Brasil registra 2 ciclos de expansão da geração de energia elétrica a partir das fontes renováveis. O primeiro, no final dos anos 90, foi baseado em Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs). O segundo, em curso, caracteriza-se pela expansão dos parques eólicos. Além das fontes, conjuntura econômica e mecanismos de formação de preços distinguem um ciclo e outro, determinando, inclusive, o perfil do investidor.
As PCHs foram erguidas em um período de refluxo na construção das hidrelétricas de médio e grande porte, que perderam sua atratividade para os grandes investidores em função das dificuldades na obtenção de licenciamento e da pressão da opinião pública contra o impacto socioambiental. Nesse vácuo, entraram os pequenos empreendedores estimulados pela garantia de venda da produção para o programa federal ProInfa, pelo qual a Eletrobrás adquiria, por um preço prefixado e subsidiado, a energia elétrica produzida. O Proinfa também era válido para as demais fontes renováveis, mas à época as eólicas tinham baixa competitividade em função do alto custo dos equipamentos e do pouco conhecimento existente no País sobre o regime dos ventos. Ambos aumentavam significativamente o risco econômico/financeiro dos projetos e coibiam a obtenção de financiamentos.
Nos últimos dois anos, porém, houve sensível alteração na conjuntura. A partir da crise econômica de 2009, o preço dos equipamentos para eólicas, que já estava em declínio em função do avanço tecnológico (que permitiu a produção em escala), recuou significativamente. Isso porque um dos desdobramentos da crise foi a redução do ritmo de construção de parques eólicos nos EUA e países europeus - o que provocou a retração da demanda pelos equipamentos. Esse movimento não beneficiou as PCHs, que têm na construção civil o maior item de custo.
No Brasil, no mesmo ano, o governo realizou o primeiro leilão de venda de energia elétrica produzida a partir de fontes renováveis. Até então, além do Proinfa, a energia era vendida por contratos bilaterais. Os leilões embutiram, porém, benefícios adicionais: regulamentação estável, preços definidos e contratos de venda de energia de longo prazo, que se transformaram em garantia a financiamentos.
Outro leilão foi realizado em 2010 e um terceiro está programado para 2011. Submetidos a uma rígida regulamentação, eles permitem a substituição dos preços oficiais subsidiados pelos preços de mercado, determinados por um processo transparente de oferta. E preços de mercado, maior experiência no segmento e redução de custos na aquisição de equipamentos permitem que o negócio "energia renovável eólica" apresente uma relação custo/benefício compatível com as fontes tradicionais, extrapolando o nicho dos pequenos empreendedores para participar da carteira dos grandes investidores. Para que a tendência se consolide é necessário, agora, que as regras permaneçam estáveis e que toda a potencialidade das fontes renováveis seja refletida no planejamento de longo prazo do setor elétrico.
SÓCIO-DIRETOR DA TEMPO GIUSTO CONSULTORIA EMPRESARIAL E ESPECIALISTA EM ENERGIA ELÉTRICA
Fonte: O Estado de S. Paulo
|