Para “Rei do Sol”, indústria solar está em estágio embrionário
Mesmo com incentivos fiscais, setor ainda engatinha, diz ao iG Shi Zhengrong, que ficou bilionário com sua empresa Suntech

Shi Zhengrong, conhecido como “Rei do Sol”, não tinha nada de realeza quando nasceu, em 1963, no interior da China. Tinha um irmão gêmeo e foi colocado para adoção pois seus pais não podiam pagar para educar os dois filhos.
 
Hoje, aos 48 anos, é um dos executivos mais admirados na China. Além de ter se tornado bilionário em menos de dez anos com o sucesso de sua empresa, a fabricante de painéis solares Suntech Power, atua em um setor que está na moda no país e na agenda do governo chinês.
 
Buscando tornar sua matriz energética menos dependente das fontes fósseis, como o carvão e o petróleo, a China vem incentivando companhias que atuam com energias limpas.
 
Mas Shi já esteve melhor. Nos primeiros sete anos da empresa, conseguiu acumular uma riqueza de US$ 2,9 bilhões, o que lhe rendeu, em 2008, a classificação de terceiro homem mais rico da China na lista da "Forbes" e o rótulo de “primeiro bilionário verde” do mundo.
Em 2011, no entanto, ele não aparece entre os
 
chineses mais ricos na lista da "Forbes", e a estimativa da Hurun Report – publicação que reúne apenas os ricaços da China - é de que Shi tenha em torno de US$ 1,1 bilhão.
 
Sem dar muita importância à fortuna, que ele diz ao iG que considera “apenas uma recompensa pelo trabalho”, Shi é otimista com o futuro da indústria solar, mas admite que o setor ainda está “em estágio embrionário.”
 
Incentivo do governo
Em 2001, Shi fundou a empresa a partir de um empréstimo conseguidos pelo governo de Wuxi, na província de Jiangsu, onde a empresa está sediada. No ano passado, a receita foi quase 500 vezes o valor inicial da companhia.
 
A feira que junta todos os produtos do mundo
“Fui sortudo por trabalhar com uma ideia que vem crescendo como consenso por todo do mundo: de que ‘precisamos nos desenvolver, mas temos que ter um crescimento sustentável para reduzir o uso de matérias primas e proteger nosso meio ambiente’”.
 
Nos últimos anos, uma forte demanda por painéis solares favoreceu seus negócios e ele ficou bilionário. Com uma série de empresas dispostas a pagar caro para instalar sistemas de energia solar, a Suntech passou de uma companhia de R$ 6 milhões para uma gigante com faturamento anual de R$ 2,9 bilhões.
 
Agora, entretanto, a empresa prevê uma “natural” desaceleração de suas receitas. A demanda não manteve um forte ritmo de crescimento e, ao mesmo tempo, os preços vêm caindo, o que reduz as receitas da companhia.
 
Depois de um crescimento de 70% de seu faturamento no ano passado em relação a 2009, a meta da Suntech para 2011 é de um o aumento entre 17% a 24%. A explicação é justamente o difícil momento da indústria de energia solar, que ao mesmo tempo em que requer investimentos para baratear os produtos, ainda não é
competitiva o suficiente.
 
“Conforme os investimentos aumentam, a tendência é de que os preços caiam,” afirma Richard Zhang, assessor de Shi. No entanto, apesar de a energia solar ficar mais barata – o que pressiona as receitas da empresa – ainda é mais cara do que outras fontes de energia.
 
Preço do sol
Há quatro anos, o preço de um watt de energia solar era US$ 4. Hoje, o valor caiu para US$ 1,8, segundo a Suntech. A expectativa da empresa é de que até o final do ano o custo esteja em torno de US$ 1,3 ou US$ 1,4. “Em um futuro próximo, será inferior a US$ 1, o que é equivalente ao custo das principais energias
fósseis,” afirmou Zhang.
 
Por enquanto, os apoios do governo são essenciais, diz a empresa. “Temos o apoio chinês para aquisição de terras. Mas o mercado precisa ser subsidiado,” diz Zhang. A empresa acredita que são necessários subsídios para os clientes finais, como as famílias e empresas que desejem instalar sistemas solares em suas
propriedades.
 
Segundo Shi, tradicionalmente o foco da China em energias limpas são a hidréletrica e a nuclear. Mas agora a solar "deverá ter um papel crescente em função da demanda cada vez maior por energias renováveis", diz o Rei do Sol. Ele aposta que esta é a melhor fonte de energia uma vez que permite que varios tipos de aplicações possam utilizá-la.
 
Com graduação, mestrado e doutorado na área – o que foi possível graças à condição financeira da família que o educou e sua dedicação aos estudos -, ele afirma que o foco em pesquisa e desenvolvimento permitirá o acesso de muitas pessoas à energia solar.
 
Para 2020, a expectativa do governo chinês é que a capacidade de energia solar instalada no país atinja 50 GW, segundo o Instituto de Pesquisa de Energia da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reformas da China. Atualmente, o país possui menos apenas 700 megawatts instalados, apenas 3,7% dos 19 GW de
todo o mundo.
 
A Suntech prevê que a China terá 10 gigawatts (GW) até 2015. Este ano, a empresa investirá 3% de suas receitas em pesquisa e desenvolvimento, algo entre R$ 165 milhões e R$ 174 milhões. As estimativa da companhia é de atingir receitas entre entre US$ 3,4 bilhões e US$ 3,6 bilhões (R$ 5,5 bilhões e R$ 5,8 bilhões).
 
(iG/ Olívia Alonso, enviada especial à China)

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