Elastômeros
Vantagens em versatilidade e processamento
Conjugando resistência mecânica, resiliência e versatilidade
com possibilidades quase ilimitadas de processamento, o elastômero
de PU é um dos materiais poliméricos que mais se destaca
no mercado
Os
elastômeros de poliuretano estão em todo lugar. Eles estão,
por exemplo, nas rodinhas de carri- nhos de supermercado, de skates, de
empilhadeiras e de macas de hospitais. Ainda visíveis, estão
em cepos de calçados, buchas e diversos outros produtos que associam
absorção de choque, resiliência e resistência
mecânica em geral. Menos visíveis, os elastômeros de
poliuretano estão também presentes em ambientes industriais,
como em molas, réguas para guilhotinas, gaxetas, acoplamentos,
cilindros de impressão, luvas, coxins, cintas, rolos, revestimentos
de superfícies e peças, etc. Às vezes, eles estão
onde mal se imagina: no núcleo de amortecedores de automóveis,
por exemplo. Ou em acoplamentos de transmissão de torque, também
em automóveis. Com elastômeros é assim: aparecem onde
for necessário.
Alguma história
Na primeira metade do século XX, sempre que se pensava em elastômeros
o produto que quase sempre vinha à mente era a borracha, que podia
ser facilmente encontrada na natureza e depois fabricada artificialmente.
Esse panorama mudou quando, na segunda metade do mesmo século,
a borracha natural começou a perder relevância e os avanços
do progresso e da economia elevaram exponencialmente as exigências
feitas a materiais e processos. Surgiram então, os elastômeros
artificiais, dos quais o poliuretano é, há vinte anos pelo
menos, um dos maiores destaques.
Descobertos na década de 40, os elastômeros de poliuretano
são utilizados como material de engenharia, especialmente pela
resiliência (fator incomum aos outros materiais) junto com altas
resistências à abrasão, impacto, tração,
rasgo, corte, absorção de choques, além de resistências
química e dielétrica. De forma geral, as matérias-primas
escolhidas definem as propriedades físicas da peça ou aplicação,
e são elas que fazem do elastômero de PU um substituto vantajoso
em relação à borracha, PVC, polipropileno, poliamidas,
polietileno, ABS e policarbonato, entre outros. A única restrição
de uso do elastômero de PU diz respeito a aplicações
sujeitas a temperaturas superiores a 100º C.
Processamento
Em processamento, o elastômero de poliuretano também oferece
vantagens. Ele não precisa, por exemplo, limitar-se aos processos
de injeção e moagem, como a borracha.
O elastômero de PU pode sofrer, dentre outros processos, moldagem
por vazamento (fundição), centrifugação ou
rotação, moldagem por injeção e reação
(RIM), moagem e vulcanização, spray, injeção
e extrusão (no caso dos TPUs). Os processos de fabricação
mais utilizados são moldagem por vazamento ou RIM, os quais, para
além de suas características peculiares, diferenciam-se
em tempo de reação.
Cada um dos processos de fabricação de elastômeros
de poliuretano possui vantagens e desvantagens. Junte-se as opções
de processamento com as opções de formulação
e será possível entender que ainda não se sabe exatamente
a que ponto, como elastômero, o poliuretano pode chegar.
Moldes
Os elastômeros adaptam-se a diferentes tipos de moldes, conforme
o material que vai ser trabalhado. Entre os metais, usa-se ferro fundido,
de fácil usinagem, com a desvantagem que sua porosidade pode interferir
no resultado da peça final. Alumínio, zinco e cobre têm
boa vida útil, mas sofrem a ação do calor. Os moldes
podem também ser de plástico, polietileno, polipropileno,
plástico reforçado (resina poliéster insaturado com
fibras de vidro) e o próprio PU, indicado para pequena produção.
Porém, esses moldes plásticos não são tão
resistentes e deformam, precisando ser substituídos. O mais indicado
para moldes acaba sendo o aço carbono, que possui uma relação
custo-benefício mais satisfatória.
Elastômero fundido
São basicamente duas as formas de processamento de poliuretano
por vazamento, as quais se diferenciam, em linhas gerais, pela ordem em
que são adicionadas as matérias-primas.
A forma mais simples de processamento por vazamento é feito em
uma etapa. Por esse processo, poliol, isocianato, extensor de cadeia e
catalisador são misturados simultaneamente e em seguida derramados
no molde. Caracterizado por requerer viscosidade baixa e proporcionar
menor custo, o processo em uma única etapa resulta numa estrutura
polimérica aleatória que acaba apresentando propriedades
físicas inferiores às estruturas poliméricas que
fazem uso de pré-polímeros.
