Desde o final do ano passado, está diferente a paisagem da praia de Gargaú, no município de São Francisco de Itabapoana. A grande margem de praia, protegida pela Marinha, recebeu em um longo trecho, o primeiro parque eólico da região sudeste, o Parque Eólico de Gargaú, administrado pela empresa privada Gesa – Gargaú energética S/A.
A cerca de 350 quilômetros do Rio de Janeiro, a cidade no norte-fluminense de pouco mais de 42 mil habitantes, e com um território de 1254 quilômetros quadrados (o segundo maior município em extensão territorial do estado), começa a atrair um novo tipo de visitante. O Parque Eólico de Gargaú está atraindo turistas a fim de registrar as imensas torres de geração de energia que se destacam ao longe – o parque pode ser visto de São João da Barra, do outro lado do rio Paraíba do Sul, a quase 50 quilômetros de distância. A economia da cidade é basicamente focada na plantação de cana-de-açúcar, que se estende ao longo das margens da BR-101, que corta a cidade.
Reportagem do iG teve autorização para entrar na área privada do parque e registrar os detalhes da produção de energia. O parque impressiona pelo tamanho. Cada uma das 17 torres tem 80 metros de comprimento, podendo alcançar 110 metros totais com uma das pás (ou hélices ou “blades”) na vertical. Cada pá tem 30 metros de extensão. São três pás para cada torre. Estima-se que a obra, avaliada inicialmente em R$ 140 milhões, tenha custado o dobro. Foram dois anos de obras, envolvendo 300 pessoas.
Segundo dados da GWEC, organização não governamental com sede em Bruxelas, na Bélgica, que trabalha pelo desenvolvimento do setor em todo o mundo, a capacidade instalada de energia eólica no Brasil era de 606 megawatts em 2009, antes portanto da construção do parque.
O parque gera 28 megawats por dia, o que daria para abastecer uma cidade com cerca de 80 mil habitantes. Como o sistema elétrico nacional reúne um conjunto de diferentes produções de energia para, só aí, distribui-la por todo o País, a produção do parque eólico de Gargaú segue a mesma concepção de distribuição. O que é produzido lá segue para uma central, para ser redistribuído nacionalmente.
Energia limpa
A rotação das abas é de 14 RPM, o que equivale a uma velocidade máxima de 160 km/h. As abas são construídas com fibras de vidro e carbono e chegaram na cidade em caminhões a partir do porto do Rio, vindas da Dinamarca em navios.
Apesar do parque ocupar uma área de 500 hectares, apenas 1,7 do total tem área construída. Só o eixo de giro das abas (chamado “vacele”, contendo um flash light de orientação para aviões) pesa 70 toneladas. As abas são montadas no chão e içadas por guindastes. Há uma subestação unitária para cada torre.
Chama a atenção o número de pessoas que trabalham diretamente no parque. Apenas oito. São técnicos de operação e engenheiros eletricistas. É feito um monitoramento com um computador 24 horas por dia, em turnos de oito horas para cada técnico, do funcionamento de cada poste, de dentro da pequena central de produção elétrica. “A perda de energia é mínima, apenas 3%. É uma energia totalmente limpa e não causa grandes impactos ambientais”, enumera Gilberto Braz de Lima, gerente do parque.
Monitoramento diário
Alex Sandro Colugnesi, analista de operações e de manutenção do parque, conta que o parque está situado em uma área de reflorestamento. “É preciso cuidado com animais peçonhentos, como aranhas viúvas-negras e cobras. Pássaros são as maiores vítimas das torres”, diz.
Antes da construção do parque, foi preciso uma análise técnica da região, com um estudo detalhado do vento ao longo de cinco anos. Segundo conta Marcelo Garcia, secretário de Planejamento do município, a praia de Gargaú competiu com Arraial do Cabo, na Região dos Lagos. Pesou a favor da cidade do norte-fluminense o fato de haver poucas construções nas redondezas, ser uma planície e a construção causar pequeno impacto ambiental. “Mas o mais importante é que a área tenha vento contínuo e na mesma intensidade”, explica o gerente do parque.
Já existe o projeto para um segundo parque eólico na região, bem maior, com 85 postes. “Não será no litoral, mas no alto dos morros do interior de São Francisco”, diz o secretário de Planejamento. Estuda-se apenas a viabilidade do local da obra, para que as licitações sejam abertas. A previsão é que isso ocorra até o final do ano.
De acordo com o secretário de Planejamento, a região tem o segundo maior potencial eólico do País, só perdendo para o Rio Grande do Norte. “Aqui temos um atrativo a mais, que é o fato de não termos especulação imobiliária. Ainda”, afirma Marcelo Garcia.
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