ser transformado em enfermaria; uma circulação que permita a chegada de um grande numero de ambulâncias; organização de uma sala de gestão ou de crise que possa acomodar os gestores hospitalares da crise; uma sala para autoridades públicas, com capacidade de comunicação externa (linhas telefônicas, informática etc.); recepção para imprensa e familiares; além do aumento do efetivo do sistema de segurança.
De acordo com Plotkowski, a maioria dos hospitais brasileiros não foi construída para atender ao afluxo massivo de pacientes. Isso implica em projetos arquitetônicos capazes funcionar com súbitas mudanças das funções rotineiras dos hospitais. “Os gestores e arquitetos devem preparar-se para a dinâmica de um atendimento simultâneo a grande número de vitimas, enquanto a rotina do hospital, mesmo reduzida, possa continuar a funcionar, pois os pacientes continuam internados e precisam seguir com seu tratamento. Se for um pronto-socorro, pacientes externos continuam a chegar independentemente de haver um grande desastre”, acrescenta.
Para a ABDEH, o Brasil está atrasado em seu planejamento estratégico hospitalar. “Há um descompasso entre o projeto e a eventual execução da obra. Precisamos correr para estarmos devidamente equipados com estabelecimentos de saúde suficientes nas cidades-sede da Copa do Mundo e que essas edificações possam ser oferecidas à população brasileira como um legado deste evento internacional”, avalia o presidente da entidade. |