A forma mais complexa de processar poliuretano por vazamento consiste
em duas etapas, primeiro trabalhando-se o isocianato com parte do poliol
e, numa segunda etapa, fazendo o polímero reagir com a outra parte
do mesmo poliol com extensor de cadeia/agente de cura. Determinantes quanto
à qualidade e aplicação do elastômero de poliuretano,
os sistemas baseados em pré-polímeros têm adição
mais fácil de controlar, possibilitando a formação
de estruturas diferenciadas. Para atingir uma determinada característica,
existe uma gama muito ampla de aditivos, que também levam em conta
o processamento a ser utilizado.
Os
mercados para elastômeros de PU
O mercado de elastômeros de PU pode
ser dividido, em termos de fornecimento de produtos semi-acabados, pelos
ramos de aplicação. Os principais são: calçadista,
de revestimentos, gráfico, químico e alimentício,
rodas e rodízio, embalagens, buchas, peças automotivas,
hospitalares e peças técnicas em geral. Eles estão
também presentes ainda em siderurgia (sob a forma de revestimento
de rolos), mineração (revestimento de peças e dutos),
setor ferroviário e setor petrolífero.
O desenvolvimento de projetos é destacado pela Recompur Indústria
e Comércio (Barueri, SP) como uma das principais vantagens. “Basta
que o cliente faça o pedido e apresente as características
de uso para conseguirmos atender às especificações”,
afirma Fernando Bergoudian, gerente geral da empresa, que está
no mercado há 15 anos e acompanha a evolução dos
elastômeros. Segundo Bergoudian, é comum oferecer consultoria
ao cliente para fornecer o elastômero nas especificações
mais indicadas para a peça que vai ser produzida e sua aplicação.
“A aplicação do elastômero é solução
até em segurança do trabalho, cada vez mais exigida no Brasil”,
revela Thais Dozzi Tezza, gerente de vendas da Hausthene Produtos Técnicos
de PU (Santo André, SP). A empresa fornece lençóis
de elastômero como forração de bancadas de inox, onde
se despejam caixas de peças metálicas para seleção
em linhas de produção. Esse atrito produz barulho excessivo,
que o PU se encarrega de abafar. “O lençol amortece o impacto
das peças metálicas e, acompanhado do uso de protetor auricular,
é a alternativa para reduzir problemas de audição”,
diz. Tezza esclarece que muitas peças de engrenagens de máquinas
são feitas ou revestidas em PU para diminuir a emissão de
ruídos. A Hausthene produz lençóis em espessuras
que vão de 1 mm a 15 mm e até 3 m de comprimento, além
de processar elastômeros para todos os
tipos de aplicações, especialmente peças técnicas.
Quanto ao suporte e desenvolvimento de produto, a Hausthene reconhece
o procedimento como um diferencial. “Os clientes nos procuram, e
vice-versa, para o desenvolvimento de aplicações onde
não é utilizado o PU”, diz Tezza. “O cliente,
em alguns casos, não tem muita clareza do projeto, mas sabe que
quer desenvolver em poliuretano.”
Mineração
e siderurgia
Um exemplo prático de que o elastômero de PU chegou para
ficar é a trajetória da Comercial e Industrial Petropasy
(Barueri, SP), que há 40 anos era processadora de borracha e que,
há 20 anos, com a entrada do poliuretano no mercado, mudou de segmento.
A empresa identificou como alvo de grande consumo do produto as mineradoras,
siderúrgicas e metalúrgicas, além de ferrovias. A
partir daí, direcionou investimentos para oferecer tecnologia e
suporte técnico, participando da transição para uma
nova era, a do poliuretano. Grandes dutos de mineradoras, antes confeccionados
em aço, passaram a usar reforços e revestimentos em elastômeros
(foto abaixo) e evitaram as paradas para manutenção, que
comprometiam o processo desde a coleta de materiais até o envio
do minério. “Alguns componentes, que sempre davam problema,
substituídos pelo poliuretano geram uma série de benefícios”,
afirma Sidnei Cabral, gerente técnico da Petropasy. “O mercado,
que antes era voltado para custo, hoje privilegia o custo-benefício.
Uma peça chega a passar um ano inteiro sem precisar ser trocada”,
afirma Cabral. É possível também, acompanhando o
desgaste da peça, realizar a manutenção antes do
rompimento, evitando conseqüências indesejáveis.
