Açúcar e álcool – O andamento do setor

A safra de cana-de-açúcar do Brasil, em 2011, é reflexo do que ocorreu nos três anos anteriores. A crise financeira de 2008 reduziu o capital de giro dos produtores, derrubando a taxa de renovação do canavial, tornando-o mais velho e menos produtivo. Mas o maior efeito foi causado pelo clima atípico observado desde 2009. O excesso de chuvas de 2009 causou compactação do solo, trazendo falhas de rebrota nos anos subsequentes e gerando um contingente de 60 milhões de toneladas de cana que a indústria não conseguiu processar naquele ano. A intensa seca de 2010, por sua vez, anulou boa parte da cana excedente e inibiu o desenvolvimento das canas colhidas naquele ano, que apresentaram produtividade 15% abaixo da média em 2011. Agora, a seca, seguida de geadas em junho e agosto, o florescimento precoce e a infestação de pragas estão afetando sobremaneira a performance da colheita.

O Governo vem acompanhando com atenção a evolução da safra e tem emitido sinais de que estaria disposto a alterar a regulação do setor, desde 1999, livre de intervenção. A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis acerta ao indicar disposição de estimular a contratação prévia de etanol visando a estruturar o mercado e reduzir a elevada proporção das vendas ainda realizadas no mercado à vista, que geram oscilações muito grandes de preço nos períodos de safra e entressafra. Mas é preciso que essa contratação seja lastreada no mercado futuro, e não no preço registrado pelo mercado á vista da semana anterior, que tende a ficar cada vez mais estreito e menos representativo.

Foi anunciada a redução da mistura de etanol anidro na gasolina, de 25 para 20 por cento, a partir de 1 de outubro do ano passado e por prazo indeterminado. Esta decisão surpreende e traz insegurança, tendo em vista a performance de produção e a garantia dos produtores de que não haveria falta de anidro para a mistura á gasolina, incluindo aquela advinda de importações. As condições atuais de mercado permitem que o Brasil exporte etanol recebendo um prêmio pelo fato de ser oriundo de cana, ambientalmente mais limpo, e importe etanol de milho a preço abaixo daquele observado no mercado interno, ajudando a controlar pressões adicionais de alta.

Por outro lado, ao optar pela redução da mistura, o governo obriga a Petrobras a importar mais gasolina em condições gravosas, pois o seu preço no mercado mundial é maior do que no mercado interno. Além disso, ao reduzir o teor de etanol na mistura, obriga-a a fabricar gasolina-base com maior octanagem, reduzindo o volume de gasolina extraído das refinarias, potencializando a importação gravosa.
A redução da mistura destrói 1,67 bilhão de litros de demanda anual de etanol anidro, volume equivalente a 2,8 milhões de toneladas de açúcar. A desoneração fiscal é uma boa medida, mas não combina quando realizada de forma onerosa.

Neste momento, o setor privado deve concentrar esforços na recuperação da produção agrícola e na redução dos custos de produção a fim de recuperar a competitividade perdida nos últimos anos. A preocupação do setor público deve ser a de criar condições que induzam o retorno dos investimentos para que seja atendida a crescente demanda dos mercados interno e externo

Texto escrito por Plínio Nastari, mestre e doutro em economia agrícola, e presidente da Datagro Consultoria.

 

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