Com o polo naval desenvolvendo-se aceleradamente no município de Rio Grande, a tendência agora é de que outras cidades aproveitem as demandas geradas por esse segmento. O diretor-presidente da Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (AGDI), Marcus Coester, prevê que ocorrerá a descentralização dos investimentos.
O dirigente argumenta que em Rio Grande ficarão concentrados os estaleiros de maior porte e em outras localidades serão instaladas indústrias de peças e equipamentos. Ele salienta que a hidrovia gaúcha servirá de apoio ao transporte desses equipamentos, pois é uma alternativa mais adequada do que a movimentação rodoviária. Coester adianta que já há empresas procurando áreas para se instalarem perto da via fluvial, mas prefere não revelar ainda o nome dessas companhias.
O diretor-presidente da AGDI participou ontem na Fiergs de seminário para apresentar o programa de desenvolvimento da indústria oceânica (Offshore) no Rio Grande do Sul e as estratégias de inserção e ampliação de negócios para fornecedores da Petrobras.
Ele explica que o evento foi uma sequência de um seminário realizado na Coreia do Sul e relata que outras apresentações serão realizadas no Brasil e em outros países. Em julho, a explanação deverá ser feita na Alemanha e na Holanda. Basicamente, será demonstrado o conceito da indústria oceânica gaúcha, destacando suas vantagens competitivas.
Outro participante do encontro na Fiergs, o deputado federal Ronaldo Zulke (PT) lembra que a Petrobras deve investir, nos próximos quatro anos, US$ 224 bilhões e isso deve despertar o interesse das companhias do Estado. "É uma alavanca para o desenvolvimento e o Rio Grande do Sul tem que participar desse processo", ressalta o deputado. Ele acrescenta que propôs na Câmara a constituição de uma comissão especial para tratar da garantia da presença da indústria nacional no segmento de construção naval.
O gerente de Contratos na área de Exploração & Produção da Petrobras, Edmar Diniz, concorda que pode haver uma maior participação da indústria brasileira no fornecimento de equipamentos para plataformas. Ele comenta que a última plataforma finalizada no País, a P-56, conta com 73% de conteúdo nacional. "É um percentual alto, mas entendemos que temos algo a fazer para aumentar esse índice", afirma Diniz. O executivo diz que a meta pode ser alcançada através da produção no Brasil de equipamentos que hoje são importados e pela intensificação dos serviços já prestados dentro do País.
Bacia de Pelotas pode ter regime de partilha
Luana Fuentefria
A exploração da Bacia de Pelotas, no Litoral gaúcho, pode ser feita por sistema de partilha. A afirmação é do geólogo da Petrobras e consultor da Presidência da República, Henyo Trindade Barretto. Crítico ao marco regulatório estabelecido para a exploração do pré-sal, Barretto, que esteve ontem em palestra na Fundação de Economia e Estatística (FEE), sustenta que o governo precisa abandonar o regime de concessões, política que diminui a apropriação da renda do setor de petróleo pelo País.
Barretto expôs cálculos que mostram que nos 12 anos em que o governo arrecadou R$ 138 bilhões de receita sob o regime de concessão, essa quantia subiria para R$ 288 bilhões no caso de partilha. A previsão para a Bacia de Pelotas - uma área que abrange a costa gaúcha e parte da catarinense, do Chuí até Florianópolis - é que ela seja considerada estratégica. Nesse caso, seria estabelecido o regime de partilha para sua exploração. Conforme o geólogo da estatal, a classificação pode ser feita porque a região é considerada nova fronteira exploratória. No entanto, a decisão depende do Conselho Nacional de Política Energética, do Ministério de Minas e Energia.
Todas as reservas do pré-sal estão sob regime de concessão, adotado no País em 1997. Barretto afirma que o sistema ainda está vigente devido à prevalência da lógica de honra aos contratos, e somente poderão ser estabelecidas partilhas para as próximas reservas do pré-sal descobertas. "Não há soberania nenhuma do estado no caso de concessões", critica. Conforme ele, mesmo na perspectiva mais pessimista, o regime garante ganhos muito maiores para o estado. No regime de partilha, a propriedade das reservas e da produção permanece em poder do estado e as empresas recebem uma compensação adequada pelas atividades desenvolvidas. O início da perfuração de poço na Bacia de Pelotas deve ocorrer até junho de 2012. Conforme o consultor, ainda falta a sofisticação tecnológica para o início dos trabalhos, a fim de que não ocorra arranjos malfeitos na exploração. O investimento estimado na prospecção no Litoral gaúcho é de US$ 60 milhões a US$ 80 milhões.
(Jornal do Commercio (RS)/Jefferson Klein e Portos e Navios) |