A Petropasy mantém um laboratório de desenvolvimento do
produto e apresentará, ainda este ano, um spray de PU, incrementará
sua linha de pré-polímeros com a caprolactona, lançará
formulação de materiais atóxicos e um poliuretano
com maior resistência térmica, resistindo a até 150º
C.
Calçados
A indústria de calçados é outro segmento que descobriu
o elastômero, usando cepos de várias medidas. A Perk Plast
Comercial e Industrial (Diadema, SP) é uma dessas empresas. O maquinário,
que antes utilizava polipropileno e sofria com a liberação
de resíduos e danificação das facas, encontrou no
PU uma alternativa de custo-benefício. “A elasticidade e
o efeito memória do elastômero nos cepos de PU não
interferem no processo do cliente, que ainda tem o recurso da usinagem,
aproveitando a peça por mais algum tempo”, afirma Ricardo
Pellizer, diretor industrial da Perk Plast.
Há 10 anos no mercado, a Perk Plast começou como fornecedora
de semi-acabados para revendas e hoje atua em quase todos os segmentos
industriais do poliuretano. Com marketing centrado na satisfação
do cliente, segundo Gildásio R. Cordeiro, diretor comercial da
empresa, a Perk Plast oferece amostras do material aos clientes, para
que eles próprios avaliem o trabalho. “Atuamos no sentido
de mostrar a peça conforme a especificação. Nesse
sentido, sugerimos opções ainda mais apropriadas, informando
as vantagens e desvantagens de cada provável escolha”, acrescenta.
Propriedades mecânicas típicas
de elastômeros de PU
Ao
se trabalhar com elastômeros de poliuretano, deve-se conhecer a
aplicação a que a peça se destina. Tendo essas informações,
pode-se adaptar as propriedades do elastômero ao uso. Isso significa
o envolvimento dos transformadores com desenvolvimento de produto, embora
muitos pedidos apareçam com características previamente
determinadas. A tabela ao lado mostra a ampla gama de durezas aplicada
a elastômeros de poliuretano classificadas por processo de produção.
Note-se que, para além desses processos, existe também a
possibilidade de usinagem das peças, ideal para desenvolver protótipos
e para produção em pequena escala.
Produção e Automatização
Diversos fatores podem contribuir para a produção de elastômeros
com problemas de qualidade. Alguns desses fatores são: uso de equipamentos
inadequados, que não permitem alcançar homogeneidade de
mistura e temperatura certa do tratamento; e formação de
bolhas de ar na mistura, o que pode colocar a perder todo o material processado,
sem tempo para correções ou eventual aproveitamento do material.
Pedro Vieira Neto, diretor comercial da Prorevest Revestimentos (São
Caetano do Sul, SP), concorda quanto à importância dos equipamentos.
“Para conseguir o resultado satisfatório em usinagem e montagem
de componentes, a empresa tem que dispor de máquinas operatrizes
de primeira linha como tornos e fresas, entre outras”, afirma Vieira
Neto.
Mas outros problemas, de ordem comercial, também afetam a produção
de elastômeros. “A eficiência dos processadores esbarra
nos altos impostos para automatização da produção”,
diz Roberto Minoru Imai, supervisor de vendas da Crompton (São
Paulo, SP), fabricante de pré-polímeros e aditivos para
produção de elastômeros de poliuretano. “Somente
as grandes empresas conseguem acompanhar a evolução dos
elastômeros em nível internacional”, afirma. “Atualmente,
produzir elastômeros com qualidade e escala exige automatização
e cuidadosas condições de produção”.
Segundo Imai, o aumento do consumo do poliuretano nos últimos dez
anos tem provocado queda no preço do material, o que, se por um
lado possibilitou o surgimento de vários pequenos processadores,
por outro lado trouxe à tona alguns problemas de assistência
técnica. “Alguns transformadores não têm condições
de prestar a consultoria ideal ao usuário, o que permite tirar
o máximo da versatilidade do produto”, diz.
Outro problema constatado por Imai, da Crompton, diz respeito à
conscientização do usuário final quanto à
necessidade de encarar os elastômeros sob o ponto de vista da relação
custo-benefício. “O processador tende a considerar em, primeiro
lugar, quanto será necessário investir, esquecendo-se do
resultado final estipulado”, afirma Imai. Graças a isso,
segundo Imai, o mercado acaba se dividindo entre PU de alta performance,
mais caro, e PU mais barato e, menos resistente. “A olho nu, toda
peça é igual”.
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