O Equador ofereceu às grandes construtoras brasileiras um pacote de cerca de US$ 2,5 bilhões em obras de infraestrutura no país. O governo de Rafael Correa pretende voltar a atrair investimentos e, sobretudo, financiamento brasileiro para grandes projetos de infraestrutura, quase quatro anos após o mal-estar diplomático em torno da construção de uma usina hidrelétrica pela Odebrecht, em 2008.
Ao que tudo indica, vai conseguir. A própria Odebrecht assinou em dezembro o contrato para a construção da usina hidrelétrica de Manduriacu, superando a concorrência das também brasileiras Engevix e Camargo Correa. O projeto, que demanda investimentos de US$ 136 milhões, segundo o governo equatoriano, deve ter financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). O banco inda não confirma o empréstimo oficialmente, mas, já no processo licitatório, as empresas apresentaram ao governo equatoriano carta de intenções da instituição de financiar a obra.
Além de Manduriacu, as empreiteiras brasileiras vão disputar a construção de outras quatro usinas hidrelétricas, uma termelétrica e três projetos de irrigação e combate a enchentes no país.Oinvestimento total previsto nessas obras é de US$ 2,474 bilhões. Fontes ligadas às empresas se dizem entusiasmadas com os projetos.
Depois de Manduriacu, a próxima obra a ser disputada pelas construtoras brasileiras é o projeto de irrigação de Daule Vinces (Dauvin), no oeste do país. Orçado em aproximadamente US$ 185 milhões, ele prevê a irrigação de 170 mil hectares de terras ligando as águas de dois rios, e inclui ainda obras de combate a enchentes.
O BNDES não financia obras no Equador desde 2008, quando o governo local apontou falhas na hidrelétrica de San Francisco, cuja construção havia sido concluída um ano antes pela Odebrecht, que acabou sendo expulsa do país. Além disso, o presidente Rafael Correa recorreu à Corte Internacional de Arbitragem, em Paris, para não pagar parte do financiamento de US$ 242,9 milhões do BNDES. A ameaça de calote irritou o governo brasileiro, que chegou a retirar seu embaixador de Quito. A partir daí, os recursos do banco para obras no país sul-americano caíram a zero. Na época, a Odebrecht tocava as obras de uma outra hidrelétrica no país, a de Poachi-Pilatón, com investimentos previstos de cerca de US$ 500 milhões, segundo uma fonte do governo brasileiro. Sem o financiamento do BNDES e, consequentemente, a participação das empresas brasileiras, o Equador recorreu a chineses e russos para concluir a obra.
Desde então, o governo local tem dependido do dinheiro chinês para financiar seus projetos, como a maior hidrelétrica do país, Coca Codo Sinclair, com custo de construção estimado em US$ 2 bilhões. Mas o fato de a China cobrar juros mais altos do BNDES e exigir quotas de petróleo como garantia em empréstimos levou os equatorianos a sentir saudades do Brasil.
A retomada dos investimentos brasileiros no país é fruto de um grande esforço de reaproximação por parte do governo de Rafael Correa, que envolveu a visita de ministros a Brasília e algumas rodadas de conversas com asempreiteiras brasileiras para apresentação dos projetos.
Em meados de 2011, o ministro de Setores Estratégicos, Jorge Glas, esteve em Brasília e se reuniu com diversos membros do Cofig (Comitê de Financiamento e Garantia das Exportações), órgão colegiado formado por diversos ministérios e que trata do financiamento público brasileiro. Acompanhado por uma comitiva, Glas pediu a volta dos empréstimos a projetos em seu país, assegurando que problemas como os de 2008 não voltariam a ocorrer, segundo fontes do governo brasileiro.
O esforço deu resultado e, em 9 de setembro do ano passado, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) publicou uma decisão instruindo o BNDES a voltar a analisar projetos de financiamento a obras no Equador. Três meses depois, a Odebrecht ganhava a licitação para a hidrelétrica de Manduriacu. "A partir de agora, a tendência é as relações se normalizarem. Viramos a página definitivamente", diz uma fonte do governo brasileiro.
A volta aos trabalhos no Equador, e os bilhões de dólares em possíveis novos contratos no país, animam as construtoras brasileiras, que não temem um problema similar ao que sofreu a Odebrecht. "Não acredito que o que ocorreu em 2008 volte a se repetir. O Equador precisa de financiamento para os seus projetos, e as condições de crédito oferecidas pelo Brasil são muito favoráveis", disse ao Valor o diretor de uma empreiteira brasileira com interesse nas obras.
Para outro executivo de empreiteira brasileira, o governo agiu certo ao decidir retormar o financiamento para obras no país sul-americano. "Vemos com muito bons olhos essa retomada. O Brasil precisa exercer um papel de liderança na região e não pode deixar que russos e chineses fiquem à frente de tantos projetos no nosso quintal", afirmou.
Fonte: Valor Econômico
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