Moinhos de vento produzem a segunda fonte de energia elétrica mais barata do Brasil. Nos leilões de julho, a eletricidade a ser gerada por usinas eólicas foi oferecida a menos de RS 100 o MWh. Nos casos mais competitivos, a eletricidade de hidrelétricas novas custa em torno de RS 70 a RS 80.
O sucesso das eólicas, fonte limpíssima de energia, resulta da confluência de um programa estatal de incentivos com a baixa de preços de equipamentos, provocada pela crise mundial.
A energia dos ventos não sairia do papel dos manifestos ambientalistas não fosse o Proinfa (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica), projeto federal criado em 2003. 0 programa previa financiamentos do BNDES e garantia de compra da energia alternativa pela Eletro-bras, mesmo a preços muito acima do mercado. Entre 2003 e 2009, o preço do MWh das eólicas variou entre R$ 200 e R$ 240.
O primeiro choque positivo de preços ocorreu em 2009, quando as eólicas venderam energia a R$ 148 o MWh. O preço da eletricidade das usinas de vento depende muito do custo do equipamento. Com a queda na demanda dos países ricos, mergulhados na crise, passaram a sobrar aerogeradores.
Por aqui, o programa de incentivos e a contratação de energia eólica nos leilões feitos pelo governo criaram um mercado. 0 aumento da procura por energia eólica atraiu fabricantes de equipamentos para o Brasil. O alargamento da escala de produção ajudou a reduzir preços. Instalou-se um círculo virtuoso. Será duradouro?
As eólicas fornecem cerca de 1.000 MW, menos de 1% da energia consumida no país. Segundo a Empresa de Pesquisas Energéticas, estatal de planejamento, a fatia deve crescer para 7% em 2020 (ou 15%, segundo a associação das empresas eólicas). A continuidade do sucesso depende de mais escala, de alguma redução de impostos e de melhorias na logística.
Empresários do setor acreditam que é preciso vender 2.000 MW adicionais por ano a fim de que o negócio ganhe escala bastante para manter os preços baixos. Também é preciso melhorar as condições de instalações das usinas, muitas vezes localizadas em áreas remotas, sem transporte adequado para as imensas e pesadíssimas pás e torres dos geradores.
São medidas necessárias para dar continuidade ao sucesso desse projeto de energia limpa, que deixou de ser quixotesco. Euforias temporárias podem levar governo e empresas a descurar da sustentação do programa no longo prazo. A crise do etanol, mais uma, está aí para servir de alerta.
Romper essa inércia requer, do governo e do setor privado, mais energia que a dedicada até hoje. Mas é imperioso que essa anomalia seja atacada depressa, porque atrasa a transição do Brasil rumo a uma economia desenvolvida.
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